Recentemente, a organização sem fins lucrativos Encode, que co-patrocinou a malfadada legislação sobre segurança em inteligência artificial SB 1047 na Califórnia, manifestou sua intenção de intervir legalmente em apoio ao pedido de Elon Musk, que busca interromper a transição da OpenAI para um modelo de lucro. O pedido foi formalizado através de um amicus brief submetido na última sexta-feira ao Tribunal Distrital dos EUA para o Distrito Norte da Califórnia.
No documento proposto, os advogados da Encode argumentaram que a transformação da OpenAI em uma entidade lucrativa “minaria” a missão da empresa de “desenvolver e implantar tecnologias transformadoras de maneira segura e benéfica ao público”. Este ponto de vista indica que a transição da OpenAI poderia ter repercussões significativas, não apenas para a própria organização, mas para todo o ecossistema de inteligência artificial como um todo.
No parecer, a Encode expressou preocupações sobre o impacto que a mudança teria no futuro da inteligência artificial, afirmando que “OpenAI e seu CEO, Sam Altman, alegam estar desenvolvendo tecnologia que transforma a sociedade, e essas alegações devem ser levadas a sério”. A carta foi enfática ao afirmar que, caso o mundo esteja realmente à beira de uma nova era de inteligência artificial geral (AGI), é de interesse público que tal tecnologia seja controlada por uma entidade sem fins lucrativos legalmente vinculada a priorizar segurança e benefícios públicos, em vez de uma organização focada em gerar retornos financeiros para um pequeno seleto de investidores privilegiados.
Fundada em 2015 como um laboratório de pesquisa sem fins lucrativos, a OpenAI rapidamente se viu em uma posição onde os experimentos tornaram-se cada vez mais dispendiosos. Isso levou a organização a adotar uma nova estrutura, envolvendo sequestrar investimentos externos, incluindo a renomada Microsoft. Atualmente, a OpenAI opera como uma organização com fins lucrativos sob o controle de uma entidade sem fins lucrativos, implementando uma estrutura de “lucro limitado” para seus investidores e funcionários. Recentemente, a empresa anunciou planos para transitar de sua atual estrutura lucrativa para uma Corporação de Benefício Público (PBC) em Delaware, criando ações ordinárias e incorporando a missão da OpenAI como seu interesse público.
Ainda em novembro, Elon Musk protocolou um pedido de injunção preliminar para interromper a transição da OpenAI para uma entidade com fins lucrativos. Musk argumentou que a OpenAI estaria abandonando sua missão filantrópica original, que visava disponibilizar os frutos de sua pesquisa em IA para todos e, ao mesmo tempo, estaria privando concorrentes, incluindo sua própria startup de IA, a xAI, de capital por meios anticompetitivos. Em resposta, a OpenAI descartou as acusações de Musk como “sem fundamento” e uma mera questão de rancor.
A situação da OpenAI também atraiu a atenção de gigantes do setor, como o Meta, empresa-mãe do Facebook. O Meta se juntou aos esforços para bloquear a conversão da OpenAI e, em dezembro, enviou uma carta ao procurador geral da Califórnia, Rob Bonta, alegando que permitir essa mudança teria “implicações sísmicas para o Vale do Silício”. Isso sugere que a batalha sobre a transição da OpenAI não é apenas uma questão isolada, mas possui repercussões mais amplas para o campo da IA, assim como para toda a região do Vale do Silício, tradicionalmente um dos maiores impulsionadores da inovação tecnológica global.
Os advogados da Encode destacaram que os planos da OpenAI para transferir o controle de suas operações para uma PBC “converteriam uma organização vinculada por lei a garantir a segurança da IA avançada em uma que estaria legalmente obrigada a ‘balancear’ sua consideração de qualquer benefício público em relação aos ‘interesses pecuniários de seus acionistas'”.
Por fim, o texto proposto enfatiza que a OpenAI, enquanto organização sem fins lucrativos, já se comprometeu a não competir com qualquer “projeto alinhado a valores e focado na segurança” que esteja próximo de construir AGI antes dela. Contudo, a OpenAI com fins lucrativos teria um incentivo muito menor para manter esse compromisso. O documento também sugere que o conselho da OpenAI sem fins lucrativos não terá mais a capacidade de cancelar os direitos de equity dos investidores se necessário para a segurança uma vez que a reestruturação da empresa seja concluída.
Na conclusão do parecer, destaca-se que “o dever fiduciário que a OpenAI alega ter para com a humanidade evaporaria, uma vez que a lei de Delaware é clara ao afirmar que os diretores de uma PBC não têm dever para com o público”. O documento finaliza alertando que “o interesse público seria prejudicado por uma organização focada na segurança e restrita por sua missão ao abrir mão do controle sobre algo tão transformador a qualquer preço para uma entidade lucrativa sem compromisso legalmente vinculativo com a segurança”. Assim, a controvérsia envolvendo a OpenAI e sua transição para fins lucrativos continua a ser um tema de crítica e debate entre stakeholders do setor de tecnologia.
Para mais informações sobre o impacto da inteligência artificial na sociedade, visite Brookings Institution.