No último mês, o ex-presidente Donald Trump se destacou no cenário político ao afirmar que gangues migrantes estavam “dominando” Aurora, Colorado, uma declaração que ganhou repercussão após o debate presidencial contra a vice-presidente Kamala Harris. A sua narrativa, que é uma ampliação de rumores controversos disseminados por seus apoiadores nas redes sociais, se transforma em um veículo que busca colocar a cidade de Aurora novamente em evidência, além de reafirmar a temática da imigração como a questão central que ele considera crucial para as eleições presidenciais. O posicionamento da sua campanha enfatiza a urgência do fechamento das fronteiras e a deportação de imigrantes ilegais como as prioridades mais relevantes na agenda nacional.

Trump parece ter apostado todas as suas fichas nesse discurso, desconsiderando as evidências que demonstram que a economia é o tema de maior preocupação entre os eleitores. Pesquisas realizadas recentemente mostram que mais de 40% dos prováveis eleitores consideram a economia como a questão mais importante na hora de escolher um candidato, enquanto apenas 12% afirmam que a imigração é a prioridade. Esta discordância entre sua mensagem e a percepção popular pode representar um risco significativo para a campanha do ex-presidente. Durante sua participação em um comício em Wisconsin, Trump declarou que não acredita que a economia influenciará a decisão dos eleitores, enfatizando que as pessoas “horríveis” que estão sendo permitidas no país representam o maior problema a ser enfrentado.

A questão da imigração é um terreno familiar para Trump, que primeiro entrou na corrida presidencial de 2016 com uma retórica agressiva contra a imigração, frequentemente associando imigrantes mexicanos ao crime. Mesmo após seu mandato, ele continua suas promessas, incluindo a construção do muro na fronteira com o México, embora não tenha conseguido completar esse projeto durante sua presidência. Nos comícios atuais, ele faz questão de reiterar seu compromisso em não apenas concluir o muro, mas também em implementar as mais abrangentes deportações da história americana, com a contratação de forças policiais locais para ajudar neste esforço.

O discurso de Trump nessas aparições nunca se limita apenas a questões de imigração, mesmo quando a pauta inicial gira em torno da economia ou da segurança. Em uma visita a Savannah, Georgia, que pretendia abordar questões relacionadas ao código tributário, Trump mencionou a palavra “fronteira” 29 vezes, superando qualquer menção a “fabricação”. Esse padrão de discurso levanta questões sobre a coesão de sua mensagem e a estratégia de sua campanha, já que seus assessores têm tentado guiá-lo com foco em tópicos de maior apelo popular, como a economia.

Os dados de pesquisas também revelam uma divisão nas prioridades dos eleitores. Enquanto a imigração é uma questão amplamente considerada importante pela base republicana, apenas 63% deles classificam o tema como “extremamente importante” ao avaliar seu voto. Por outro lado, independentemente dos dados, a equipe de Trump continua a insistir que a imigração é um tema vital para a campanha. Durante uma recente visita a Prairie du Chien, Wisconsin, o ex-presidente se encontrou com habitantes locais que alegaram ter suas vidas impactadas por crimes cometidos por imigrantes ilegais.

Kamala Harris, por sua vez, tem procurado desafiar a narrativa de Trump sobre imigração. Recentemente, em uma visita à fronteira dos Estados Unidos, ela acusou Trump de desmantelar uma proposta de lei de segurança nas fronteiras, afirmando que ele preferiria “correr atrás de um problema” do que solucioná-lo realmente. Esse tipo de retórica sugere que a vice-presidente está tentando conter o impulso de Trump nessa questão, que se tornou um ponto focal em sua campanha.

O próximo comício de Trump em Aurora, marcado para esta sexta-feira, é emblemático da forma como alegações infundadas podem tomar conta de narrativas mais amplas na política. A cidade se tornou o centro de atenção após o surgimento de vídeos que os apoiadores de Trump interpretaram como evidências de gangues venezuelanas assumindo o controle de um complexo de apartamentos. Apesar da desmentida das autoridades locais, que indicaram que a questão estava relacionada a condições de habitação muito precárias e não a grupos migrantes, a narrativa de Trump não diminuiu. Ele sente que um discurso forte sobre imigração pode galvanizar sua base, uma estratégia que se apoia na ampliação do medo e da insegurança nas comunidades.

A visita de Trump, portanto, não envolve apenas o discurso sobre imigração, mas representa uma oportunidade estratégica para ele reafirmar seus compromissos com os apoiadores e afastar a narrativa de que a imigração é uma questão marginal em comparação com outras preocupações, como a economia. Afinal, a forma como ele molda essa narrativa poderá definir não apenas a sua campanha, mas o suporte estrutural da sua candidatura nas semanas restantes até a eleição, levando em conta que a dinâmica política atual é altamente volátil e repleta de desinformação.

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