Na quinta-feira, uma decisão crucial para o futuro do Líbano foi concretizada com a eleição de Joseph Aoun como novo presidente, em um movimento que, segundo analistas, pode indicar um novo capítulo para o Líbano e para a dinâmica política do Oriente Médio. A manobra foi impulsionada por uma intervenção decisiva da Arábia Saudita, que exerceu pressão diplomática significativa para unir os partidos políticos no país, permitindo que Aoun emergisse como o único candidato viável a menos de 24 horas da votação. Essa eleição sinaliza não apenas uma mudança de liderança, mas também um recalibrar das alianças regionais profundamente entrelaçadas.

A situação política do Líbano, conhecida por sua complexidade sectária e lideranças em constante disputa, parecia instável e sem direções claras à medida que se aproximava a data da eleição presidencial. Após mais de dois anos de tentativas frustradas e tentativas de consenso, diversas figuras políticas se revezavam como potenciais presidentes, mas sem conseguir um acordo que unisse as facções rivais. O atual chefe do exército, Aoun, enfrentava forte oposição por seu status militar, sendo questionada sua qualificação constitucional para assumir a presidência.

O clima de incerteza pairava sobre o Parlamento, que estava a beira de sua 13ª tentativa falhada de eleger um presidente. Contudo, no último instante, uma delegação saudita, liderada pelo príncipe Yazid bin Farhan, fez uma nova visita a Beirute, onde se engajou em uma série de reuniões com representantes de todos os setores políticos. Essa inserção social por parte da Arábia Saudita foi crucial para a unificação em torno de Aoun, que rapidamente se tornou o principal candidato avante.

Após a intervenção saudita, 99 dos 128 deputados votaram em Aoun, superando o quórum necessário de dois terços. É pertinente notar que os outros 29 votos foram, em sua maioria, em branco ou inválidos — um até foi destinado a “Bernie Sanders”. O resultado do voto foi emblemático, representando não apenas uma decisão política, mas um indicativo de que as facções políticas estavam em uma nova fase, ou ao menos, um vislumbre de unidade.

O novo presidente chegou ao Parlamento não mais em farda militar, mas vestido de terno e gravata. Aoun prestou juramento e fez um discurso impactante na sua estreia, prometendo uma nova era de estabilidade e, mais provocativamente, a monopolização da posse de armas pelo estado. Ao longo das últimas quatro décadas, o Hezbollah, um dos grupos militantes mais armados do mundo, teve sua influência amplamente contestada. O discurso de Aoun representava um desafio direto a essa força, o que, sem dúvida, acende debates sobre o futuro do grupo em um Líbano que busca restaurar a soberania estatal.

A euforia nas ruas foi palpável, resultando em celebrações que simbolizavam não apenas a chegada de um novo líder, mas a possibilidade de superar um vácuo que perdurou durante os últimos anos. Entretanto, a eleição de Aoun também levantou questões mais amplas sobre a dinâmica do poder no Líbano. Por que a Arábia Saudita se envolveu de forma tão intensa na escolha presidencial, especialmente após anos de relutância em se envolver em um país que considerava “perdido” para a influência iraniana?

Um fator importante que tornou viável a presidência de Aoun foi o apoio inesperado que ele recebeu do Hezbollah e de seus aliados do partido Amal. Este apoio revela a complexidade em que a política libanesa se encontra, onde alianças podem mudar rapidamente. Na votação, o Hezbollah e seus aliados inicialmente se abstiveram, antes de rapidamente se reunirem com Aoun para negociar, convertendo suas cédulas em apoio a seu candidato.

O retorno da Arábia Saudita ao cenário político libanês

Ainda é incerto o que ocorreu nas reuniões que levaram a esse apoio unificado a Aoun. Contudo, o esforço conjunto foi acompanhado por diálogos diplomáticos do Ocidente. França, uma das nações que mantém um canal de diálogo com o Hezbollah, também se envolveu nas negociações, refletindo um dos poucos pontos de contato restantes entre o Ocidente e o grupo apoiado pelo Irã.

O embaixador especial dos EUA, Amos Hochstein, também coordenou reuniões que contribuíram para fortalecer a candidatura de Aoun. Esses desenvolvimentos não passaram despercebidos pelos representantes libaneses. Um deputado independente, Jamil el-Sayyed, comentou: “Não estamos aqui para eleger um presidente, mas para certificar sua nomeação.” Essa afirmação deixa claro que a estabilidade do Líbano parece estar atrelada a influências externas que moldam o futuro do país.

A eleição de Aoun representa uma mudança de marcos no cenário político do Líbano, especialmente quando se considera que seu antecessor foi apoiado pelo Hezbollah e que o governo dele foi amplamente associado ao domínio iraniano. Contudo, a پذیرازت do Hezbollah para o novo presidente foi envolta em um véu de ambiguidade. O líder parlamentar do Hezbollah comentou que sua orientação no voto tinha como objetivo promover “um entendimento nacional”, conforme adotaram uma postura que parece se distanciar de confrontos diretos.

O desafio agora recai sobre Aoun, que não só deverá lidar com a desmilitarização do Hezbollah, mas também com a pressão contínua e a possibilidade de um novo conflito no Líbano. O novo presidente deve se assegurar de que o país não caia de volta em uma guerra civil — uma preocupação alta nas mentes dos libaneses. Ele mesmo reconheceu nas palavras de seu discurso de posse a necessidade de preservar a harmonia entre as facções, ou, como ele disse, evitar que “as facções tentem quebrar a cabeça uma da outra”.

As forças israelenses ainda operam em várias partes do sul do Líbano. O governo de Israel ameaçou prolongar sua presença militar além do prazo estipulado pelo acordo de cessar-fogo negociado pelos EUA. A promessa de Aoun de forçar a retirada das tropas israelenses reinova a responsabilidade que agora pesa sobre seus ombros como novo líder.

Enfrentamos um horizonte incerto, mas há um crescimento no otimismo entre os libaneses. Após anos de sofrimento e desunião, muitos creditam que Aoun representa não apenas uma nova liderança, mas um retorno à legitimidade estatal que o Líbano desesperadamente necessita. Lynn Zovighian, colunista e filantropa, expressou essa confiança ao afirmar que “o Líbano finalmente tem um presidente que traz ao povo libanês e à comunidade internacional tanto uma liderança humana quanto legitimidade estatal.”

Essa é uma nova era? Somente o tempo dirá, mas o pequeno país do Oriente Médio parece pronto para desafiar seus demônios passados e explorar um futuro que, esperançosamente, será marcado por estabilidade e prosperidade.

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