Um momento que deveria ser de celebração se transformou em um caos indescritível na manhã de sábado em Sapelo Island, Geórgia, quando uma passarela de alumínio desabou enquanto visitantes aguardavam para embarcar em um ferry de volta ao continente. Este acidente trágico resultou na morte de sete pessoas, exacerbando uma situação já tensa para uma comunidade que valoriza profundamente suas tradições e cultura. O evento era parte do Festival Cultural que celebrava as raízes da comunidade Gullah-Geechee, descendentes de escravos que habitaram a região. Este festival, que atraiu cerca de 700 visitantes, foi interrompido de maneira brusca, deixando marcos de desespero e perda.
O colapso da passarela ocorreu por volta das 16h30, hora do Leste, no Marsh Landing Dock. Testemunhas descreveram uma cena caótica, com cerca de 40 pessoas que estavam na passarela ao mesmo tempo em que ela desabou. A tragédia culminou em pelo menos 20 pessoas caindo nas águas do Atlântico, onde uma forte correnteza ameaçava arrastá-las mar adentro. Reginald Hall, um residente da ilha, foi um dos primeiros a reagir, mergulhando nas águas para resgatar um jovem e formando uma corrente humana com outros que estavam dispostos a ajudar. “Foi caótico. Foi horrível”, relatou Hall, que em um ato de coragem, ajudou a passar crianças para a segurança.
Walter Rabon, comissário do Departamento de Recursos Naturais da Geórgia, confirmou que as vítimas fatais não eram residentes da ilha. Entre os mortos, foi identificado Charles Houston, capelão do departamento. As investigações sobre as causas do colapso estão em andamento, e Rabon apontou falhas estruturais no cais operado pelo estado como a causa provável do acidente. A passarela tinha sido reconstruída em 2021 e inspecionada em dezembro de 2023. Rabon qualificou o incidentes como uma “falha catastrófica”, mas não pôde precisar se uma manutenção adequada teria evitado essa tragédia.
No calor do incidente, a resposta da comunidade e dos serviços de emergência foi rápida. Balsas e helicópteros foram acionados para resgatar aqueles que lutavam contra as correntes. Apesar dos esforços, muitos chegaram tarde demais. Um membro da equipe de uma das balsas, Ed Grovner, compartilhou suas experiências angustiantes após a tragédia, descrevendo o tormento emocional que enfrentou. “Eu não consegui dormir na noite passada. Meu instinto era salvar, mas a realidade foi brutalmente diferente”, confessou. As memórias da tragédia ainda perseguiam Grovner, que se via gritando em seus sonhos, tentando fazer o que estava além de seu alcance.
A situação não só abalou os quatro cantos da pequena ilha, mas também levantou questionamentos sobre a infraestrutura e os serviços de emergência disponíveis. Residentes de Hog Hummock apresentaram processos judiciais em 2015 contra o condado de McIntosh e o estado, argumentando que careciam de serviços básicos, especialmente em situações de emergência como esta. Em 2022, após um acordo, as autoridades concordaram em construir um pouso para helicópteros na ilha, demanda que não foi atendida até o momento, mediante críticas dos moradores, que alegam que ações que poderiam ter sido implementadas antes da tragédia não foram adotadas.
A cultura Gullah-Geechee, que resiste através de gerações, compreende uma rica tapeçaria de tradições africanas entrelaçadas com a história local. A comunidade, predominantemente localizada em Hog Hummock, viveu sob a sombra da perda, enquanto o festival de cultura se transformou em um luto coletivo. “Isso é devastador”, disse Jazz Watts, um residente, ao descrever a cena de socorro, em que muitos eram carregados da água, cobertos por cobertores, sem vida. A preocupação com a preservação da cultura local se intensifica diante da crescente pressão de interesses externos, que vêm para transformar e urbanizar a região.
A tragédia na passarela de Sapelo Island não é apenas um lembrete sombrio da fragilidade da vida, mas também uma convocação para a ação em nome da segurança e da preservação cultural. Em um momento em que a comunidade se recupera de uma perda insuportável, a esperança permanece na resiliência de seus membros e na determinação de seus líderes em buscar respostas, garantindo que eventos como este nunca mais se repitam. O luto profundo das famílias enlutadas se entrelaça com a dor coletiva de uma comunidade inteiramente dedicada à preservação de suas raízes e ao cuidado mútuo entre seus integrantes.