Estudo histórico tornou-se referência em discussão sobre ética e psicologia humana
No dia 14 de outubro de 2023, o renomado psicólogo Philip G. Zimbardo faleceu em sua residência em São Francisco, aos 91 anos. A Universidade de Stanford confirmou a triste notícia, embora não tenha divulgado a causa da morte. Zimbardo é amplamente conhecido por ter conduzido o controverso “Stanford Prison Experiment”, realizado em 1971, que buscava entender as experiências psicológicas relacionadas à prisão e à dinâmica de poder entre prisioneiros e guardas. O experimento é frequentemente citado como um dos mais infames na história da psicologia, devido aos seus desdobramentos alarmantes e a discussão que gerou sobre a ética na pesquisa com seres humanos.
A experiência foi realizada em um cenário simulado, criado no porão de um edifício da universidade, no qual um grupo de estudantes universitários do sexo masculino foi recrutado para interpretar papéis de prisioneiros e guardas. Inicialmente planejado para durar duas semanas, o estudo foi interrompido após apenas seis dias, devido ao comportamento agressivo e abusivo dos “guardas”. Zimbardo assumiu um papel ativo como superintendente, o que gerou críticas e questionamentos sobre sua neutralidade como pesquisador. Os alunos que desempenhavam o papel de prisioneiros começaram a mostrar sinais de angústia psicológica, depressão e raiva, resultando em contatos de pais preocupados, que pediam informações sobre como retirar seus filhos da situação de estresse em que se encontravam.
As dinâmicas observadas naquele ambiente se desdobraram de tal forma que os “guardas” assumiram comportamentos sádicos, enquanto os “prisioneiros” passaram a se sentir cada vez mais reclusos e impotentes. O experimento, originalmente concebido para ilustrar a natureza do poder e da submissão, rapidamente se transformou em um estudo cruento sobre a capacidade do ser humano de exercer controle sobre outro de maneira desumanizadora. A gravidade das situações vividas pelos participantes levou Zimbardo a encerrar o estudo, após a intervenção de uma colega recém-doutorada que ficou horrorizada com o que presenciou. Em um trabalho posterior, Zimbardo refletiu sobre os resultados, afirmando que “o desfecho de nosso estudo foi chocante e inesperado”, ressaltando a necessidade de uma reflexão aprofundada sobre a ética na pesquisa psicológica.
O impacto do experimento perdura até os dias atuais. O “Stanford Prison Experiment” é amplamente estudado em cursos de psicologia, usado para discutir temas como a natureza do mal, a influência do ambiente nas ações humanas, e as implicações éticas da pesquisa científica. Além de seu trabalho sobre o experimento da prisão, Zimbardo dedicou sua carreira ao estudo de temas diversos como persuasão, hipnose, seitas, timidez, perspectiva temporal, altruísmo e compaixão, consolidando sua posição como um dos psicólogos mais influentes da sua geração. O legado de suas investigações continua a fomentar discussões acadêmicas e sociais sobre o comportamento humano e as forças que moldam a interação entre indivíduos.
Philip G. Zimbardo deixa sua esposa, Christina Maslach Zimbardo, três filhos e quatro netos, e seu legado como um provocador de debates e reflexões sobre a psicologia humana e a ética nas pesquisas psicológicas será perpetuado. Seu falecimento marca o fim de uma era de investigações que desafiaram a compreensão das relações de poder na sociedade e o que significa tratar outros com dignidade e respeito. O campo da psicologia, sem dúvida, sentirá a ausência de uma figura que promoveu um olhar crítico sobre a condição humana e a ética profissional.