O Jinjiang Group, contratado pela gigante chinesa de veículos elétricos BYD, veio a público na quinta-feira para contestar as alegações feitas por autoridades brasileiras que descrevem suas condições de trabalho como “análogas à escravidão”. Em uma tentativa de esclarecer a situação, a empresa afirmou que a interpretação de seus funcionários como “escravizados” é inconsistente com os fatos e decorre de mal-entendidos durante as traduções.

Na quarta-feira, as autoridades trabalhistas brasileiras informaram que 163 cidadãos chineses foram encontrados trabalhando sob condições extremamente precárias em um canteiro de obras para uma fábrica da BYD, localizada no estado da Bahia. Em resposta, a BYD anunciou que cortou laços com a empresa que contratou os trabalhadores e manifestou sua disposição de cooperar com as autoridades locais para resolver a situação de forma adequada.

O Jinjiang Group, em sua posição oficial postada em sua conta no Weibo, expressou sua indignação: “Ser rotulado injustamente como ‘escravizados’ fez com que nossos funcionários sentissem que sua dignidade foi insultada e seus direitos humanos violados, afetando gravemente a honra do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos”. Essa declaração foi rapidamente compartilhada por Li Yunfei, gerente geral de branding e relações públicas da BYD, que também denunciou ações de “forças estrangeiras” e de parte da mídia chinesa por tentativas de “manchar deliberadamente as marcas chinesas e o país, minando as relações entre a China e o Brasil”.

Uma representante da BYD direcionou a equipe da Reuters para o post de Li no Weibo quando questionada sobre os comentários do Jinjiang e a situação. A empresa Jinjiang não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários da Reuters, gerando ainda mais incertezas a respeito das condições de trabalho em um momento em que, segundo informações, está em andamento um processo investigativo por parte das autoridades brasileiras.

Na mesma quarta-feira, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, comunicou que a embaixada da China no Brasil estava em contato com autoridades brasileiras para esclarecer a situação e encontrar uma solução adequada para o assunto, demonstrando a preocupação do governo chinês com o bem-estar de seus cidadãos em solo brasileiro.

A BYD está investindo fortemente na construção dessa nova fábrica, que terá uma capacidade anual de produção de 150.000 veículos, no que representa a maior operação da companhia fora da China. A empresa pretende iniciar a produção em 2024 ou no início de 2025, conforme estabelecido em seus planos de expansão no mercado brasileiro.

Em meio ao desenrolar dessa controvérsia, o Brasil se prepara para aumentar as tarifas sobre carros elétricos importados, que devem subir para 35% em julho de 2026, em comparação com os atuais 18%. Essa alteração na política tarifária reflete as intenções do governo brasileiro de fomentar a produção local de veículos elétricos e estimular investimentos estrangeiros.

O Jinjiang Group enfatizou ainda que as dificuldades em comunicação e as diferenças culturais contribuíram para a má interpretação da situação. A empresa divulgou um vídeo onde um grupo de trabalhadores chineses se reuniu em frente às câmeras, com um deles lendo uma carta que, segundo o Jinjiang, foi assinada em conjunto pelos trabalhadores.

Na carta, por exemplo, 107 trabalhadores confirmaram que entregaram seus passaportes à empresa para ajudarem no processo de solicitação de um certificado de identificação temporário no Brasil. A afirmação contrasta com as declarações dos inspetores trabalhistas brasileiros, que alegaram que os passaportes dos trabalhadores estavam retidos pela empresa, levantando questões sobre a legalidade e as práticas trabalhistas envolvidas.

“Estamos muito felizes por ter vindo a Camaçari para trabalhar”, afirmou um trabalhador chinês não identificado no vídeo. Ele continuou, “temos cumprido com as leis e regulamentos, trabalhando arduamente durante este período com a esperança de que a construção do maior projeto de veículos de nova energia no Brasil possa ser concluída o mais rápido possível”.

Novos carros, entre eles novos veículos elétricos construídos na China pela empresa BYD, são vistos estacionados no porto de Zeebrugge, Bélgica, 24 de outubro de 2024.

Novos carros, entre eles novos veículos elétricos construídos na China pela empresa BYD, são vistos estacionados no porto de Zeebrugge, Bélgica, 24 de outubro de 2024. — Yves Herman/Reuters.

A situação envolvendo o Jinjiang Group e a BYD ocorre em um momento crítico para o setor de veículos elétricos, que continua a ganhar destaque no Brasil e no mundo. A resposta da empresa chinesa às alegações e as ações das autoridades brasileiras poderão ter implicações significativas tanto nas operações da BYD quanto no clima de investimentos chineses no Brasil, uma relação que já apresenta desafios diante de um cenário global em constante mudança. Como as questões de direitos trabalhistas continuam a ser um tema quente, a expectativa é que a situação evolua nas próximas semanas, à medida que ambas as partes buscam uma resolução pacífica e construtiva.

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