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As forças israelenses realizaram uma operação que culminou na prisão do diretor do hospital Kamal Adwan e de numerosos membros da equipe médica, em um ataque ao que é considerado o último grande estabelecimento de saúde funcional no norte da Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde local. Este incidente marca mais um ponto crítico na situação já precária da assistência médica na região, que enfrenta uma grave escassez de recursos e infraestrutura.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) expressou sua preocupação nessa situação, afirmando que a ação militar contra o hospital Kamal Adwan, que já vinha sob intensa pressão israelense nos últimos meses, deixou a instalação fora de operação. Em alerta emitido na sexta-feira, a OMS indicou que alguns pacientes, entre eles aqueles dependentes de ventiladores, ainda permaneciam dentro da unidade, agravando a situação de emergência em meio ao colapso do sistema de saúde na região.
Ainda não está claro o paradeiro do Dr. Abu Safiya, diretor do Kamal Adwan, e de outros membros da equipe, segundo amigos e colegas que estavam preocupados com o bem-estar deles. Testemunhas oculares relataram à CNN que o Dr. Safiya foi agredido antes de ser levado pela força na sexta-feira, destacando a brutalidade que permeia a situação.
Na última sexta-feira, Dr. Safiya publicou em suas redes sociais que as forças israelenses cercavam o hospital, no que a equipe médica interpretou como uma ordem de evacuação. Vários enfermeiros relataram que tanto a equipe quanto os pacientes foram obrigados a deixar o hospital e se reunir do lado de fora, uma manobra que é considerada uma violação grave dos direitos humanos e da dignidade humana.
Ao serem reunidos do lado de fora, a equipe e os pacientes enfrentaram uma situação humilhante. Ambos os grupos, homens e mulheres, foram forçados a se despir, com testemunhos afirmando que aqueles que se recusassem a obedecer estavam sujeitos a agressões físicas. A enfermeira Shorouq Saleh Al-Rantisi descreveu a cena como brutal e desumana, enfatizando a gravidade da desumanização vivida por civis e profissionais de saúde durante as operações militares.
Após horas de contenção, os detidos foram forçados a se deslocar para o Hospital Indonésio nas proximidades. Contudo, a OMS descreveu esta nova instalação como “destruída e não funcional,” o que alerta para as condições limitadas em que os cuidados médicos podiam ser oferecidos a uma população já debilitada.
Relatos de enfermeiros indicam que as forças israelenses também realizaram interrogatórios com a equipe, detendo indivíduos um a um em um caminhão fora do hospital, infringindo ainda mais seus direitos e os procedimentos legais estabelecidos.
Uma enfermeira declarou que todos os jovens presentes no hospital foram detidos, incluindo seu esposo, destacando o impacto humano dessa operação militar sobre famílias e comunidades.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que as operações eram “alvos selecionados” baseados em informações sobre a presença de “infraestrutura e operativos terroristas”. Porém, não apresentaram evidências que sustentem essa afirmação, o que gera dúvidas e um aumento nas tensões em uma região já profundamente dividida.
A IDF alegou ter colaborado na evacuação de pacientes e funcionários antes da operação, embora isso seja amplamente contestado pelas testemunhas presentes. A CNN novamente contatou o exército israelense para obter um comentário sobre as acusações de que homens e mulheres foram forçados a despir-se, mas as respostas continuam escassas.
Relatos de vários membros da equipe médica indicam que um grande incêndio foi iniciado. Uma enfermeira do hospital, Rawiya Al Batsh, informou à CNN que as chamas irromperam no hospital após bombardeios israelenses no prédio, com a equipe sendo forçada a usar água de uma máquina de diálise renal para combater o fogo, uma situação extremamente perigosa e surreal considerando o contexto de tensão e violência.
Infelizmente, a água utilizada para combater as chamas estava misturada com cloro e outras substâncias, o que resultou em queimaduras nas mãos e rostos da equipe médica. Além das sérias lesões, um paciente morreu durante o incêndio, refletindo as consequências devastadoras da guerra e a falta de cuidado e proteção para com os civis.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram à CNN que “houve um pequeno incêndio em um prédio vazio dentro do hospital que está sob controle,” negando quaisquer alegações de que o incêndio foi provocado por disparos da IDF. Além disso, a IDF reiterou que seus soldados “estão operando na área do hospital e não dentro dele,” levantando questões sobre a veracidade de tais declarações em meio a um cenário de incertezas e alegações contraditórias.
Uma mensagem em áudio enviada pela equipe do Kamal Adwan relatou que departamentos cirúrgicos, laboratório, manutenção e unidades de emergência foram completamente consumidos pelas chamas, uma tragédia que exemplifica a devastação que a infraestrutura de saúde em Gaza enfrenta atualmente.
A OMS salientou anteriormente que as autoridades israelenses frequentemente negaram o acesso humanitário ao Hospital Kamal Adwan e, apenas nesta semana, informaram que um pedido para implantar equipes médicas internacionais de emergência foi negado pelas autoridades israelenses, “apesar da necessidade de intervenções cirúrgicas imediatas para pacientes feridos.” Isso ressalta o quadro complexo e angustiante que envolve a assistência médica em Gaza, onde as vidas dos cidadãos estão em jogo.
Alguns pacientes foram levados para o Hospital Al Shifa na cidade de Gaza. Imagens da CNN mostram pacientes que chegaram do Hospital Kamal Adwan, incluindo mulheres, crianças e pessoas com necessidades especiais, destacando a gravidade da situação humanitária.
Um homem com necessidades especiais estava tentando relatar o que havia acontecido com ele, fazendo sinais de tiroteios e gestos indicando que havia sido agredido nos braços e no rosto. Este paciente, chamado Khaled Hazzaa, foi reconhecido por um homem próximo que se identifica como seu sobrinho, o qual mencionou que eles não se viam há 82 dias, até que o Hospital Al Shifa os contatou.
Uma mulher que conversou com a CNN no Hospital Al Shifa relatou que chegou ao Hospital Kamal Adwan com ferimentos 48 horas antes, após sua casa ser atingida em uma ataque israelense que resultou na morte de seu filho. Durante a incursão na sexta-feira, Fatmeh Al Najjar afirmou que homens e mulheres foram interrogados e, em seguida, soldados “nos levaram em veículos militares e nos deixaram no viaduto de Abu Sharekh. De lá, nos disseram para caminhar em direção ao sul.” Este testemunho ilustra a dureza da realidade vivida por baleados e traumatizados em meio a um conflito que parece interminável.
Khader Al Za’anoun da Wafa, agência de notícias oficial palestina, contribuiu para este relato.