Seul, Coreia do Sul — O frio cortante do mês de janeiro não impede os apoiadores fervorosos do presidente suspenso Yoon Suk Yeol de se reunirem em frente à sua residência. Empunhando bandeiras dos Estados Unidos e portando chapéus semelhantes ao famoso “Make America Great Again” (MAGA), essas multidões ecoam gritos de campanhas tão polêmicas quanto o famoso “Stop the Steal”. O movimento, que ganhou notoriedade nos Estados Unidos durante o tumultuado período pós-eleitoral de 2020, agora encontra eco a 11.000 quilômetros de distância, onde o futuro político de Yoon está em jogo, em um cenário de grande instabilidade.
A situação política da Coreia do Sul está em um estado de caos, com Yoon tendo resistido a uma tentativa de prisão na última sexta-feira. As investigações sobre sua administração estão aumentando, com acusações de insurgência e abuso de poder. Ele se viu em uma manchete de conflitos, envolvendo uma declaração dramática de lei marcial que, embora breve, agitou o país e aumentou ainda mais as divisões entre apoiadores e opositores. Desde a votação de impeachment do mês passado, em que legisladores de seu próprio partido se uniram contra ele, Yoon permaneceu no cargo, mas sem poder real, enquanto o tribunal constitucional se prepara para decidir seu destino na primavera.
Como ex-procurador, Yoon faz declarações impulsivas e desafiadoras à elite política e à lei, enfatizando sua disposição de lutar até o fim. Em um cenário carregado de incertezas, a oposição política está clamando por justiça, enquanto os apoiadores de Yoon persistem em ver suas ações como defesa da democracia. Essa assimetria reflete a polarização crescente no país, com o nacionalismo conservador ganhando destaque apesar da falta de evidências concretas que sustentem as alegações de fraude eleitoral.
A narrativa de “Stop the Steal”, que alude a uma suposta manipulação dos resultados eleitorais, encontrou ressonância entre os grupos conservadores da Coreia do Sul, que anseiam por um líder forte e protetor, especialmente em tempos de crescente tensão geopolítica com o Norte e com a China. Este paralelo com a situação política norte-americana, onde o ex-presidente Donald Trump fez uso de slogan semelhante, reflete como as conexões entre o conservadorismo americano e sul-coreano estão se estreitando, transformando a cena política em uma arena onde discursos de extrema direita estão se tornando predominantes.
Yoon é visto como um aliado conservador dos Estados Unidos, defendendo uma linha dura contra as ameaças da Coreia do Norte. Contudo, seus apoiadores não nega o uso de símbolos e slogans norte-americanos, vendo neles uma conexão com a luta contra o que acreditam ser uma injustiça similar àquela vivida por seus homólogos americanos. A venda de bonés inspirados no movimento MAGA a preços acessíveis destaca essa interconexão, com as mensagens de solidariedade e lealdade a Yoon em letras brancas e informações em coreano.
Enquanto Yoon confronta a pressão da investigação sobre possíveis insurreições, seu grupo de apoiadores continua a se reunir, acampando pacificamente, mas determinados em sua convicção de que ele é o verdadeiro líder. Frases de apoio e slogans ressoam não apenas em Seul, mas ecoam nas redes sociais, onde os grupos de direita começam a solidificar uma narrativa que busca solidificar o apoio popular em torno de sua causa.
A influência americana no conservadorismo sul-coreano
A aliança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos remonta a décadas atrás, e agora, à medida que o país enfrenta as consequências de uma eleição desafiadora, essa relação se mostra cada vez mais relevante. O conservadorismo na Coreia do Sul, representado pelo partido de Yoon, People Power Party, se conecta profundamente aos movimentos conservadores e evangélicos americanos. Isso se torna evidente quando olhamos para a narrativa de que a eleição de abril de 2024 foi “roubada”, um grito de guerra que parece alinhar os dois países em um mesmo eixo de resistência contra o que consideram ser a radicalidade política da esquerda.
Tal analogia, enquanto seduz alguns a fazer comparações diretas entre os acontecimentos nos EUA e na Coreia do Sul, também levanta questões sobre a validade dessas conexões. Muitos analistas políticos, incluindo professores universitários, afirmam que essas construções retóricas podem ser desconectadas da realidade. A constante busca por assegurar que a negativa de fraude prevaleça caso Yoon seja efetivamente deposto, por outro lado, mostra o profundo enredamento do conservadorismo sul-coreano com narrativas que transformam a luta pela democracia em uma batalha ideológica.
Por fim, enquanto a tensão política e as divisões sociais na Coreia do Sul parecem se aprofundar, a confluência dos eventos reflete a imprevisibilidade do presente e um futuro nebuloso. Em um mundo onde a política é cada vez mais interligada, observamos que as ideologias não conhecem fronteiras, definindo a natureza da luta política que, sem dúvida, será permanente.