Nos círculos jurídicos, a recente resolução por parte da Disney do caso de difamação que envolveu Donald Trump e a ABC News chamou a atenção pela sua maneira inusitada. O acordo de $15 milhões não foi o que surpreendeu a todos, mas sim a forma como a Disney optou por se livrar do litígio antes mesmo de avaliar suas chances em um julgamento sumário. Este procedimento é comum em litígios civis, onde o tribunal examina as provas para decidir se um julgamento é necessário.

O caso, que se referia a comentários de Trump a respeito da cobertura da ABC News feita por George Stephanopoulos, levanta questões significativas sobre os desafios enfrentados por figuras públicas no que diz respeito a casos de difamação. A sentença do juiz Lewis Kaplan deixou claro que a decisão não negava a confirmação de que Trump foi considerado culpado de abusar sexualmente da escritora E. Jean Carroll, uma citação que muitas vezes é esquecida, mas que pesa no noticiário atual.

A tradição do direito de difamação nos Estados Unidos se baseia na decisão do caso New York Times v. Sullivan de 1964, que estabelece uma proteção robusta para redes e publicações. Para que uma figura pública vença uma ação de difamação, é necessário provar que a parte acusada tinha conhecimento da falsidade da informação ou apresentava dúvidas sérias sobre sua veracidade. Essa alta barreira de entrada frequentemente resulta em casos de difamação sendo rejeitados, e é aqui que Trump poderia estar buscando uma mudança.

Em um momento de inflexão em 2016, Trump havia insinuado a possibilidade de “abrir” as leis de difamação para facilitar processos desse tipo, mas a recuperação de uma ação de difamação bem-sucedida seria um feito e tanto. Através de suas táticas legais, Trump parece cada vez mais determinado a criar um ambiente em que a mídia operaria com maior cautela, sabendo que suas ações podem resultar em repercussões legais.

Até o momento, a mais recente empreitada jurídica de Trump ocorreu em 16 de dezembro, quando ele processou a pesquisadora J. Ann Selzer e o Des Moines Register por suposta violação de leis de proteção ao consumidor de Iowa, afirmando que uma pesquisa que mostrava Kamala Harris como líder em um estado que ele venceu era uma “interferência eleitoral”. Em sua visão, o processo representa uma forma criativa de contornar as barreiras legais que normalmente cercam ações de difamação.

Em adição a isso, Trump também moveu processos contra a CBS News com base em alegações semelhantes, buscando $10 bilhões em compensação. Embora muitos legalistas possam antecipar a rejeição desses processos nos tribunais, a intenção de Trump é clara: ele deseja que o ambiente de cobertura da mídia mude, ao mesmo tempo que se arma com a capacidade de intimidar os veículos de comunicação através de ameaças legais sistemáticas.

Outras táticas de Trump incluem sua capacidade de usar alianças políticas como uma extensão de sua censura. A nova liderança na Comissão Federal de Comunicações (FCC) sob Brendan Carr já fez ameaças tolas de revogar licenças de transmissão de redes que ele considera críticas. Essa possibilidade de retaliação cria um intricado jogo de política, onde redes podem se ver compelidas a ajustar sua cobertura para evitar problemas regulatórios enquanto buscam crescimento e expansão de mercado.

Além disso, a dinâmica que permeia o mercado de fusões e aquisições é inegavelmente interessada: as emissoras agora estão mais alertas a potenciais repercussões nas aprovações de fusões e negócios se a cobertura adversa de Trump se tornar um tópico. As intenções de Carr de elevar questões de cobertura na revisão de associativas como a compra da Paramount pela Skydance adicionam um novo nível de complexidade no jogo político empresarial.

Com a aproximação da temporada eleitoral em 2024, as ações de Trump e seu olhar atento às regulamentações de mídia e suas potências implicam que a liberdade de expressão encontra obstáculos significativos à medida que as mídias enfrentam suas próprias pressões internas. Assim, a exploração das táticas de Trump não é apenas uma questão legal; é um provocador de debate em torno da integridade da mídia e da responsabilidade de suas coberturas.

Quando questionado sobre sua postura em relação à mídia, Trump comentou, “Precisamos arrumar a imprensa”. Essa afirmação ressoa profundamente em tempos em que a confiabilidade da mídia é um tópico de constante discussão e discórdia. À medida que os desafios legais e políticos evoluem, a necessidade de um ambiente livre e justo para a expressão se torna mais urgente. No entanto, quanto mais armas e táticas Trump desenvolve, mais sombria parece a paisagem para aqueles que se opõem à sua visão e abordagem em relação à imprensa.

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