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Altagracia, uma valente hondurenha, deixou seu lar em Siguatepeque, no coração das montanhas da Honduras, com um objetivo claro: chegar aos Estados Unidos para buscar asilo e reunir-se com seus filhos, que há muito estavam longe. Porém, após meses de viagem através da América Central e do México, Altagracia se deparou com uma notícia que a deixou em estado de ansiedade: Donald Trump havia vencido a eleição, prometendo implementar uma política dura contra a imigração, o que a fazia temer que suas oportunidades de conseguir asilo nos Estados Unidos diminuíssem drasticamente.

“Quando Trump assumir o poder, dizem que ele não vai nos deixar entrar”, disse Altagracia, que pediu anonimato para proteger sua busca por asilo, em uma conversa telefônica de um abrigo no sul do México. Enquanto contava sua história, a tensão era palpável, tornando-se cada vez mais uma corrida contra o tempo para que ela e seus familiares chegassem à fronteira com os Estados Unidos antes da posse de Trump em 20 de janeiro.

A preocupação de Altagracia reflete a situação de muitos migrantes que estão fazendo a mesma jornada, agora alarmados pelas promessas de Trump de fechar a fronteira e iniciar uma massiva operação de deportações. “No meu primeiro dia de volta ao escritório Oval, vou assinar uma série de ordens executivas históricas para fechar nossa fronteira a imigrantes ilegais e interromper a invasão ao nosso país”, declarou Trump em um evento em Phoenix, Arizona, ressaltando suas intenções de imigratórias que ecoaram entre muitos que esperavam ansiosamente por uma nova vida nos EUA.

A situação de Altagracia chega em um momento em que as apreensões de imigrantes nos EUA estão no nível mais baixo desde 2020. Durante o mês de novembro, quando Trump venceu as eleições, as autoridades aduaneiras e de fronteira registraram aproximadamente 46 mil encontros na fronteira, o menor número em quase cinco anos. Essa queda ocorre em meio a ações executivas do atual presidente Joe Biden, que buscou reformar as políticas de imigração de seu antecessor. No entanto, muitos migrantes acreditam que essas políticas podem mudar rapidamente com a ascensão de Trump ao poder.

Uma corrida contra o tempo

Altagracia não está sozinha em sua luta. Desde que deixou sua cidade natal em outubro, após receber ameaças de morte e ver membros da sua família serem assassinados por gangues, a pressão aumentou. Ela e seus familiares enfrentaram diversos obstáculos, incluindo assaltos e falta de dinheiro para comida. “Fomos roubados por cartéis e agora dependemos da ajuda de ativistas e abrigos. Estamos à mercê de pessoas bondosas”, desabafou Altagracia, exausta, mas determinada a continuar.

“Todo mundo quer chegar antes de Trump”, disse um migrante cubano ao abordar a questão da iminente posse do presidente. Preocupados com a possibilidade de ser fechado o acesso à fronteira, muitos migrantes estão apressando sua jornada, alguns, como a venezuelana Adriana Robles, expressam uma esperança cautelosa. “Acredito que informações sobre Trump foram distorcidas e espero que ele faça a coisa certa”, disse ela, enquanto compartilhava sua visão de que nem todos os migrantes são uma ameaça ao país.

O impacto do novo governo

O fato é que, embora as apreensões de migrantes tenham diminuído consideravelmente, as promessas de Trump de deportações em massa e fechamento das fronteiras têm um efeito psicológico significativo sobre aqueles que sonham em chegar aos Estados Unidos. Especialistas apontam que muitos migrantes continuam a partir devido a condições insustentáveis em seus países de origem. Sejam por motivos de segurança, como Altagracia, ou econômicos – a realidade é que as necessidades humanas muitas vezes excedem as limitações impostas pela política.

Assim, enquanto os números de cruzamentos diminuem, a determinação dos migrantes em busca de uma vida melhor persiste, levando-os a seguir em frente, mesmo diante das ameaças de um novo governo que parece querer intensificar a repressão. Maria, uma migrante de um país afetado pela violência, declarou sua esperança de conseguir uma chance de contar sua história, assim como Altagracia faz. “Estamos decididos a tentar, não temos tempo para desistir”, disse Maria com firmeza.

O próximo movimento do México

O governo mexicano está respondendo à nova dinâmica com um potencial aumento na construção de abrigos ao longo da fronteira para a possível recepção de deportados. A presidente Claudia Sheinbaum já mencionou que o país está pronto para agir e assistindo os migrantes que atravessam suas terras. O México, assim, se vê em um papel crucial na gestão da migração que vem da América Central.

Com desafios sem precedentes na fronteira, a solidariedade entre os migrantes e aqueles que ajudam a acolhê-los parece ser a força que impulsiona essa mobilização. A jornada não é fácil, mas a esperança brilha forte em meio às incertezas políticas e sociais.

Altagracia, ao deixar o abrigo em Oaxaca, reafirma sua determinação: “Não temos tempo a perder. Estamos aqui na luta, nossos sonhos não podem esperar.”

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