O recente curta-metragem palestino From Ground Zero, uma coletânea de 22 curtas, se destaca como uma poderosa submissão para o Oscar em 2024, e apresenta uma narrativa visceral que representa a realidade do povo de Gaza. As imagens assustadoras que permeiam os filmes capturam a essência de um território marcado por conflitos, mas também revelam um lampejo de esperança e resiliência, essenciais neste momento de adversidade.
Neste panorama cinematográfico, vemos a vida em Gaza sendo retratada através de um mosaico de cenas: desde o zumbido inquietante dos drones sobrevoando a região até o vislumbre desconfortável de corpos presos sob escombros, passagens conhecidas para aqueles que acompanham o sofrimento dos gazenses. O registro incessante da destruição e do desesperado pedido por ajuda tem sido amplamente coberto por jornalistas locais e internacionais, como a renomada Bisan Owda, ganhadora do Emmy, que tem trazido à tona os horrores dos últimos meses da guerra.
A produção é liderada pelo talentoso cineasta palestino Rashid Masharawi e distribuída pela Watermelon Pictures. From Ground Zero não se limita a documentar a vida em Gaza, mas funciona como um canal de expressão para os cineastas, permitindo que eles processem a dor do presente e vislumbrem um futuro transformador, embora incerto. Esse filme se destaca não apenas pela importância da mensagem, mas também pela incrível variedade de estilos e abordagens narrativas que os cineastas palestinos adotaram.
Os curtas, que variam de três a seis minutos, são flexíveis e desafiadores em sua forma — amalgamando elementos de documentário e ficção para contar histórias que vão desde o luto à sobrevivência. Essa gama de narrativas utiliza diferentes técnicas, como o uso de depoimentos em primeira pessoa, somando à força das histórias que emergem da adversidade.
A própria existência de From Ground Zero é considerada uma conquista, especialmente dada a instabilidade que os cineastas enfrentam diariamente em um contexto de violência e destruição. As expressões artísticas, frequentemente vistas como um escape, neste caso se transformam em um ato de resistência. A conexão íntima entre as câmeras e os protagonistas presentes nos curtas destaca a necessidade de se estar perto da realidade, evitando planos mais amplos que poderiam diluir a força emocional da narrativa.
Cada curta oferece um vislumbre de vida, mesmo entre as ruínas. Um exemplo é Sorry Cinema, de Muhammad Al Sharif, que retrata um cineasta que precisa usar seu claquete como lenha. Outra narrativa, School Day, de Ahmed Al Danaf, segue um menino que visita o túmulo de seu professor, buscando estudo na presença de espíritos acadêmicos. Aqui, as histórias ganham vida em meio à adversidade, e apresentam a habilidade dos cineastas em encontrar beleza mesmo nos lugares mais sombrios.
Enquanto muitos filmes podem se concentrar apenas na dor e no sofrimento, From Ground Zero também mostra momentos de leveza, como os sorrisos das crianças durante apresentações de comédia. E é aqui, nesta interseção entre dor e alegria, que reside a verdadeira resiliência do povo palestino — um movimento que não apenas busca documentar a história, mas também celebrar a vida.
Recorrendo à imagem da água, tema central no filme em um contexto de extrema escassez, os curtas mostram a luta dos personagens para conseguir esse recurso essencial, ressaltando a importância simbólica e prática da água em Gaza. Curta-metragens como Recycling, de Rabab Khamis, sem diálogos, falam sobre a experiência de uma mulher que carrega um jerrican de água, reutilizando cada gota preciosa em suas atividades diárias. Da mesma forma, Selfie, de Reema Mahmoud, destaca a busca pela liberdade de expressão em meio a um ambiente opressivo onde cada movimento é uma afirmação de vida.
Finalmente, a mensagem de From Ground Zero ressoa além das paredes da sala de cinema, inspirando reflexão e esperança. Os cineastas palestinos não apenas registram a dor, mas também chamam a atenção para a força de uma cultura que persiste em resistir, criar e sonhar, mesmo à sombra da tragédia. From Ground Zero mostra que, embora o passado não possa ser alterado, o futuro está sempre em construção — e a arte serve como um elo vital entre memórias e aspirações.