Com a morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, muitos israelenses percebem uma janela de oportunidade para a recuperação dos reféns ainda mantidos em Gaza, e estão tornando suas vozes ouvidas em um clamor crescente por ação governamental. Nas últimas semanas, grandes multidões de manifestantes têm se reunido em várias cidades de Israel, exigindo que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo priorizem o retorno dos reféns, algo que acreditam não ter sido o foco até agora. A insatisfação em relação ao tratamento da questão pelos líderes israelenses é palpável, refletindo um sentimento generalizado entre a população de que a vida de civis mantém-se em jogo e, portanto, deve ser tratada com urgência.
Sinwar, reconhecido por suas posturas rígidas e resistência a qualquer tipo de negociação com Israel, foi um dos principais impedimentos para um acordo de cessar-fogo, conforme destacado por mediadores dos Estados Unidos, que se empenharam no diálogo em Cairo. O seu falecimento surge em um momento crítico, levantando a possibilidade de que Israel possa finalmente buscar um acordo para a paz. Contudo, o caminho para esse objetivo depende muito da resposta de Netanyahu, que tem se visto pressionado tanto por seus aliados de extrema direita, que se opõem a qualquer tipo de entendimento com o Hamas, quanto por apoiadores ocidentais, especialmente os Estados Unidos, que demandam ações que contribuam para o fim do conflito em Gaza.
O cenário de protestos intensificados é reforçado pelas vozes de ativistas que frequentemente se opõem ao governo. Eran Nissan, um desses ativistas, que tem participado de manifestações quase semanais nos últimos meses, esteve presente em uma das concentrações em Tel Aviv e expressou sua crença de que uma maioria sólida na sociedade israelense apoia uma negociação. Ele se referiu ao acordo que trouxe de volta 105 reféns durante uma pausa de uma semana em novembro, evidenciando que a vontade do povo é um sinal claro de que Netanyahu deve reconsiderar sua estratégia. Com 101 pessoas ainda sob o controle do Hamas, e com a possibilidade de que um terço delas já esteja morto, a urgência da situação se intensifica.
No entanto, Nissan também levantou a preocupação de que o governo de Netanyahu possa estar se beneficiando da continuidade do conflito. Isso se deve ao medo de que, com o fim da guerra, uma série de perguntas sobre a omissão do governo em relação às falhas de segurança que levaram aos ataques de 7 de outubro será considerada, resultando em uma possível investigação nacional e chamadas por novas eleições. A situação atual poderia, portanto, ser utilizada como forma de desviar a atenção de possíveis consequências políticas negativas.
Enquanto isso, Netanyahu não delineou uma estratégia clara sobre como aproveitar a morte de Sinwar, limitando-se a afirmar que Israel continuará a lutar “até a vitória”. Para algumas famílias, incluindo a de Yoni Levy, um pai de uma refém sequestrada, o único resultado aceitável seria a volta segura de seus entes queridos. A situação de sua filha, Naama, que foi capturada enquanto vigiava a Faixa de Gaza, simboliza a brutalidade do ataque que ocorreu naquele dia fatídico. Yoni Levy argumentou que a morte de Sinwar representa uma oportunidade para o governo agir e sugere que agora seria o melhor momento para negociar, mesmo que isso signifique interromper temporariamente as hostilidades e liberar alguns prisioneiros, algo que antes era visto como inaceitável.
A determinação da comunidade afetada se faz presente. Na reunião em Tel Aviv, mulheres que conheciam Naama ou que desempenhavam papéis militares semelhantes se uniram em protesto, vestidas como ela no dia do ataque e utilizando tinta vermelha para simbolizar os ferimentos que ela sofreu. A organizadora do evento, Amit Frid, expressou sua indignação ao afirmar que Naama deveria já estar em casa, enfatizando a necessidade de ação imediata e decisiva em resposta à crise.
Com a confirmação da morte de Sinwar, o Hamas reiterou sua posição de não libertar os reféns restantes até que Israel cesse as hostilidades, retire suas tropas e libere prisioneiros palestinos. Netanyahu, por sua vez, também reforçou sua disposição de continuar lutando. Porém, em um possível sinal de abertura para negociações, ele fez uma oferta direta a quem detivesse reféns em Gaza, prometendo que aqueles que depusessem suas armas e retornassem os reféns seriam poupados. Essa combinação de pressão interna e externa, juntamente com a necessidade de identificar rapidamente um novo líder dentro do Hamas, torna o cenário ainda mais tenso, com especialistas alertando que a janela de oportunidade pode ser estreita, especialmente com a possibilidade de que o grupo encontre um sucessor para Sinwar rapidamente.
Além disso, a situação dos reféns continua a evoluir, com relatos de que alguns deles podem não estar sob a custódia do Hamas, sendo mantidos por grupos ou indivíduos não afiliados. O exército israelense começou a distribuir folhetos em Gaza com imagens de Sinwar, prometendo segurança àqueles que ajudarem a levar os reféns para casa. A mensagem é clara: “Sinwar destruiu suas vidas… Hamas não governará mais Gaza. Finalmente, a oportunidade chegou para você se libertar de sua tirania”. A lendária luta por paz e segurança entre as duas partes permanece em um momento crítico que, se não for devidamente abordado, poderá resultar em mais tragédias.