New York
CNN
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Em uma decisão que gerou debates intensos entre os diversos setores do governo e da sociedade, o presidente Joe Biden optou por bloquear a aquisição da US Steel, avaliada em 14 bilhões de dólares, pela japonesas Nippon Steel. Isso ocorreu mesmo com o testemunho de diversas autoridades dos Estados Unidos que afirmaram não existirem preocupações suficientes relacionadas à segurança nacional que justificassem tal bloqueio. Esta ação de Biden desafia a lógica de investimento estrangeiro, especialmente considerando que o Japão é um dos principais aliados dos Estados Unidos.

O bloqueio da transação gerou aplausos entre os líderes sindicais, que veem a proteção da indústria de aço americana como um avanço para os trabalhadores. No entanto, a decisão também provocou uma onda de críticas de diversas vozes, tanto internas quanto externas à administração, que sustentam que o bloqueio é mais um reflexo de políticas brandas do governo em relação a determinadas pressões políticas e econômicas.

US Steel e Nippon Steel afirmaram, em um processo judicial apresentado na segunda-feira, que a decisão foi movida por razões políticas e não por preocupações relacionadas à segurança nacional. Esse descontentamento ressalta o dilema que muitos no governo sentiram em relação à transação, que foi submetida a um exame rigoroso pelo Comitê de Investimentos Estrangeiros nos Estados Unidos (CFIUS), um painel interagências que opera de maneira sigilosa.

Apesar das alegações de que a aquisição representaria riscos à segurança nacional, o CFIUS não conseguiu chegar a uma conclusão unificada, deixando a decisão final nas mãos do presidente Biden. Entre os membros do CFIUS, muitos expressaram a opinião de que os riscos poderiam ser mitigados e que não havia evidências concretas suficientes que justificassem o bloqueio da aquisição, uma perspectiva compartilhada pela secretária do Tesouro, Janet Yellen, pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin e pelo secretário de Estado, Antony Blinken.

Embora esses altos funcionários se posicionassem contra a decisão de bloqueio, a presença de vozes divergentes dentro da administração tem levantado preocupações sérias quanto à natureza e ao processo que envolvem a decisão de Biden. Essa divisão é ainda mais pertinente, considerando que estas opiniões vêm de figuras com profundos conhecimentos da base industrial de defesa dos EUA. Contudo, outros membros do CFIUS expressaram preocupações de segurança nacional, incluindo a Representante de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai.

A decisão de Biden em bloquear a compra foi divulgada em uma declaração onde o presidente enfatizava a importância de uma indústria de aço doméstica forte, não apenas pela segurança nacional, mas também pela robustez das cadeias de suprimentos críticas. “Esta aquisição colocaria um dos maiores produtores de aço dos Estados Unidos sob controle estrangeiro e criaria riscos para nossa segurança nacional e nossas cadeias de suprimento críticas,” afirmou Biden em seu comunicado.

A situação se torna ainda mais intrigante quando se considera que o investimento era de uma empresa de um país aliado em uma área vital como a de metais, um setor em que os Estados Unidos possuíam um histórico. “Ninguém antes proibiu uma aquisição de uma empresa baseada no Japão, um de nossos mais próximos aliados”, declarou a US Steel e a Nippon Steel em seu processo judicial.

Jason Furman, um dos principais assessores econômicos durante a administração de Obama, criticou a decisão de usar a segurança nacional como razão para o bloqueio. Em um post nas redes sociais, Furman lamentou, “Presidente Biden afirmar que o investimento do Japão em uma empresa americana de aço é uma ameaça à segurança nacional é uma capitulação patética e covarde a interesses especiais que tornará a América menos próspera e segura,” argumentou Furman, que agora é professor de Harvard e consultor.

Defendendo a decisão, a Casa Branca afirmou que uma comissão de especialistas em segurança nacional e comércio determinou que a aquisição criava riscos. Robyn Patterson, porta-voz da Casa Branca, reafirmou em comunicado que Biden não hesitará em proteger a segurança nacional, a infraestrutura e a resiliência das cadeias de suprimento do país.

Esse caso ilustra a difícil intersecção entre interesses econômicos e políticas de segurança nacional, uma situação que muitos membros do CFIUS também reconhecem como complexa e repleta de interesses em disputa. Michael Leiter, especialista em segurança nacional na firma de advocacia Skadden, comentou que as divergências entre as agências dos EUA mostram como essa questão é multifacetada e “não é fácil”.

Por fim, a real repercussão do bloqueio da aquisição da US Steel é algo que, segundo obervadores do mercado, não deverá prejudicar adversamente os futuros investimentos estrangeiros nos Estados Unidos, visto que muitos acreditam que esse caso seja uma exceção, não um novo padrão, no panorama de políticas de aquisição estrangeira.

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