Uma Aventura Intensa e Desafiadora nos Cinemas
A produção cinematográfica “Devara: Part 1” é uma experiência audiovisual ambiciosa que se impõe no horizonte do cinema indiano, particularmente na indústria de Tollywood. Lançado no dia 27 de setembro, o filme é dirigido e escrito por Koratala Siva e destaca N.T. Rama Rao Jr. em papéis duplos, o que potencializa ainda mais a sua presença no longa-metragem que dura quase três horas. Essa maratona cinematográfica, quase exaustiva, faz com que o público se pergunte se está prestes a virar uma maravilha ou uma fadiga, questionando o equilíbrio entre a grandiosidade e o aprofundamento das narrativas que envolve. Com uma história ambientada nas décadas de 1980 e 1990, a produção, no entanto, se reinventa e leva os espectadores a um universo que parece totalmente criado pela imaginação do seu criador, onde as regras são flexíveis e o enredo se desdobra em várias direções.
Enredo e Ambientação: Um Mundo Paralelo de Conflito e Heroísmo
A trama nos transporta para uma região costeira isolada, onde quatro clãs lutam anualmente em confrontos épicos, nos moldes de gladiadores, para estabelecer a supremacia de suas comunidades. O vencedor mantém o altar das armas até o próximo evento, revelando uma sociedade que cultua a guerra e desconsidera instituições como escolas ou hospitais. Essa sociedade, envolta em tradições de combate, tem como pano de fundo um mar ginja de sangue, apelidado de Laal Samundar, o “mar vermelho”. Em meio a este ambiente hostil, N.T. Rama Rao Jr. dá vida ao personagem Devara, um líder carismático e benevolente de sua tribo, que não hesita em utilizar sua força extraordinária para proteger aqueles que ama. Seu passado heroico é marcado pela famosa derrota de um tubarão na adolescência, um feito que solidificou sua reputação e serviu para construir sua imagem de super-herói.
Entretanto, a narrativa revela também a pressão sobre seu filho, Vara, que constantemente enfrenta os olhares de desaprovação e as provocações sobre sua suposta falta de habilidades de combate. O filme traz uma visão tradicional e muitas vezes ultrapassada da masculinidade, retratando homens que lutam, matam e consomem em excessos, enquanto as figuras femininas são relegadas a papéis submissos, raramente desafiando essa dinâmica opressiva. A heroína, Thangam, interpretada por Janhvi Kapoor, passa a maior parte do filme discutindo questões de matrimônio, enquanto outras personagens femininas enfrentam tragédias que reforçam sua condição de vulnerabilidade. A narrativa é, portanto, elevada por suas cenas de ação, mas também sufocada por um enredo que marginaliza suas figuras femininas.
Execução Técnica e Performances no Longa-Metragem
Em uma tentativa de trazer frescor ao gênero, “Devara: Part 1” se apresenta como um “vinho em nova garrafa”, utilizando efeitos visuais para criar um cenário muitas vezes deslumbrante, mas também hábil em se tornar artificial. A despeito das sequências de ação emocionantes, não se pode ignorar a falta de inovação nos personagens e na trama, onde as comparações com outras produções do gênero, como a franquia KGF e “Salaar: Part 1 – Ceasefire”, se tornam inevitáveis. A narrativa é construída como uma história contada entre personagens, e a incessante utilização de narrações em off durante as transições se torna uma tática recorrente para conectar parcelas da trama que não fazem sentido de forma imediata.
A primeira metade do filme é repleta de sequências de ação bem elaboradas, e uma das cenas mais memoráveis é um combate quase sem diálogos, enriquecido pela trilha sonora impactante de Anirudh Ravichander. Entretanto, a segunda metade do longa-metragem se arrasta, principalmente após a introdução de Thangam, que deveria trazer leveza à narrativa, mas que na verdade a sobrecarrega. O espectador pode se ver perdido em meio a uma teia de relacionamentos e intrigas familiares que não conseguem manter um ritmo coeso. N.T. Rama Rao Jr., conhecido por sua capacidade de dar vida a personagens virtuosos e combatentes, mantém sua performance vigorosa, e sua habilidade de dança também brilha em várias sequências. Por outro lado, Saif Ali Khan destaca-se como um adversário sofisticado, trazendo um toque de vilania ao seu papel como Bhaira, que remete a suas performances anteriores nas telas.
Uma Conclusão Ambivalente e Expectativa para a Continuação
Apesar dos traços impressionantes e da dedicação de seu elenco, “Devara: Part 1” acaba sucumbindo a derrotas narrativas, onde os personagens coadjuvantes não possuem profundidade suficiente para se destacar. Ator e diretor, anteriormente unidos em um projeto de sucesso, parecem perder o ritmo nas interações dos demais personagens, e a paleta visual artificial não contribui para a imersão do público. O filme finaliza com uma reviravolta previsível, deixando os espectadores na expectativa de que a sequência do projeto possa oferecer um desfecho mais emocionante e satisfatório. À medida que “Devara” prepara seu público para uma nova jornada, as esperanças são de que o próximo capítulo seja mais robusto em seu enredo e em suas representações, permitindo que a história realmente decole e deixe uma impressão duradoura nas telas.