A coletiva de imprensa realizada por Donald Trump em seu resort Mar-a-Lago, na Flórida, nesta terça-feira, trouxe à tona uma série de propostas audaciosas e polêmicas. Após a sua vitória nas eleições de 2024, Trump intensificou suas apelos por uma expansão territorial dos Estados Unidos, incluindo a possibilidade de usar força militar para reivindicar a Groenlândia, atual território autônomo dinamarquês, e recuperar o controle sobre o Canal do Panamá. A repercussão de suas declarações gerou questões sobre o impacto dessas ideias não convencionais na política externa americana e nas relações internacionais.
Durante a coletiva, que foi marcada por um discurso de uma hora, Trump não apenas abordou sua visão expansionista, mas também fez críticas a diversas áreas da administração Biden, manifestou seus ressentimentos pessoais e abordou questões jurídicas que o cercam. Ele fez questão de enfatizar que poderia usar “força econômica” para transformar o Canadá no 51º estado dos Estados Unidos, alegando que a eliminação do que considera uma “linha artificial” na fronteira norte-americana poderia beneficiar a segurança nacional do país.
“Pode-se olhar para o que significariam essas mudanças as quais eu proponho — e isso não só tornaria nosso país mais forte, mas também aumentaria nossa segurança nacional”, afirmou Trump em um momento em que o mundo político está em grande parte contra expansões territoriais unilaterais, especialmente à luz das recentes ações da Rússia em países vizinhos. Se a proposta de Trump fosse concretizada, ela representaria a primeira alteração significativa ao mapa dos Estados Unidos desde 1959, quando o Havai se tornou um estado.
Trump também não se furtou de expressar suas frustrações sobre o que considera um governo ineficiente, mencionando especificamente seu descontentamento com regulamentos ambientais e as ações do governo Biden relacionadas à transição de governo. Em um tom provocador, ele ameaçou tomar medidas drásticas, destacando a situação de reféns sequestrados pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro de 2023, afirmando: “Se esses reféns não forem devolvidos até a minha posse, todas as hell serão soltadas no Oriente Médio — e isso não será bom para o Hamas ou para qualquer um.”
Propostas militares e críticas às gestões anteriores
Durante a coletiva, Trump não hesitou em declarar sua intenção de não descartar ações militares para garantir a soberania americana sobre o Panamá e a Groenlândia, manifestando a necessidade de tais ações para a segurança econômica dos Estados Unidos. “Eu não posso garantir que não usaremos nada disso, mas precisamos da Groenlândia e do Panamá para garantir nossa segurança econômica”, afirmou o presidente eleito, reforçando a crescente tendência de algumas figuras políticas conservadoras que defendem uma postura mais agressiva na política externa.
A ideia de Trump de que a Dinamarca deveria renunciar ao controle da Groenlândia ou, em contrapartida, enfrentar tarifas severas, provocou reações polarizadas. Ele ainda mencionou a possibilidade de que os habitantes da Groenlândia poderiam votar pela independência ou pela adesão aos Estados Unidos, o que levanta questões significativas sobre a autodeterminação e as relações internacionais.
No que diz respeito ao Canal do Panamá, Trump reafirmou sua posição de que o canal, que foi construído sob controle americano, é atualmente mal administrado por Panamá e afirmou: “O Canal do Panamá foi construido para nossa força militar”. Desde 1999, quando a renda do canal foi transferida para o governo panamenho, Presidentes dos EUA têm debatido a relevância de tal acordo. É importante lembrar que a história do canal remonta a 1914, sendo um marco não apenas da engenharia, mas também da diplomacia americana.
Avaliação das decisões judiciais e críticas a Jimmy Carter
A coletiva também trouxe à tona a posição de Trump sobre decisões judiciais que o afetam. Ele elogiou a decisão da Juíza Aileen Cannon de bloquear a divulgação do relatório do conselheiro especial Jack Smith, afirmando que este seria “um relatório falso” e uma “falsa narrativa”. Cannon, que Trump indicou durante seu primeiro mandato, recebeu elogios do ex-presidente, que contrastou seus julgamentos com os do conselheiro Smith, a quem chamou de “descontrolado”.
Criticando o ex-presidente Jimmy Carter, Trump se referiu ao acordo de 1977 que resultou na transferência do controle do Canal do Panamá para o Panamá como “um acordo desastroso”. Trump manifestou sua opnião de que Carter “deu o canal por apenas um dólar” e que isso foi um “terrível erro”, refletindo sobre o legado do ex-presidente que faleceu recentemente.
Polemizando sobre o Golfo do México e atacando Biden
Trump também fez declarações polêmicas, sugerindo que o Golfo do México deveria ser renomeado como o “Golfo da América”, o que levantou uma série de reações, desde apoio fervoroso de aliados políticos até risadas entre críticos. Rep. Marjorie Taylor Greene chegou a afirmar que introduzirá a legislação para a mudança imediatamente após os comentários de Trump, indicando um alinhamento rápido ao seu redor.
Além disso, Trump continuou sua crítica à administração Biden, alegando que o governo atual está dificultando sua transição e entulhando ações que a população norte-americana não apoia. Ele especificamente mencionou a recente ação executiva de Biden que proíbe o desenvolvimento de petróleo e gás em partes do Oceano Atlântico e Pacífico, sugerindo que essas políticas estão reconhecendo uma “transição tranquila” enquanto, na verdade, pode prejudicar os interesses econômicos do país.
Com essa coletiva inusitada, Trump continua a ocupar as manchetes e a provocar debates intensos acerca da direção que seu novo governo poderá tomar, especialmente em questões de política nacional e externa. O fato de que suas declarações estão frequentemente alinhadas com uma retórica mais militarista e expansionista aponta para possíveis mudanças significativas na forma como os Estados Unidos se relacionam com o resto do mundo.
CNN contribuiu para esta reportagem com informações adicionais.