Um número significativo de indivíduos que relatam ter sofrido abusos físicos e sexuais em duas escolas de reforma administradas pelo estado na Flórida está agora em via de receber compensações que podem chegar a dezenas de milhares de dólares. Isso ocorre após os legisladores da Flórida terem formalmente pedido desculpas pelos horrores vividos por essas crianças há mais de 50 anos. Este passo representa um reconhecimento tardio das atrocidades que ocorreram em instituições que deveriam ter sido um ambiente seguro para os jovens.

Durante o auge da era Jim Crow, nas décadas de 1960, aproximadamente 500 meninos eram acomodados no que hoje é a conhecida Escola para Meninos Dozier, a maioria dos quais foi enviada por infrações menores, como furto de pequeno valor ou por escaparem de casa. Além disso, meninos órfãos e abandonados eram também enviados a essa instituição, que permaneceu em funcionamento por mais de um século, gerando histórias sombrias e impactantes.

Nos anos recentes, muitos homens começaram a relatar brutalidades cometidas dentro da escola, incluindo espancamentos severos, agressões sexuais, mortes e desaparecimentos que ocorreram em um dos locais mais infames da Flórida, situado na cidade de Marianna. Entre 1900 e 1973, aproximadamente 100 meninos faleceram nas dependências da Escola Dozier, alguns em decorrência de ferimentos causados por armas ou traumas cranianos. Os corpos de alguns desses meninos foram enviados de volta para suas famílias, enquanto outros foram sepultados em túmulos sem identificação, que foram descobertos apenas recentemente por pesquisadores.

Com a aproximação do prazo final em 31 de dezembro, o estado recebeu mais de 800 solicitações de indenização de pessoas que alegam ter sido submetidas a abusos mentais, físicos e sexuais por parte do pessoal da escola. No ano passado, os legisladores estaduais destinaram $20 milhões para serem distribuídos igualmente entre as vítimas sobreviventes das instituições reformadoras.

Bryant Middleton, um dos que se manifestaram publicamente em 2017, lembrou-se de que foi espancado severamente em infrações que incluíam comer amoras de uma cerca ou até mesmo ao pronunciar errado o nome de um professor após ser enviado para a escola entre 1959 e 1961, um relato que revela a banalização da violência e do abuso em um ambiente que deveria ter promovido o cuidado e a reabilitação.

“Eu vi muitas coisas em minha vida. Muita brutalidade, muito horror, muita morte”, disse Middleton, que passou mais de 20 anos no Exército, incluindo combate no Vietnã. “Eu preferiria ser enviado de volta às selvas do Vietnã do que passar um único dia na Escola para Meninos da Flórida.” Uma declaração robusta que ilustra a gravidade do sofrimento que ele e seus companheiros sofreram dentro daquela instituição.

Desde a sua fundação em 1900, a Escola Dozier foi envolta em alegações de abusos, incluindo relatos de crianças sendo acorrentadas nas paredes. Uma visita do então governador Claude Kirk em 1968 revelou a situação degradante da instituição, com e teto gotejando, buracos nas paredes, sem aquecimento e baldes utilizados como banheiros. Essas condições, além de inaceitáveis, evidenciam a indiferença do estado em proteger as vidas de quem era colocado sob sua responsabilidade.

“Se um dos seus filhos estivesse mantido em tais circunstâncias”, Kirk observou na época, “você estaria lá com rifles.” Uma declaração que apresenta um vislumbre da indignação que qualquer pai deveria sentir ao saber que sua criança estava em uma situação tão deplorável.

A Escola Dozier foi fechada em 2011, após investigações estaduais e federais que documentaram os abusos ocorridos nas suas instalações. Um encerramento que, embora tardio, representa um passo significativo em direção à justiça que essas vítimas tanto esperaram por décadas.

Enquanto isso, os homens que foram vitimizados nas escolas aguardam suas indenizações. Suas histórias de resiliência estão sendo homenageadas no novo filme “Nickel Boys”, que foi adaptado do romance vencedor do Prêmio Pulitzer de Colson Whitehead. O autor revelou que a Escola Dozier serviu como a base para seu livro, enfatizando a importância de elevar awareness para que os relatos das vítimas não sejam esquecidos.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *