Na última semana, durante um evento de campanha em apoio ao ex-presidente Donald Trump, o bilionário da tecnologia Elon Musk revelou que realizaría um sorteio diário de 1 milhão de dólares para eleitores registrados nos estados-chave da eleição. A medida gerou intensa análise e críticas por parte de especialistas em legislação eleitoral, que apontam possíveis violações das leis que proíbem pagamentos por registro e votação. Em suas declarações, Musk expressou a intenção de mobilizar entre um a dois milhões de eleitores em estados considerados cruciais para a corrida eleitoral ao criar uma petição em apoio à Primeira e à Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos.

A iniciativa, lançada por meio de seu comitê político, visa incentivar a participação cívica e apoiar os direitos de livre expressão e porte de armas. Durante sua fala em Harrisburg, Pensilvânia, Musk destacou que o sorteio está restrito a eleitores registrados nos estados de Pensilvânia, Geórgia, Nevada, Arizona, Michigan, Wisconsin e Carolina do Norte. Essa abordagem, que visa potencialmente aumentar a base de apoiadores de Trump, levantou questões sobre a moralidade e a legalidade de tais práticas, principalmente em um momento crítico, próximas às datas de registro eleitoral.

Musk, que é considerado o homem mais rico do mundo, anteriormente doou mais de 75 milhões de dólares a um super PAC em apoio ao ex-presidente. Desde que lançou sua campanha no estado da Pensilvânia, ele têm realizado eventos para promover seu apoio a Trump, além de disseminar teorias da conspiração sobre o resultado da eleição de 2020. Após seu anúncio sobre o prêmio de 1 milhão de dólares, chamou os presentes a mobilizarem suas redes para persuadir conhecidos a se registrarem e votarem, enfatizando que sua interação poderia ter um impacto direto nas eleições, o que potencialmente caracteriza uma forma de coerção sob as leis eleitorais.

No primeiro dia do sorteio, Musk anunciou um vencedor em seu evento na Pensilvânia, entregando-lhe um grande cheque junto a comentários de celebração. O segundo vencedor foi revelado em um evento subsequente em Pittsburgh, onde Musk, sob a expectativa gerada pelos letreiros “VOTE EARLY”, continuou a fazer afagos à sua estratégia de mobilização eleitoral. No entanto, essa manobra não passou sem críticas substanciais. O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, qualificou a ação como “profundamente preocupante”, abrindo espaço para a possibilidade de investigação por parte das autoridades responsáveis pela legislação eleitoral.

As impasses criados pela estratégia de Musk são evidentes, uma vez que a legislação federal proíbe o pagamento ou a oferta de pagamento a qualquer pessoa para registro ou votação, sendo uma infração passível de até cinco anos de prisão. Derek Muller, especialista em legislação eleitoral da Universidade de Notre Dame, alertou que a limitação do sorteio apenas a eleitores registrados leva a preocupações legítimas sobre suborno, uma vez que tal estratégia pode ser interpretada como um incentivo ao registro de novos eleitores sob a promessa de uma recompensa em dinheiro.

Embora a maioria dos estados considere ilegal o pagamento a pessoas pelo ato de votar, Muller observa que é incomum que promotores federais processem casos de suborno eleitoral devido à tendência da Suprema Corte de restringir os estatutos acerca do suborno. Apesar da baixa possibilidade de que Musk enfrente condenações legais, outros especialistas em legislação eleitoral condenaram veementemente a conduta do bilionário como claramente problemática.

David Becker, ex-oficial do Departamento de Justiça e fundador do Centro para Inovação e Pesquisa Eleitoral, afirmou que o fato de que o sorteio se dirige exclusivamente a eleitores registrados em um grupo seleto de estados que podem influenciar as eleições presidenciais é um forte indicativo da intenção de Musk de afetar o resultado eleitoral. Becker enfatizou que a oferta foi lançada em um momento estratégico, próximo ao fechamento do registro, insinuando que as premiações em dinheiro têm a finalidade de impulsionar o registro eleitoral.

A secretária de Estado de Michigan, Jocelyn Benson, também expressou sua indignação em relação ao que considera como desinformação perigosa disseminada por Musk sobre a integridade das listas eleitorais. Este declínio da confiança no sistema eleitoral e a manipulação da narrativa em relação às questões de registro e votação se tornam um tema preocupante em uma era política já repleta de desconfiança e polarização. Portanto, as ações do magnata da tecnologia não apenas violam potencialmente as normas legais, mas também corroem a robustez da democracia ao minar a confiança pública no processo eleitoral.

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