A recente disputa legal entre a empresa de drones DJI e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD) iluminou as fricções crescentes entre a China e os Estados Unidos, especialmente nas indústrias de tecnologia e defesa. Na última sexta-feira, a DJI protocolou uma ação judicial contra o DoD, contestando sua inclusão em uma lista que considera a empresa uma “companhia militar chinesa.” A medida surge após mais de dezesseis meses de tentativas infrutíferas de diálogo da empresa com o DoD, levando-a à conclusão de que a única alternativa restante seria buscar alívio no tribunal federal. Essa ação não apenas reflete a frustração da DJI, mas também aponta para as complexas dinâmicas de negócios entre países em meio a um clima de desconfiança tecnológica.
Repercussões e alegações sobre a relação da empresa com o governo chinês
Em sua declaração, um porta-voz da DJI enfatizou categoricamente que a empresa “não é propriedade nem está sob controle do exército chinês,” contrapondo-se às alegações que vinculam suas operações ao setor militar. O porta-voz ressaltou que o próprio Departamento de Defesa reconhece que a DJI fabrica drones de uso comercial e consumidor, e não drones militares. A inclusão da DJI na lista do DoD ocorreu em 2022, um desdobramento de ações semelhantes de outras agências governamentais dos EUA. Em 2020, a DJI foi adicionada à Entidade List do Departamento de Comércio, o que essencialmente bloqueou as empresas americanas de comercializar com a fabricante chinesa. No ano seguinte, a empresa também foi inserida na lista de bloqueio de investimentos do Departamento do Tesouro, sob a alegação de envolvimento em atividades de vigilância contra muçulmanos uigures. A DJI, por sua vez, afirmou que não tinha “nada a ver com o tratamento de uigures em Xinjiang.”
No contexto do processo judicial, a DJI relatou que, como resultado de sua designação, a empresa sofreu “dano financeiro e reputacional contínuo, incluindo perda de negócios.” Além disso, funcionários da empresa enfrentaram estigmatização e assédio. O processo alega que o relatório do DoD que justifica a inclusão da DJI na lista “contém um conjunto desordenado de afirmações que são completamente inadequadas para embasar a designação da DJI.” Entre as alegações estão deficiências que incluem a aplicação do padrão legal incorreto, confusão entre indivíduos com nomes comuns chineses e a utilização de fatos desatualizados e conexões tenuais que não conseguem estabelecer que a DJI seja, de fato, uma “companhia militar chinesa.”
Outro ponto-chave abordado na ação é a estrutura acionária da empresa, onde seu fundador e CEO, Frank Wang, juntamente a três investidores iniciais, detêm coletivamente 99% dos direitos de voto e aproximadamente 87,4% das ações da empresa. Essa informação é crucial, uma vez que demonstra a continuidade do controle da DJI em suas operações e decisões estratégicas, o que contradiz a percepção de envolvimento com forças militares ou governamentais.
Desafios e o futuro da DJI frente à pressão internacional
O Departamento de Defesa dos Estados Unidos ainda não se manifestou oficialmente sobre a ação judicial, e a falta de resposta imediata levanta questões sobre a adequação de suas alegações e os fundamentos legais que respaldam a inclusão da DJI em uma lista tão crítica. Essa situação não é um caso isolado, mas parte de um padrão mais amplo de crescente vigilância e restrições enfrentadas por empresas de tecnologia, especialmente aquelas com vínculos com a China. O clima global de desconfiança tem levado muitas nações, incluindo os EUA, a reavaliar as relações comerciais e a segurança nacional, particularmente em setores sensíveis como o da tecnologia e da defesa, onde inovações e dados são fundamentais.
Por fim, a situação da DJI ilustra não apenas os desafios que a empresa enfrenta, mas também as tensões mais amplas que perpassam as relações entre a China e os EUA. A batalha jurídica que se desenrola poderá definir não apenas o futuro da empresa, mas também ter implicações significativas para a indústria de tecnologia global, especialmente nas áreas que envolvem potenciais utilizações militares e de vigilância. Enquanto os desdobramentos dessa ação judicial se tornam cada vez mais evidentes, fica claro que a intersecção entre tecnologia e defesa continuará a ser uma arena de intenso debate e conflito internacional nos próximos anos.