A OpenAI, uma das empresas mais proeminentes no campo da inteligência artificial, fez um anúncio significativo a respeito de sua trajetória como entidade corporativa. Em uma postagem em seu blog publicada na última sexta-feira, a companhia declarou que precisa evoluir sua estrutura corporativa para avançar em sua missão de assegurar que a inteligência artificial geral (AGI) — uma inteligência artificial que possa executar a maioria das tarefas que um ser humano consegue realizar — beneficie toda a humanidade. Este movimento sinaliza uma transição da atual estrutura de lucro limitado, que é controlada por uma entidade sem fins lucrativos, para uma Corporação de Benefício Público (PBC) em Delaware.
A OpenAI é conhecida por sua abordagem inovadora em relação à pesquisa em inteligência artificial, mas seu crescimento também levantou questões sobre a melhor maneira de equilibrar interesses financeiros e sociais. Até agora, a empresa tinha um modelo onde lucros eram limitados para os investidores, mas esta nova proposta promete uma reestruturação mais abrangente. Na nova PBC, as ações comuns serão emitidas e o interesse público de servir à missão da OpenAI será destacado como prioridade central.
Os detalhes sobre esse movimento não são novos, pois, no final de dezembro, o The New York Times noticiou que a OpenAI estava em conversas para compensar sua entidade sem fins lucrativos com bilhões de dólares em troca da cessão de controle. Entretanto, esta é a primeira vez que a OpenAI delineia suas intenções publicamente em um memorando, demonstrando uma nova transparência em seus planos.
Em sua comunicação, a OpenAI enfatizou que, ao alcançarmos 2025, a empresa precisará se transformar de um laboratório e startup em uma companhia duradoura, capaz de competir em um ambiente que está se moldando para a economia do século XXI. “O mundo está se movendo para construir uma nova infraestrutura de energia, uso da terra, chips, data centers e modelos de IA, e buscamos evoluir para dar o próximo passo em nossa missão”, afirmaram os representantes da OpenAI. A criação da PBC, segundo a companhia, permitirá um equilíbrio entre os interesses dos acionistas, stakeholders e do interesse público, facilitando a captação de capital em termos convencionais.
As implicações desta transição são vastas, e a OpenAI acredita que sua entidade sem fins lucrativos se tornará uma das mais bem financiadas da história. Atualmente, com um capital total levantado em torno de 17,9 bilhões de dólares desde sua fundação, a OpenAI espera perder 5 bilhões de dólares este ano, segundo informações da CNBC. A nova configuração da PBC deve ser completada nos próximos dois anos, conforme exigência do último ciclo de financiamento.
Entretanto, a jornada rumo a essa nova estrutura não será simples. Elon Musk, cofundador da OpenAI, entrou com uma ação para interromper a transição para o lucro, alegando que a empresa teria abandonado sua missão original de filantropia. Musk acusou a OpenAI de prejudicar sua própria empresa de IA, xAI, fazendo com que investidores se abstivessem de financiá-la. Por outro lado, a OpenAI classificou as reclamações de Musk como “infundadas” e uma demonstração de ressentimento.
Adicionalmente, a Meta, controladora do Facebook e rival da OpenAI em IA, também está apoiando esforços para bloquear a conversão da empresa. Em uma carta enviada ao procurador geral da Califórnia, Rob Bonta, a Meta argumentou que permitir essa mudança teria “implicações sísmicas para o Vale do Silício”. O argumento de Meta se baseia na ideia de que, se o novo modelo de negócios da OpenAI for considerado legítimo, investidores de entidades sem fins lucrativos teriam os mesmos benefícios financeiros que aqueles que investem em empresas com fins lucrativos, ao mesmo tempo que desfrutariam de deduções fiscais concedidas pelo governo. Essa questão sobre a equidade do modelo de negócios revela uma tensão crescente no setor de tecnologia e IA.
Competidores da OpenAI, como xAI e Anthropic, atualmente operam como PBCs, mas não possuem a componente sem fins lucrativos que a OpenAI planeja manter. Esse modelo híbrido pode oferecer uma solução interessante para a complexidade de atender tanto aos interesses corporativos quanto às obrigações sociais.
Além dos desafios institucionais e legais, a OpenAI ainda lida com o fluxo contínuo de talentos qualificados que deixam a empresa por preocupações de que a companhia esteja priorizando produtos comerciais em detrimento da segurança. Um ex-funcionário, Carroll Wainwright, destacou em um post que a OpenAI, embora estruturada como uma entidade sem fins lucrativos, agiu como uma empresa de lucro e deve ser vista com cautela em suas promessas de agir nobelamente no futuro.
Diante de todas essas reviravoltas, o futuro da OpenAI promete ser complexo e revelador, e as ações que a empresa decidir tomar nas próximas semanas e meses certamente terão grandes repercussões na indústria de inteligência artificial. Restará ao público e aos investidores observar atentamente como essa jornada se desenrola e quais serão as repercussões dessa nova estrutura proposta, tanto para a OpenAI quanto para o setor de tecnologia em geral.