Na semana passada, a FOX estreou a nova comédia Going Dutch, que apresenta a história de um pai conservador (Denis Leary) que precisa se reconectar com sua filha liberal distante (Taylor Misiak). Agora, enquanto o pai se lamenta que não é mais politicamente correto usar a palavra “anão”, a série Shifting Gears faz sua estreia na ABC, focando em uma dinâmica semelhante. Neste novo sitcom, produzido por Mike Scully e Julie Thacker Scully e estrelado por Tim Allen e Kat Dennings, temos a história de um pai conservador que, assim como o anterior, também precisa lidar com uma filha que se alinha aos valores progressistas.

O protagonista, Matt, interpretado por Allen, é um viúvo crente que luta para se conectar com sua filha Riley, agora distante e mãe de família. A narrativa central gira em torno da tentativa de compreender e aceitar diferenças ideológicas em um ambiente familiar já desgastado pelas trocas de ressentimentos e ausências. O sitcom tenta, em sua essência, refletir a complexidade dos laços familiares contemporâneos, mas peca ao não conseguir tecer uma crítica social mais incisiva à modernidade e ao que dela se espera.

Nos primeiros episódios, Matt se torna um ícone do “boomer” que observa o mundo à sua volta, fazendo observações que podem gerar risadas, mas que, ao mesmo tempo, revelam uma incompreensão em relação à nova geração. A personagem de Dennings, Riley, que tinha a expectativa de ter uma grande carreira, acaba tendo que lidar com a realidade de ter se afastado de seus sonhos, após um casamento fracassado, e como isso influencia seu relacionamento com o pai. Ao contrário do que a sinopse pode sugerir, Matt e Riley não são tão antagônicos, o que reduz a tensão que a premissa da série poderia oferecer.

Com um cenário comum e familiar do humor norte-americano, a série não parece disposta a apresentar um frescor em sua narrativa, permanecendo presa a fórmulas batidas e temas excessivamente simples. Entre as tentativas de interação, o espectador é levado a entender que a comédia caminha em um tom quase cartoon, limitando momentos de maior profundidade emocional que poderiam fazer deste sitcom algo mais significativo e provocador.

Comédia familiar tanto clássica quanto moderna pode por vezes pegar um atalho para o humor, mas parando em raciocínios rasos pode acabar arrastando a trama para o abismo do tedioso. O importante é que, apesar de alguns momentos engraçados, como as intervenções de Matt em relação aos filhos de Riley, não há um desenvolvimento real das histórias ou a composição de arcos envolventes para os demais personagens. O que resta é um formato que, assim como os carros que Matt restaura, precisaria de uma atualização significativa para promover um impacto real no público e instigar a reflexão.

Ao final do dia, Shifting Gears proporciona um entretenimento leve e familiar, com a promessa de um retorno às raízes de Tim Allen na TV. No entanto, o que fica é uma sensação de que a série poderia investir mais em suas mensagens, se apropriando da relevância política atual e, assim, se destacando em meio a tantas produções que circulam na grade televisiva. Se você é fã do estilo de comédia estritamente focada no cotidiano familiar, a série pode ser uma escolha agradável, mas se a busca é por algo que vá além do convencional, talvez ainda seja necessário “mudar de marcha” e buscar alternativas mais ousadas.

Por fim, enquanto a série tenta explorar novas conversas através das dinâmicas de pai e filha, ela também poderia ser uma plataforma para discutir tópicos culturais mais amplos. Nesse sentido, Shifting Gears pode apelar para as histórias de reconciliação, aceitação e adaptação às mudanças do mundo contemporâneo. Assim, o público pode realmente obter de volta o que sempre procurou nas comédias familiares: risos, identificação e, mais que tudo, conexão.

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