Na quarta-feira, a prometida prisão de um suposto líder de uma quadrilha de crimes baseada no Japão tomou um novo desdobramento. Takeshi Ebisawa, de 60 anos, assumiu a culpa diante do tribunal federal de Manhattan, respondendo a acusações graves que indicam sua tentativa de traficar urânio e plutônio de Mianmar, acreditando que o Irã os utilizaria para desenvolver armas nucleares. Este caso não apenas expõe os labirintos do crime organizado internacional, mas também levanta alarmes sobre as implicações globais do tráfico de materiais nucleares.
Na audiência, Ebisawa reconheceu as acusações de tráfico de armas e narcóticos, que têm uma pena mínima obrigatória de 10 anos de prisão, podendo resultar em prisão perpétua. A sentença está marcada para ser pronunciada em 9 de abril. A gravidade das alegações que pesam sobre ele reforça a necessidade de vigilância global contra redes criminosas e o uso de materiais perigosos.
De acordo com os promotores, Takeshi Ebisawa não tinha ciência de que estava se comunicando, entre 2021 e 2022, com um informante da Administração de Combate às Drogas (DEA) e um associado deste informante que se passava por general iraniano. Ebisawa foi preso em abril de 2022 durante uma operação disfarçada da DEA em Manhattan, onde os limites do crime internacional foram expostos de forma chocante. Anne Milgram, administradora da DEA, declarou que a investigação evidenciou a habilidade sem igual da agência em desmantelar redes criminosas perigosas em âmbito global.
O procurador dos EUA interino, Edward Y. Kim, comentou que Ebisawa admitiu em seu pedido de culpa que ele “traficou de maneira audaciosa materiais nucleares, incluindo plutônio de grau de armamento, a partir de Mianmar”. Ele também destacou que, paralelamente, o acusado estava envolvido no envio de grandes quantidades de heroína e metanfetamina para os Estados Unidos, em um esquema que envolvia a troca de armamentos pesados, como mísseis superfície-ar, para serem utilizados em campos de batalha em Mianmar.
Os documentos do tribunal revelam que Ebisawa – identificado como líder da infame máfia japonesa, a Yakuza – informou a um informante da DEA em 2020 que tinha acesso a uma quantidade significativa de materiais nucleares que desejava vender. Para corroborar essa afirmação, Ebisawa enviou imagens ao informante mostrando substâncias rochosas com contadores Geiger medindo radiação, alegando que continham tório e urânio.
As origens do material nuclear enquanto os promotores alegam que provêm de um líder não identificado de um “grupo insurgente étnico” em Mianmar, que extrai urânio no país. Ebisawa sugeriu que o líder vendesse urânio por meio dele para financiar a compra de armas do ‘general’, conforme os documentos do tribunal.
Exames de amostras dos alegados materiais nucleares foram realizados em um laboratório federal dos EUA, que confirmou a presença de urânio, tório e plutônio. Além disso, os peritos constataram que “a composição isotópica do plutônio” era de grau de armamento, o que significa que seria suficiente para ser utilizado em uma arma nuclear.
Os promotores também afirmam que Ebisawa conspirou para vender 500 quilos de metanfetamina e 500 quilos de heroína a um agente disfarçado, que seriam distribuídos em Nova Iorque. Ele também estava supostamente envolvido na lavagem de US$ 100.000 em supostos lucros de narcóticos dos EUA para o Japão, amplificando a gravidade de seus crimes.
A atuação de Ebisawa levou a situações que não envolviam apenas a legislação sobre tráfico de drogas, mas que se entrelaçaram com questões de segurança nacional. O procurador Edward Y. Kim reiterou que, como admitido no tribunal federal, Ebisawa estava envolvido em atividades extremamente perigosas que ameaçam a segurança pública não só nos EUA, mas globalmente.
Por último, é importante ressaltar que, de acordo com o Agência Nacional de Polícia do Japão, a adesão à Yakuza diminuiu para 20.400 membros em 2023, um terço do que era há duas décadas, resultado de legislações rigorosas que combatem o crime organizado e bloqueiam membros de grupos designados de acesso a bancos, locação de apartamentos, aquisição de celulares ou seguros.