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Na última segunda-feira, uma emocionante história de vida se desenrolou no mar Mediterrâneo, quando uma menina nasceu a bordo de um bote de migrantes que se dirigia à Espanha. O nascimento ocorreu em meio a uma jornada repleta de desafios, segundo relatórios do serviço de resgate marítimo espanhol.
A equipe de resgate da Espanha, operando a partir das Ilhas Canárias, avistou o bote inflável, que transportava 60 pessoas, incluindo 14 mulheres e quatro crianças, próximo à costa da ilha de Lanzarote. Relatos locais indicam que a mãe havia dado à luz apenas 15 minutos antes da chegada dos socorristas.
Domingo Trujillo, capitão do barco de resgate Guardamar Talía, descreveu a experiência como uma das mais “belas” e “emocionantes” de sua carreira. Em uma entrevista ao canal RTVE (Rádio e Televisão da Espanha), ele compartilhou que não era a primeira vez que se deparava com um nascimento a bordo de uma embarcação de migrantes, tendo cortado o cordão umbilical de um bebê nascido durante uma travessia semelhante em 2020.
É importante destacar que as Ilhas Canárias, um arquipélago espanhol situado na costa noroeste da África, registraram um aumento de 17% na migração irregular em 2024, de acordo com o Ministério do Interior espanhol. Os migrantes que chegam à região vêm principalmente de países como Mali, Senegal e Marrocos, como afirma a agência de fronteiras da União Europeia, Frontex.
Este aumento no número de migrantes é atribuído à deterioração da situação de segurança e humanitária nas regiões da África Ocidental, transformando a rota do Atlântico na nova linha de frente da migração para a Europa. De acordo com dados da organização não governamental Caminando Fronteras, essa rota se tornou a mais mortal do mundo, com registros alarmantes de mortes durante as travessias.
Em um relatório recente, a Caminando Fronteras revelou que ao menos 10.457 migrantes morreram ou desapareceram enquanto tentavam chegar à Espanha pelo mar entre 1º de janeiro e 5 de dezembro do ano passado, sendo 9.757 desses incidentes relacionados à rota do Atlântico. Sally Hayden, jornalista e autora do premiado livro “My Fourth Time We Drowned: Seeking Refuge on the World’s Deadliest Migration Route”, destacou que a tragédia das mortes em massa continua a ser uma realidade nos limites da Europa.
Hayden observou que histórias de medo e insegurança estão fazendo com que muitos migrantes enfrentem os perigos da rota do Atlântico, pois as alternativas se tornaram ainda mais complicadas. Assim, a busca por uma vida mais segura e digna leva essas pessoas a arriscarem tudo.
O Ministério do Interior da Espanha divulgou um relatório detalhando que, em 2024, quase 64.000 “migrantes irregulares” chegaram ao país, com 73% (46.843) vindo pelas Ilhas Canárias. Essa pressão migratória está gerando tensões políticas em Madrid, onde o Partido Popular, principal partido de oposição, interrompeu negociações com o governo em relação à “crise migratória” enfrentada pelo arquipélago.
Além disso, o governo espanhol está considerando a possibilidade de criar um centro de recepção de emergência para migrantes em um aeroporto nas proximidades de Madrid, conforme indicado por vários meios de comunicação no ano passado. Na última quinta-feira, mais dois barcos de migrantes foram resgatados nas proximidades das Canárias, um deles com 84 ocupantes e outro com 60 pessoas originárias da região subsaariana.