A iniciativa busca transformar o panorama cultural e econômico do continente africano
Idris Elba, um dos atores mais reconhecidos de Hollywood, é amplamente conhecido por seus papéis marcantes em produções como “The Wire” e “Luther”. Neste momento, o ator britânico, que é filho de imigrantes da Serra Leoa e Gana, está direcionando sua visão transformadora para um novo palco, situado a cerca de 10.000 milhas de distância, na África. O propósito de Elba não se limita a atuar; ele deseja revitalizar a indústria de entretenimento no continente africano por meio da construção de estúdios de cinema e outras infraestruturas criativas.
A ambição de Idris Elba é vasta e inovadora. Ele planeja iniciar o desenvolvimento de estúdios de cinema na África, com Zanzibar, a ilha semi-autônoma da Tanzânia famosa por suas praias de areia branca, sendo o primeiro local escolhido. Essa ideia brotou a partir de uma conversa entre Elba e a presidenta da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos no ano anterior. A conversa resultou em promessas da construção do primeiro estúdio em Zanzibar, um passo que Elba acredita que pode representar a fundação de um centro global de entretenimento, semelhante ao que já existe em Hollywood, Nollywood na Nigéria ou Bollywood na Índia.
No mês de agosto, o governo da ilha de Zanzibar ofereceu ao ator quase 200 acres de terra para iniciar as obras. O Ministro de Investimentos de Zanzibar, Shariff Ali Shariff, anunciou com entusiasmo que “Idris Elba fará a construção de um estúdio moderno”, e até humoristicamente sugeriu batizar a nova indústria de “Zallywood” ou “Zawood”. Entretanto, o projeto de Elba vai além da mera construção de estúdios. Em suas declarações, ele enfatiza que o setor criativo africano está sub-representado no cenário global.
“Muita da imagética que gera as narrativas sobre a África não é feita por africanos”, afirmou Elba em uma conferência recente em Londres. Ele chamou a atenção para o fato de que a média de idade na África é de apenas 19 anos, destacando que esses jovens são otimistas e merecem a oportunidade de contar suas próprias histórias, questionando as representações frequentemente negativas que predominam na mídia internacional.
Além das questões culturais, há um aspecto econômico muito significativo a ser considerado. Apesar de a África representar 18% da população mundial, apenas 1% da economia criativa global está localizado no continente, um setor que, de acordo com a Goldman Sachs, deverá dobrar nos próximos cinco anos. O momento é considerado propício; um recente relatório da UNESCO indica que a indústria cinematográfica e audiovisual da África tem potencial para criar 20 milhões de empregos e adicionar 20 bilhões de dólares ao PIB do continente até 2030. Players globais, como Netflix e Disney, já estão investindo substancialmente em países como Quênia, África do Sul e Nigéria.
No entanto, Idris Elba aponta que muitos governos de economias emergentes ainda não reconheceram o potencial econômico do setor criativo. A falta de regulação e investimento, especialmente em áreas como direitos autorais e financiamento, impõe limites ao crescimento da indústria. Com isso, o ator compara o potencial de crescimento da indústria de entretenimento na África ao caso da Coreia do Sul, que entre 2017 e 2021 viu suas exportações relacionadas à cultura pop crescerem a uma taxa anual média de 13,7%, atingindo um crescimento 2,5 vezes superior ao crescimento global das exportações, contribuindo com aproximadamente 27 bilhões de dólares para a economia sul-coreana.
A Tanzânia já está buscando um modelo semelhante, ao estabelecer uma parceria com a Coreia do Sul para enviar atores africanos para treinamento em Busan. Contudo, Idris Elba reconhece que a construção de estúdios não será suficiente para provocar uma revolução no entretenimento. Ele menciona que a estruturação de uma nova indústria é um quebra-cabeça complexo, e um dos desafios é como pagar os criadores em países que possuem infraestrutura bancária limitada.
Como parte de uma iniciativa concebida para lidar com o problema dos pagamentos, Elba se uniu à Stellar, uma plataforma baseada em blockchain, para lançar a Akuna Wallet, uma carteira digital projetada para a economia criativa. Essa ferramenta permitirá que artistas, cineastas e músicos gerenciem seus pagamentos e royalties sem depender de bancos tradicionais. Por meio de transações ponto a ponto em moedas digitais, a Akuna Wallet oferece um sistema de pagamento seguro em regiões que carecem de infraestrutura financeira adequada, um aspecto especialmente relevante em um contexto onde quase 60% da população de Gana tem menos de 25 anos e muitos adultos jovens permanecem sem acesso a contas bancárias.
Um programa piloto foi lançado esta semana em parceria com o governo ganense, com o objetivo de agilizar os pagamentos para os criativos locais, potencialmente promovendo uma maior inclusão financeira na indústria. “Plataformas populares para monetizar o trabalho criativo muitas vezes exigem contas bancárias, o que exclui muitos jovens africanos”, ressaltou Elba. Ele afirma que é necessário desenvolver um modelo financeiro que permita uma criação de qualidade de forma consistente. No entanto, se os governos locais perceberem o surgimento de uma economia saudável no entretenimento, Elba acredita que isso impulsionará o crescimento da indústria. “Isso irá crescer e pode crescer”, conclui ele.