O mercado de trabalho americano está prestes a receber um potencial novo incentivo fiscal que poderia impactar milhões de trabalhadores, especialmente aqueles do setor de serviços. Durante sua campanha presidencial, o presidente eleito Donald Trump anunciou sua intenção de eliminar os impostos sobre gorjetas, uma proposta que já recebeu apoio do vice-presidente Kamala Harris e que está em pauta no Congresso. No entanto, essa promessa é mais complicada do que parece à primeira vista e levanta questões significativas sobre quem realmente se beneficiaria.
Cindy Kramer, uma trabalhadora de 38 anos que gera uma carga de trabalho superior a 60 horas semanais em Staten Island, Nova York, exemplifica as dificuldades que muitos enfrentam. Ela exerce múltiplos empregos, incluindo duas funções como bartendedora, o que a leva a apoiar fervorosamente a proposta de Trump. Para ela, a eliminação do imposto sobre gorjetas poderia representar uma fonte adicional de renda. Isso se torna ainda mais relevante quando se considera o ajuste financeiro necessário para sustentar sua família.
No entanto, a questão de quem realmente se beneficiaria com a eliminação desse imposto é mais complicada. A realidade é que a maioria dos trabalhadores que poderia se beneficiar da proposta – incluindo servidores de restaurantes e trabalhadores da hotelaria – ganha tão pouco que não pagam imposto de renda federal. Em 2022, por exemplo, uma significativa parcela de 37% dos trabalhadores que dependem de gorjetas não atingiu o limite de renda que os obrigaria a pagar impostos. Dessa forma, a proposta de Trump parece alcançar apenas uma fração do total de trabalhadores com gorjetas.
A proposta inicial de Trump era eliminar não apenas o imposto sobre gorjetas, mas também os impostos sobre a renda federal e a folha de pagamento relacionados a elas. Embora essa ideia possa soar atrativa, ainda não há clareza sobre como isso poderia ser implementado de maneira eficaz e viável. Detalhes específicos do plano ainda são escassos, e muitos economistas expressam ceticismo em relação à sua viabilidade operacional.
A promessa de cortar impostos foi uma das razões significativas pelas quais algumas comunidades optaram por Trump nas últimas eleições. Em um contexto onde a inflação tem causado pressão sobre os bolsos dos americanos, a proposta ressoou junto ao público em geral, especialmente entre aqueles que lidam com dificuldades financeiras diárias. A economia, que continua a se recuperar da pandemia de COVID-19, deixa muitos trabalhadores lutando para pagar suas contas mensalmente, tornando a proposta ainda mais atraente.
Quem realmente se beneficiaria da eliminação do imposto sobre gorjetas?
Dados de 2023 indicam que cerca de 4 milhões de trabalhadores estão empregados em ocupações que dependem de gorjetas, representando aproximadamente 2,5% do total do emprego nos Estados Unidos, segundo o Budget Lab da Universidade de Yale. Esses trabalhadores tendem a ser mais jovens e enfrentam desafios de rendimento, uma vez que muitos estão em empregos de meio período que mal cobrem suas despesas diárias.
Além disso, a proposta pode ter um impacto dispar durante suas implementações, com o proprietário da cadeia de restaurantes Sweet Chick, John Seymour, mencionando que seus funcionários em tempo integral provavelmente estariam dentro do limite para pagar impostos. Contudo, muitos trabalhadores do setor de serviços em cidades como Nova York enfrentam a dura realidade de que seus salários e gorjetas mal atingem os requisitos mínimos de sobrevivência.
Embora simplificar a tributação sobre gorjetas possa parecer benéfico, muitos críticos afirmam que essa mudança pode não trazer alívio para todos os trabalhadores. A especialista em política econômica, Heidi Shierholz, advertiu que a questão é bastante complexa e que é inadequado pensá-la apenas como uma questão de cortar impostos.
Implicações fiscais e questões a serem consideradas
Os críticos também levantam questões sobre as complexidades de eliminar impostos sobre gorjetas sem considerar as contribuições para a seguridade social e Medicare. Atualmente, todos os trabalhadores nos Estados Unidos pagam impostos sobre a folha de pagamento sobre seus primeiros rendimentos, e qualquer mudança nessa estrutura poderia impactar negativamente os benefícios de seguridade social dos trabalhadores que costumam depender desse desafio de rendimento.
A proposta de Trump, além das complexidades fiscais, vem com questões sobre como evitar abusos legais que poderiam surgir se não houver salvaguardas adequadas. As sugestões de reclassificação de comissões e bônus como gorjetas tornam o assunto ainda mais delicado na arena legislativa, exigindo cuidadosa consideração ao criar tais políticas.
Embora a ideia de eliminar impostos sobre gorjetas possa parecer uma solução viável em um primeiro momento, muitos especialistas estão insistindo que um aumento no salário mínimo para trabalhadores que recebem gorjetas poderá resultar em impactos mais significativos em suas vidas trabalhistas. O salário mínimo federal para trabalhadores com gorjetas é de apenas $2,13 por hora, um valor que não é ajustado desde os anos 90. Para especialistas como Tedeschi e Shierholz, a verdadeira solução para ajudar os trabalhadores está relacionada a aumentar a remuneração mínima e garantir um salário digno, ao invés de simplificar o código tributário.
Como a conversa política continua a evoluir, as expectativas estão se formando em torno das futuras diretrizes que poderão contemplar todos os trabalhadores, não apenas aqueles que operam em profissões que dependem de gorjetas. O desafio reside em assegurar que as políticas sejam inclusivas e ajudem a levantar o padrão de vida de todos os empregados, reconhecendo que, em última análise, a luta contra a pobreza no trabalho é uma responsabilidade compartilhada que requer atenção e ação coesa.
O Σύστημα κοινωνικής ασφάλισης (Sistema de Seguridade Social) americano já enfrenta desafios de solvência, e ações precipitadas na mudança de impostos que afetam esse sistema podem resultar em consequências devastadoras para o futuro dos trabalhadores. Resta ver como se desdobrará esse debate e quais serão as soluções que o governo decidirá implementar para os trabalhadores mais vulneráveis do país.