A vida pode mudar em questão de minutos, e para a médica emergencial e veterana da Marinha, Dra. Sara Trepanier, essa dura realidade se tornou evidente em uma tarde fatídica. Enquanto passeava com seu cachorro, Dra. Trepanier avistou a fumaça ascendendo das montanhas perto de sua residência em Pacific Palisades, na Califórnia. O que antes era um dia comum rapidamente se transformou em um pesadelo, e a médica não fazia ideia de que em poucas horas seu mundo inteiro se tornaria cinzas.
“Podíamos ver o fogo se espalhando rapidamente pela montanha”, contou Dra. Trepanier, de 56 anos, lembrando da cena caótica que se desenrolou diante de seus olhos. As lembranças daqueles momentos ainda a atormentam, enquanto ela tentava, em vão, contatar sua chefe e seus pacientes. “Foi tudo tão rápido e assustador. Corri para casa para buscar minhas filhas e informar minha chefe que não conseguiria mais atendê-los porque iríamos evacuar”, explicou. Após reunir suas filhas de 14 e 18 anos e o seu cão de 30 quilos, um pastor belga Malinois, a família deparou-se com uma dolorosa realidade: as saídas estava bloqueadas devido ao tráfego intenso gerado pela evacuação em massa.
“Nosso vizinho disse que era impossível deixar a área”, ela recorda. As pessoas estavam abandonando seus carros e se dirigindo para a praia, fugindo da fúria das chamas. “Foi tudo tão rápido e havia uma falta total de comunicação. As pessoas estavam literalmente deixando seus carros e correndo para a praia”, disse.
Dra. Trepanier, natural da Carolina do Norte, nunca havia vivenciado um incêndio na Califórnia. A sensação de impotência aumentou conforme o fogo se aproximava cada vez mais. Um vizinho, que cresceu na área, a tranquilizou, assegurando que o incêndio jamais cruzaria a Sunset Boulevard e que eles poderiam se abrigar em casa. “Mas então vimos as chamas subindo a colina e pensando que, se chegasse à cidade, tudo estaria perdido”, comentou. A esperança logo se desfez quando os bombeiros, tentando conter as chamas, direcionaram toda a água para impedir que o fogo alcançasse a cidade. Ironia do destino, quando o incêndio finalmente atingiu a localidade, não havia mais água para combatê-lo. “Simplesmente deixaram tudo queimar”, desabafou a médica, com a voz embargada pela tristeza.
Com todo o caos, Dra. Trepanier se voltou para ajudar seu vizinho de 90 anos, ajudando-o a entrar no carro do cuidador e iniciar a evacuação. Naquele fatídico dia, depois de horas de desespero, elas conseguiram deixar sua casa às 17h e alcançaram a região de Venice. “Mas nós deixamos tudo, acreditando que voltaríamos em breve”, disse a médica. Uma ilusão que se desfez ao ver as imagens que mostravam que não havia mais casas em sua rua. “Não restou nada, tudo se foi. Isso foi muito traumático. Agora estamos sem casa”, lamentou. O impacto psicológico da tragédia é imensurável e a sensação de perda é palpável.
Embora a Dra. Trepanier esteja temporariamente hospedada com amigos, a busca por um novo lar continua. “Eu mal consigo dormir”, compartilha, lutando contra o estresse e a incerteza. Mãe de quatro filhos, ela enfrenta a complexidade da situação, com dois filhos mais velhos a estudar na Carolina do Norte e suas duas filhas ainda no colégio em Pacific Palisades.
A Dra. Trepanier reflete sobre a velocidade com que o incêndio se espalhou. “Eu fui caminhar por volta das 11h e às 16h já estávamos a duas colinas de distância, assistindo à fumaça tomar conta”, disse. Ela descreveu a cena em sua cidade, afirmando que parece uma apocalipse, onde tudo que tinha um valor emocional se foi em um piscar de olhos. Não apenas sua casa, mas a escola de suas filhas, igrejas e restaurantes que marcaram a vida na comunidade.
Hoje, quase todos os amigos da Dra. Trepanier perderam suas casas. “A única amiga que conheço que teve sua casa preservada teve que ficar por seis horas em cima do telhado jogando água”, ela relatou. “As igrejas, restaurantes e até os supermercados, tudo se foi; não há nada de pé. Tudo se tornou cinzas”, desabafa, sua voz carregada de dor e desilusão.
Para completar a tragédia, a Dra. Trepanier e suas filhas partiram sem essencial, como a carteira e cartões de crédito. “Tivemos que sair correndo”, disse, destacando que, embora tenham conseguido pegar o passaporte, pararam em uma loja para comprar roupas. Para ajudar a Dra. Trepanier nessa difícil fase, uma campanha de crowdfunding foi criada, que pode ser acessada por aqueles que desejam ajudar.
Em meio ao desespero e à incerteza, o espírito de solidariedade emerge. Afinal, em momentos de crise, é a união que pode reconstruir o que foi perdido. A história da Dra. Trepanier e de sua família serve como um lembrete da fragilidade da vida e da força que brota na adversidade.