O clima de tensão dentro da comunidade WordPress atingiu um novo patamar recentemente com a decisão de Matt Mullenweg, CEO da Automattic e co-criador do WordPress, em desativar as contas de vários membros da comunidade do WordPress.org. Esses colaboradores estavam liderando um movimento para criar um novo fork do projeto de código aberto. Essa ação não apenas levantou preocupações sobre a governança da plataforma, mas também expôs as relações complexas que existem entre os desenvolvedores, acionistas e usuários do WordPress.

O debate sobre a governança do WordPress não é novidade, mas ganhou força após Mullenweg criticar publicamente a WP Engine — uma empresa de hospedagem que utiliza o WordPress como base — por lucros excessivos sem um retorno proporcional à comunidade. O conflito rapidamente se intensificou, culminando em um processo judicial onde a WP Engine foi banida de acessar recursos essenciais do WordPress. No entanto, um tribunal interveio e ordenou que o acesso fosse restaurado.

Neste ambiente conturbado, figuras influentes da comunidade começaram a se pronunciar. Joost de Valk, criador da renomada ferramenta de SEO Yoast e ex-líder de marketing da WordPress Foundation, divulgou um plano elaborado para uma “nova era do WordPress”, onde mencionou um possível fork com repositórios “federados e independentes”. Karim Marucchi, CEO da Crowd Favorite, expressou concordância com De Valk em um post separado em seu blog. A WP Engine, por sua vez, manifestou que estava preparada para apoiar qualquer movimento corporativo associado ao novo desenvolvimento.

A posição de Mullenweg em relação a um possível fork é intrigante. A ideia de um fork, que acontece quando alguém utiliza o código de um projeto de código aberto para criar uma versão própria, não é uma novidade dentro do ecossistema do WordPress, embora possa resultar em uma comunidade distinta de colaboradores. Em resposta aos comentários e propostas de De Valk e Marucchi, Mullenweg anunciou que, para ajudar a dar um “empurrão” na iniciativa dos dois, iria desativar suas contas no WordPress.org, dizendo que apoiava a ideia de explorar diferentes modelos de liderança.

Além dos comentários sobre o fork, Mullenweg fez outra declaração notable ao desativar as contas de três outros indivíduos: Sé Reed, Heather Burns e Morten Rand-Hendriksen. A decisão gerou surpresas, especialmente para Burns, que observou que não estava mais envolvida com o projeto desde 2020. Em uma declaração no Bluesky, Rand-Hendriksen sugeriu que a decisão de Mullenweg era uma consequência de suas intervenções passadas sobre a governança e a necessidade de um sistema mais transparente dentro do WordPress. Esse tipo de ação levanta questões sobre o quanto a governança atual da plataforma é sensível às críticas e aos apelos a mudanças.

Com a desativação das contas, os usuários afetados perdem a capacidade de contribuir através desse canal específico, seja para o projeto principal ou para plugins e temas relacionados. Entretanto, é importante notar que o projeto também é hospedado no GitHub, permitindo que qualquer um possa criar um fork. Essa abertura é o que torna o WordPress uma plataforma atraente para desenvolvedores e inovadores ao redor do mundo, uma vez que a liberdade de desenvolver e compartilhar ideias é um dos pilares do software livre.

Em um tom que parece irônico, Mullenweg sugeriu que qualquer novo fork poderia ser chamado de “JKPress”, indicando que planos futuros poderiam incluir um cúpula conjunta entre o WordPress e o JKPress no próximo ano. Ele também se mostrou curioso sobre as inovações que De Valk e Marucchi poderiam trazer a este novo projeto, ressaltando que a beleza do código aberto é que eles podem utilizar o código GPL do WordPress e desenvolver sua própria visão, sem necessidade de autorização. “Se eles criarem algo incrível, talvez possamos até integrá-lo de volta ao WordPress. Essa capacidade de fluxo livre entre projetos é uma das forças do que faz o software livre ser um motor de inovação”, concluiu Mullenweg.

Esse desenrolar de eventos coloca em destaque não apenas as questões inerentes ao futuro do WordPress, mas também provoca refletir sobre a relação entre o criador e os colaboradores da comunidade. O que será que o futuro reserva para o WordPress? E se um novo fork realmente se concretizar, como isso afetará a distribuição e a colaboração no universo do código aberto? Essas são perguntas que só o tempo poderá responder.

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