Tim Barat, um ex-lineman que trabalhou em uma empresa elétrica na Austrália e viveu as dificuldades dos incêndios florestais de Black Saturday em 2009, decidiu que o seu futuro deveria estar longe da linha de frente, especialmente após sua mudança para os Estados Unidos em 2013. Embora sua experiência o tenha moldado, a segurança tornou-se uma preocupação para sua esposa, que expressou sérias reservas sobre sua continuidade nesse caminho tão arriscado. Diante dessa nova realidade, Barat resolveu voltar a estudar, obtendo seu mestrado em engenharia elétrica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Contudo, a curiosidade por linhas de energia e seus mistérios nunca deixou sua mente e, ao invés de evitá-las, ele decidiu escutá-las.
Nós, seres humanos, não conseguimos perceber a eletricidade da mesma forma que sentimos sua força. É possível sentir a eletricidade através da eletrificação de nosso corpo, mas isso não é uma forma ideal de atuação em uma profissão que demanda atenção e segurança. Barat destaca que, durante as falhas de energia, os linemen utilizam outros sentidos para entender e diagnosticar o problema: “Geralmente, estamos vendo, ouvindo e sentindo como os transformadores vibram de maneiras diferentes”. Ele fala sobre a prática de bater em um poste com um martelo para ouvir o som e determinar se ele está ocasionalmente oco, uma técnica que visa garantir a segurança ao escalar postes.
A realidade, no entanto, é que esse processo é intensivo, demandando que trabalhadores percorram longas distâncias para localizar a origem de uma falha. A busca pode ser desencadeada por uma variedade de fatores, desde galhos de árvores caídos em fios até esquilos que causam curtos. “Algumas empresas gastam centenas de milhões por ano apenas com essas patrulhas”, afirma Barat, enfatizando a necessidade de uma abordagem mais eficiente e moderna.
Com essa visão em mente, Barat se uniu a Abdulrahman Bin Omar e Hall Chen para fundar a Gridware. A inovação que a empresa trouxe para o mercado é um dispositivo que “ouve” os problemas elétricos. Barat compara a rede elétrica a uma grande guitarra, afirmando que, como precisamos ouvir a música, é crucial monitorar as propriedades físicas da rede. De acordo com ele, os cabos, postes e transformadores emitem sons distintos dependendo das circunstâncias em que são afetados. Isso pode incluir colisões com veículos, impactos por ventos fortes ou galhos de árvores em queda. O diferencial da tecnologia da Gridware é que os sensores, que são instalados em postes logo abaixo das linhas, não estão conectados às próprias linhas, mas sim à vibrações e sonoridades que a inteligência artificial da empresa foi treinada para reconhecer.
O processamento dos dados ocorre em cada dispositivo e, quando o software detecta uma possível falha, ele envia as informações de localização e características do problema para a nuvem através de conexões celulares ou via satélite. Em caso de sinal fraco, outros dispositivos podem atuar como retransmissores. Cada unidade, do tamanho de um iPad, opera com energia solar, podendo ser rapidamente instalada, já que não precisa tocar as linhas elétricas energizadas. Barat aponta que cada dispositivo pode ser montado em menos de 15 minutos, permitindo que as operações continuem com segurança.
Em termos financeiros, a Gridware conseguiu um fluxo de caixa positivo ano passado, mas Barat identificou uma oportunidade para ampliar os investimentos. Recentemente, a empresa anunciou uma captação de 26,4 milhões de dólares na rodada de investimentos Série A, liderada pela Sequoia, com a participação de investidores existentes como Convective Capital e Lowercarbon Capital. “Essa captação foi bastante simplificada, visto que não estávamos desesperados por recursos”, comentou Barat.
Atualmente, a Gridware monitora mais de 1.000 milhas de linhas de energia para 18 empresas, utilizando dispositivos instalados em 10.000 postes. A empresa já colaborou com grandes nomes como PG&E e ConEd, assegurando que os dispositivos relatam com precisão as ocorrências em campo. No entanto, antes que a Gridware pudesse se instalar oficialmente, Barat precisava validar a funcionalidade dos dispositivos. Para isso, ele construiu sua própria infraestrutura, com postes de 55 pés e vãos de 200 pés, criando diversas situações que simulam falhas de energia, desde a destruição e explosão de transformadores até a queda de árvores em linhas de energia. Quando questionado sobre a reação de sua esposa a estes testes extremos, ele menciona que “recebeu algumas punições”, no entanto, os resultados falam por si: a tecnologia da Gridware já responde a três a quatro eventos por dia na vida real.
A abordagem inovadora e a dedicação de Barat à segurança e eficiência na energia não apenas transformaram a maneira como falhas são detectadas, mas também colocaram a Gridware na vanguarda da tecnologia elétrica, mostrando que a escuta atenta do que acontece nas redes é fundamental para a proteção e melhoria do serviço. A empresa está se posicionando para um futuro onde a tecnologia e a natureza andam lado a lado, garantindo que a eletricidade continue a fluir sem interrupções.