A relação diplomática entre Israel e países europeus tem enfrentado um período sem precedentes de tensão, intensificado pela escalada dos conflitos na Faixa de Gaza e no sul do Líbano. Tal situação gerou críticas contundentes por parte de líderes europeus que buscam limitar as ações do Estado judaico e pressioná-lo a negociar um cessar-fogo. As investidas militares israelenses não apenas estão afetando as populações da região, mas também resultaram em ataques a bases de paz da ONU que abrigam tropas europeias, elevando o nível de preocupação na Europa sobre as consequências humanitárias e de segurança desse conflito. Com a situação deteriorando-se rapidamente, vários estados-membros da União Europeia, sob a liderança de figuras proeminentes como o chefe da política externa do bloco, Josep Borrell, expressaram a necessidade urgente de uma ação coordenada para restaurar a paz e a ordem na área.
A abordagem da Europa neste momento é bastante contrastante em comparação com a posição que mantinham em relação a Israel nos dias após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2022, que resultou na morte de mais de 1.200 pessoas em Israel e no sequestro de mais de 250. Desde a resposta militar israelense que desencadeou um número alarmante de vítimas – com mais de 42.000 mortos em Gaza, segundo dados do ministério da saúde da região – os governos europeus começaram a se distanciar do apoio incondicional que ofereciam a Israel, visando reavaliar suas relações comerciais e de segurança. O crescimento das críticas é reforçado pela aparente incapacidade ou falta de vontade dos Estados Unidos em exercer uma pressão significativa sobre Israel antes das eleições presidenciais que se aproximam no mês de novembro. Segundo alguns analistas, essa frustração nas capitais europeias é notória quanto à forma como a diplomacia dos EUA tem sido gerida nos últimos meses. As vozes na Europa, insatisfeitas com a resposta da administração Biden em relação ao conflito, tem ouvido cada vez mais a necessidade de um equilíbrio nas relações entre os aliados ocidentais.
Um sinal claro dessa mudança de atitude foi a carta enviada pela administração Biden ao governo israelense exigindo uma ação que melhore a situação humanitária em Gaza dentro de um prazo de 30 dias, ameaçando a violação das leis que regem a assistência militar estrangeira se não houvesse progresso. Borrell, em uma crítica velada, destacou que o tempo é crucial e que muitos civis estão morrendo a cada dia que passa sem uma resposta adequada a essa crise humanitária. A situação do Líbano e o bombardeio a bases da ONU em território libanês foram considerados um ponto crítico que acirrou o descontentamento europeu. As forças de paz da ONU, que operam no Líbano desde 1978 e incluem tropas de diversos países europeus, têm sido atacadas, resultando em ferimentos e crescentes questionamentos sobre a segurança dos soldados europeus na região.
A crise diplomática ganhou destaque quando o presidente francês, Emmanuel Macron, fez comentários contundentes sobre a origem do Estado de Israel. Durante uma reunião do gabinete, Macron enfatizou que Israel não deveria esquecer que sua criação foi estabelecida por uma decisão da ONU, aludindo à Resolução 181, que desenhou o plano de partição em 1948. Sua declaração provocou uma resposta decisiva do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que reafirmou que a criação de Israel foi o resultado de uma luta nacional e não de decisões internacionais. Ele também criticou o que chamou de decisões antissemitas da ONU ao longo das décadas, desafiando a legitimidade da organização em sua relação com Israel. Nesse ínterim, o governo britânico também começou a considerar sanções contra ministros israelenses, um passo que enfatizou a crescente tensão entre Israel e seus aliados tradicionais na Europa.
A relação entre Israel e a Europa, embora desgastada, ainda se mostra complexa. Enquanto alguns países, como Itália, se mostraram mais cautelosos em suas relações com o Estado Judaico, suspendendo novas vendas de armamentos e cancelando acordos firmados após o início do conflito, outros, incluindo a Alemanha, continuam a fornecer apoio militar. A Alemanha, com um histórico de apoio a Israel devido ao seu passado nazista, ainda considera a segurança israelense como uma prioridade de estado, comprometendo-se a continuar o fornecimento de armas. Contudo, especialistas apontam que a pressão da Europa sobre Israel pode ter repercussões profundas nas relações comerciais, uma vez que a União Europeia é o maior parceiro comercial do país, com um total aproximado de 50,7 bilhões de dólares em 2022. A probabilidade de revisão do Acordo de Associação da UE com Israel parece cada vez mais iminente, dada a forte pressão interna dentro do bloco para agir em resposta a supostas violações de direitos humanos durante os conflitos.
Ainda que a posição da Europa em relação a Israel esteja se tornando mais crítica, é essencial reconhecer que a dinâmica interna da UE é complexa, variando significativamente entre os estados-membros. Apesar do aumento das críticas e do receio de uma escalada contínua do conflito, a relação entre as partes ainda é considerada muito forte e crucial não apenas para Israel, mas também para a segurança e estabilidade na região do Oriente Médio.