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Em uma decisão surpreendente, um juiz de Nova York decidiu na última sexta-feira que Donald Trump, presidente eleito, não enfrentará penalidades legais em decorrência de sua condenação no caso de pagamento de silêncio. A autoridade judicial Juan Merchan não apenas manteve a condenação de Trump, mas também demonstrou que, mesmo sob as circunstâncias políticas atuais, questões legais não devem ser ignoradas.
Na sua decisão, Merchan reforçou a condenação de Trump, descartando a alegação do ex-presidente de que sua reeleição em novembro deveria levar à anulação do veredicto do júri. Assim, Trump se torna o primeiro condenado a um crime a assumir a presidência, um marco alarmante que poderá causar um prolongado debate sobre as implicações legais do seu status.
O juiz determinou que a audiência de sentença será realizada em 10 de janeiro, uma data estratégica que ocorre apenas dez dias antes da cerimônia de posse de Trump para um segundo mandato. Esse período coincide com uma fase crucial em que questões judiciais parecem interligadas com seu retorno ao poder, refletindo ao mesmo tempo a fragilidade da ordem jurídica e o peso das autoridades eleitorais.
Durante sua deliberação, o juiz Merchan se referiu aos planos de apelacão de Trump e ressaltou que não impor penalidades traria uma “finalidade” ao caso, permitindo que o ex-presidente continue a busca de seus recursos legais, sem a urgência de uma punição que interferisse em suas funções presidenciais. “Uma sentença de dispensa incondicional aparece como a solução mais viável para garantir a finalização e permitir que o réu busque suas opções recursais,” afirmou Merchan em sua decisão.
O juiz também concedeu a Trump a possibilidade de comparecer à audiência de maneira virtual, considerando suas preocupações sobre as “demandas mentais e físicas durante esse período de transição”. Essa análise demonstra uma sensibilidade ao estresse e à pressão que muitas vezes acompanham cargos de alta responsabilidade, especialmente durante momentos tumultuados.
A decisão foi considerada uma jogada inteligente pelo analista legal da CNN, Elie Honig, que argumentou que a comunicação prévia de que não haveria punição poderia desmantelar qualquer esforço da equipe de Trump em alegar que a sentença implicaria em um ônus significativo para o presidente. Isso sugere que o judiciário, ao mesmo tempo que garante a integridade do sistema, também considera as complexidades políticas em jogo.
O juiz Merchan, em sua decisão, referiu-se a opiniões internas do Departamento de Justiça dos EUA, que, embora não sejam vinculativas, ajudam a moldar a conduta do governo federal. Essas opiniões indicam que um presidente em exercício não pode ser objeto de processo judicial. Na sua análise, ele ponderou os pontos apresentados pelo DOJ e pela defesa de Trump, mas concluiu que tais preocupações não justificavam adiar a sentença.
A condenação de Trump, ocorrida em maio, envolveu 34 acusações de falsificação de registros comerciais vinculados aos pagamentos feitos a seu ex-advogado Michael Cohen. Estes pagamentos, de $130 mil a atriz de filmes adultos Stormy Daniels, visavam calar a artista antes da eleição de 2016 sobre um suposto caso entre eles, o que Trump nega.
Mudança de Data: Primeira Sentença de Trump Foi Adiada
Inicialmente, Trump estava programado para ser sentenciado em julho, mas essa data foi postergada duas vezes devido a uma decisão do Supremo Tribunal sobre imunidade presidencial. Essa série de adiamentos reflete como questões judiciais e políticas podem intrinsecamente influenciar os cronogramas legais.
Os advogados de Trump argumentaram que sua condenação deveria ser desfeita com base na decisão do Supremo sobre imunidade presidencial, sustentando que os promotores se basearam em provas que se relacionavam ao comportamento oficial de Trump enquanto ele estava na Casa Branca. Após a eleição, eles levantaram uma nova moção pedindo a anulação do caso, afirmando que sua condição de presidente seria um “impedimento legal” a qualquer processo criminal adicional.
Mês passado, Merchan concluiu que a condenação não deveria ser anulada em decorrência da decisão da mais alta corte do país. Na visão do juiz, o veredicto do Supremo, que conferiu a Trump ampla imunidade em atos oficiais, não significou que a condenação deva ser desprezada, uma vez que as evidências apresentadas pelo promotor não se ligavam a atos oficiais de Trump enquanto ele presidia.
O promotor de Manhattan, Alvin Bragg, defendeu que a condenação de Trump deveria permanecer válida, afirmando que a sentença poderia ser dilatada ou alterada em decorrência da reeleição de Trump, mas redefinir o veredicto do júri seria uma “medida extrema” e injustificada. Os representantes do escritório do promotor não comentaram a decisão da última sexta-feira.
O porta-voz de Trump, Steven Cheung, qualificou a decisão de sexta-feira como uma “violação direta” da decisão de imunidade do Supremo Tribunal. Ele enfatizou que o presidente deve ser capaz de continuar o processo de transição presidencial e exercer suas funções sem obstruções causadas por disputas judiciais, afirmando que não deveria haver sentença e que Trump inverterá a situação das alegações até que sejam desmanteladas.
Esta história foi atualizada com desenvolvimentos adicionais.