O mundo do cinema de terror testemunha um retorno emblemático com a reexibição do filme original “Saw” nos cinemas, comemorando seus 20 anos de lançamento. Este retorno não é apenas uma oportunidade de reviver as emoções que marcaram uma geração, mas também um convite para revisitar toda a série, que se tornou um dos maiores fenômenos do gênero horror. Lançado em 2004, sob a direção de James Wan e roteirização de Leigh Whannell, o primeiro “Saw” transformou uma ideia inovadora e um curto-metragem de apenas cinco mil dólares em uma franquia bilionária reconhecida mundialmente. Com um total de dez longas-metragens já lançados e a estreia de “Saw XI” programada para o próximo setembro, a série “Saw” é conhecida por suas tramas intrincadas, armadilhas grotescas e inventivas e moralidades questionáveis. O personagem principal, John Kramer, também conhecido como Jigsaw, interpretado por Tobin Bell, busca vítimas que não valorizam a vida, forçando-as a participar de jogos macabros que evoluem em dor e sofrimento.
A essência da franquia não se limita ao mero gor e ao planejamento meticuloso das armadilhas mortais, mas acrescenta uma crítica à apreciação da vida e às fragilidades da moralidade humana. Desde o seu surgimento, “Saw” foi pioneiro em um subgênero que alguns chamam de “torture porn”, onde o prazer reside em ver o sofrimento alheio. Porém, a série não se restringe a isso; muitos dos filmes discutem questões socioculturais relevantes e levantam questões filosóficas que ressoam profundamente na alma do espectador. Ao longo dos anos, a franquia fez escolhas difíceis em suas narrativas, algumas das quais resonaram positivamente, enquanto outras deixaram os fãs céticos. Portanto, uma olhada mais crítica sobre a pior e as melhores reviravoltas da saga se torna essencial.
Após sete anos da derradeira “Saw: The Final Chapter”, a série foi reativada por roteiristas como Josh Stolberg e Peter Goldfinger, trazendo de volta a figura do assassino imitador, Jigsaw, que impõe suas sequências de morte a cidadãos moralmente questionáveis. A produção diferenciou-se pela sua ambientação, desta vez instalada em uma fazenda rusticamente estranha, desafiando as convenções anteriores onde a urbanidade decadente predominava. Neste novo capítulo, um grupo de criminosos se vê preso em armadilhas e em uma disputa acirrada: ou colaboram entre si ou sucumbem um ao outro enquanto lutam pela sobrevivência. As armadilhas são imaginativas, muitas vezes beirando o absurdo, e essa atmosfera peculiar traz um novo frescor ao gênero que poderia ter se tornado repetitivo.
Entretanto, após a estreia de “Jigsaw”, foi “Spiral: From the Book of Saw” que tomou a missão de buscar um novo foco para a série. Este filme traz de volta um pouco do mistério que consagrou os primeiros longas, porém a fórmula parece não ter convencido o público como esperado. Chris Rock, conhecido por seu humor, traz uma leveza refrescante à narrativa, mas as composições dramáticas não conseguirem se superar. O filme acaba revelando uma trama previsível em sua conclusão que parece muito ligeira e pouco desenvolvida, o que pode deixar os fãs com uma sensação de frustração. Adicionalmente, a tentativa de abordar questões como racismo e brutalidade policial acaba subestimando a gravidade do tema em prol de uma narrativa que não se decide entre ser uma comédia ou um thriller sério.
Em meio a esse caça-níquel de sporadic e repetições, “Saw V” também falhou em capturar a atenção do público por completo. O novo diretor David Hackl não conseguiu transformar a batalha psicológica entre os personagens principais em algo emocionante. Confusões profundas nas tramas deixaram uma conversa aberta sobre até onde os limites da representação do horror podem ir, através de armadilhas que ficam cada vez mais bizarros enquanto a história se torna cada vez mais complexa. Ao contrário disso, “Saw: The Final Chapter” fez promessas de encerrar o arco dramático de forma apoteótica, mas o que se viu foi uma tentativa de aumentar a violência em detrimento da narrativa, colocando armadilhas mais impactantes apenas como artifícios visuais que não rentabilizavam a riqueza contada nos roteiros anteriores.
Entretanto, com o retorno de Tobin Bell como John Kramer em “Saw X”, a franquia deu um giro que parecia necessário e inovador. A ênfase no lado humano do notório vilão foi uma aposta que pagou dividendos. Ao vez de se posicionar apenas como um símbolo de dor e sofrimento, este filme permitiu que o público visse o personagem sob uma nova luz. Ele é um homem doente, desesperadamente à procura de curas para seu câncer terminal, e sua jornada se nutre de um desejo legitimamente humano, numa busca de vingança contra aqueles que o enganaram. Por esta nova abordagem, “Saw X” devolveu frescor a um universo que parecia saturado, mostrando que é sempre possível renascer mesmo da forma mais abrupta. Neste novo capítulo, o panorama de horror torna-se mais complexo, pois Jigsaw não apenas aplica seus testes a outros, mas também se torna um alvo dele mesmo, mostrando a fragilidade e vulnerabilidade do ser humano e a complexidade da condição humana.
A série “Saw”, ao longo desses 20 anos, não apenas redefiniu o gênero de terror, mas também se tornou um espelho das inquietações e dilemas contemporâneos. Com uma combinação de sustos, moralidade e desafios humanos, ajudou a estabelecer novos limites do que o público esperava ao assistir um filme de horror. Através da reexibição do filme original, nova vida foi injetada na franquia, que agora se prepara para continuar sua trajetória, mais relevante e provocadora do que nunca, sob a promessa de que novas armadilhas e reviravoltas aguardam os fãs mais dedicados.