Um cenário eleitoral complexo e imprevisível se aproxima do dia da eleição
Com apenas duas semanas restantes até o dia da eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos, a incerteza sobre o resultado desta competição política nunca foi tão palpável em minha experiência como observador das disputas eleitorais. Os índices das pesquisas de opinião demonstram uma proximidade acentuada entre os candidatos, o que leva a uma multitude de possíveis resultados. De uma vitória clara da candidata Kamala Harris a uma possível vitória decisiva do ex-presidente Donald Trump, este pleito parece mais complexo do que nunca. Mais do que simplesmente uma corrida pela presidência, a eleição se revela uma luta por valores e direções políticas que afetam a vida dos cidadãos americanos, refletindo a tensão existente em diversos setores da sociedade.
A estratégia de Kamala Harris e os desafios a serem enfrentados
Para que Kamala Harris traçar um caminho seguro à vitória, ela precisará conquistar os estados que compõem o que é conhecido como a “muralha azul”, especificamente Michigan, Pennsylvania e Wisconsin. Esses três estados são fundamentais para alcançar o total de 270 votos eleitorais necessários para vencer a eleição. Harris se depara com o desafio adicional de garantir resultados positivos em outros estados em disputa no sul, como Arizona, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte. Caso ela perca nesses estados, será vital que consiga, ao menos, a vitória nos estados dos Grandes Lagos, o que pode não ser uma tarefa fácil, considerando as pesquisas de opinião que colocam os margens de votos entre os dois candidatos em menos de um ponto percentual. Se essa tendência se mantiver até o dia da eleição, será um fato inédito nos últimos 50 anos para esses estados, que nunca tiveram margens tão estreitas nas insinuações eleitorais.
Além das votações estaduais, a situação é suficientemente alarmante para aqueles que apoiam Harris, uma vez que as margens nos estados citados têm se mostrado constantemente próximas desde que a vice-presidente entrou na corrida em julho. Nem Trump nem Harris conseguiram estabelecer uma liderança clara, com diferenças de mais de cinco pontos percentuais, o que é um fenômeno também registrado nas pesquisas nacionais. Esta situação é inédita nos últimos 60 anos, sinalizando que a disputa eleitoral está se intensificando a cada instante e não parece haver uma tendência clara para um lado ou outro.
Expectativas dos republicanos e o paradoxo das eleições
Enquanto isso, muitos republicanos estão otimistas quanto a uma vitória esmagadora de Trump, dada a história de superação das expectativas nas eleições passadas. O ex-presidente superou as previsões em 2016 e 2020, e, caso isso ocorra novamente, ele conseguiria facilmente atingir um total superior a 300 votos eleitorais. Contudo, a expectativa de uma “música repetida” deve ser vista com cautela. Desde 1972, não há registro de um mesmo partido se beneficiando de erros nas pesquisas eleitorais em três ciclos presidenciais consecutivos. Em 2022, as pesquisas subestimaram o apoio aos democratas em estados essenciais, e, caso essa situação se repita, a vice-presidente Harris poderia muito bem assegurar uma vitória convincente, ultrapassando os 300 votos eleitorais no Colégio Eleitoral.
Porém, as pesquisas têm suas limitações e a média de erro é considerável, com uma margem de 3,4 pontos a partir de 1972, além de 5% das pesquisas falhando em mais de 9,4 pontos. Em estados em disputa, até mesmo um erro médio poderia levar a resultados inusitados no pleito. Observadores acreditam que a direção de um eventual erro de pesquisa poderia seguir a tendência dos grandes indicadores macroeconômicos. Apesar da aprovação do atual presidente, Joe Biden, estar em níveis alarmantes, tradicionalmente, a baixa popularidade de um incumbente tem se mostrado um alerta para seus aliados. Contudo, Trump emerge como uma figura paradoxal, dado que, se vencer, será o segundo candidato menos popular a conquistar a presidência desde que se iniciaram os registros de popularidade, perdendo apenas para ele mesmo, em 2016. Os dados ainda mostram que os republicanos subperforam nas eleições de meio de mandato de 2022, mesmo com indicadores macroeconômicos apontando em direção favorável.
A dinâmica da votação e o papel dos indecisos
A dinâmica das inscrições partidárias também contribui para a confusão eleitoral deste ano. Apesar dos republicanos estarem se aproximando dos democratas em estados cruciais nos últimos quatro anos, a real questão reside em quantos eleitores registrados do Partido Republicano efetivamente votarão em Trump. De acordo com a mais recente pesquisa do New York Times/Siena College, Harris pode conquistar uma maior porção de votos entre os democratas do que Trump entre os republicanos. Esse possível cenário, onde os democratas superam o partido republicano na Pensilvânia, poderia trazer um resultado favorável para a candidatura de Harris.
Esse ambiente eleitoral se torna ainda mais intrigante quando observamos a mudança nos padrões de votação em relação ao pleito de quatro anos atrás. Trump apresenta um desempenho notável entre os eleitores negros, especialmente entre os homens jovens, enquanto Harris consegue conquistar um suporte superior entre as mulheres brancas. Embora essas mudanças não sejam equivalentes, a maior representatividade das eleitoras mulheres na base pode equilibrar as dinâmicas de votação. Em suma, a eleição provavelmente dependerá de um percentual pequeno de eleitores que ainda estão indecisos. Mais de dois terços dos eleitores acreditam que esta é a eleição mais importante de suas vidas, incluindo 72% dos apoiadores de Trump e 70% dos apoiadores de Harris. Entretanto, lamentavelmente, apenas 24% dos indecisos compartilham dessa opinião, o que pode ser frustrante, considerando que o destino eleitoral pode ser decidido por aqueles que não têm um compromisso forte em participar.
A batalha pela presidência se intensifica
Com a proximidade da eleição, fica evidente que a disputa entre Kamala Harris e Donald Trump representa não apenas um confronto partidário, mas uma colisão de ideologias e visões sobre o futuro dos Estados Unidos. A heterogeneidade de apoio a ambos os candidatos torna as previsões extraordinariamente difíceis de serem realizadas. Faltando poucos dias para o pleito, é necessário acompanhar atentamente os desdobramentos, uma vez que as decisões dos eleitores indecisos poderão definir os rumos políticos do país nos próximos anos, em um momento em que a nação se encontra em uma encruzilhada, sendo que a direção escolhida por seus cidadãos certamente moldará o futuro da democracia americana.