Conforme os líderes do Partido Republicano no Congresso se reúnem para delinear seus planos, a ansiedade está no ar entre os legisladores e eleitores. Donald Trump e seus aliados republicanos apresentaram detalhes iniciais de uma agenda ambiciosa, que inclui cortes de impostos, segurança nas fronteiras e aumento do limite da dívida. Esta estratégia será levada adiante durante os primeiros 100 dias do mandato do presidente eleito, apesar de enfrentarem um dos menores controles na Câmara dos Deputados da história.
Após um retiro de políticas e liderança realizado no final de semana, o presidente da Câmara, Mike Johnson, informou que Trump está pressionando pela aprovação de um único projeto de lei. “No final do dia, o presidente Trump irá preferir, como ele costuma dizer, ‘um grande e bonito projeto de lei’. E há muito mérito nisso… porque existem tantos elementos envolvidos, e isso nos dará um tempo extra para negociar e acertar tudo”, explicou Johnson em uma entrevista para o programa “Sunday Morning Futures” da Fox News.
Contudo, implementar essa visão será uma tarefa colossal para o Partido Republicano, uma vez que eles trabalham sob uma maioria tão escassa e com a meta de ter o projeto assinado por Trump até o final de abril. Os republicanos estão considerando passar a proposta por meio do processo orçamentário conhecido como reconciliação, que permite a aprovação de projetos com uma simples maioria (51 votos) no Senado. Contudo, a aprovação de cada projeto de reconciliação requer duas etapas e uma série de votos, e a legislação precisa passar por regras orçamentárias rigorosas.
Normalmente, os projetos de reconciliação são tentados uma vez por ano durante um governo de partido único no Congresso. O líder da maioria no Senado, John Thune, havia declarado previamente que o plano inicial era apresentar dois pacotes separados de reconciliação, tarefa extremamente desafiadora dado as pequenas margens em ambas as câmaras do Congresso.
“Outra de nossas prioridades iniciais – e mais um motivo pelo qual o cronograma será particularmente agressivo nos primeiros 100 dias – é aprovar um pacote de reconciliação com um investimento sem precedentes em segurança nas fronteiras e aplicação da imigração”, argumentou Thune durante um discurso no Senado em dezembro, no qual expôs as prioridades legislativas para 2025. Ele também acrescentou que passar a reconciliação para expandir o alívio fiscal que os republicanos ofereceram aos americanos durante a primeira administração Trump estava nos planos.
Se o único projeto combinado passar pela Câmara e chegar ao Senado, Thune afirmou que será necessário adotar muitas das medidas da agenda de Trump sob a reconciliação. Contudo, ele acredita que questões como a segurança nas fronteiras poderiam ser aprovadas em uma ordem regular, com o apoio dos democratas. “Seria ideal se pudéssemos encontrar uma maneira de fazer as coisas com o limite de 60 votos. E há várias coisas que faremos. Acreditamos que um investimento geracional nas fronteiras é necessário, dado onde estamos, após os últimos quatro anos que, na minha opinião, foram de uma política falida de fronteira do governo Biden-Harris”, declarou em uma entrevista exibida no programa “Face the Nation” da CBS.
Essa abordagem contrasta com a ideia de realizar um grande pacote de reconciliação. Segundo Thune, para ajudar Trump a “conseguir sucesso” na aprovação de sua agenda, ele precisará ajudar o presidente a entender o que pode ser realizado dentro dos limites de funcionamento do Senado. “Queremos chegar ao mesmo destino, mas vejo que, às vezes, haverá diferenças na maneira como chegamos lá. E, entender os aspectos únicos de como o Senado opera é algo que eu precisarei compartilhar e transmitir ao presidente e ajudá-lo a entender … quais são os limites e o que podemos realizar aqui no Senado”, enfatizou Thune.
Um número significativo de senadores argumentou que iniciar o mandato de Trump com um projeto de segurança nas fronteiras — recheado de ideias populares entre os republicanos — seria uma manobra política mais vantajosa do que arriscar uma longa disputa sobre impostos. No entanto, o presidente do Comitê de Formas e Meios da Câmara, Jason Smith, advertiu que essa não seria a “estratégia correta”, dizendo que seria incrivelmente difícil levar ambos os projetos até a linha de chegada, arriscando os cortes de impostos de 2017, que estão prestes a expirar. “Acredito que o primeiro projeto de reconciliação precisa ser um projeto abrangente que aborde as disposições fiscais que estão prestes a acabar. Também deve tratar de energia, fronteira, imigração e alguns cortes de gastos”, defendeu.
A perspectiva de um caminho repleto de desafios foi acentuada com a recente votação dramática na escolha do novo presidente da Câmara. Johnson, que recebeu o endosse de Trump, comentou que a influência do ex-presidente é inegável. “O presidente Trump é … certamente o mais poderoso presidente da era moderna, talvez de toda a história americana”, afirmou Johnson. “Sua voz e influência são de influência singular. E sou grato por ter seu apoio, humildemente.”
Com os republicanos de olho na nova estrutura do Congresso e nas lições aprendidas nas disputas de liderança anteriores, um grupo de republicanos da Casa que estiveram céticos em relação a Johnson elaborou uma carta definindo as demandas que queriam que ele atendesse. Os 11 republicanos pediram a Johnson para adicionar dias de sessão ao calendário da Câmara; garantir que qualquer pacote de reconciliação incluísse cortes significativos de gastos; e evitar colocar em votação projetos que dependam fortemente do apoio democrático ou que sejam apresentados antes das 72 horas que os membros têm para revisar a legislação.
Em suma, enquanto o Partido Republicano intensifica seus esforços para avançar com a agenda de Trump, os desafios são imensos. Com prazos apertados e um equilíbrio de poder delicado, as ações dos próximos meses serão decisivas para determinar se as ambições legislativas da coalizão conseguirão superar as divisões internas e resistir aos obstáculos apresentados pela oposição. O caminho está claro, mas a execução será tudo, e todos os olhos estarão voltados para o Capitólio enquanto política e estratégia se desenrolam sob os holofotes da nação.