A atual guerra na Ucrânia tem trazido à tona algumas situações inusitadas e inesperadas. Recentemente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky fez uma proposta surpreendente: ele está disposto a liberar soldados norte-coreanos capturados na região de Kursk, na Rússia, em troca de soldados ucranianos que estão atualmente sob custódia nas mãos da Rússia. Essa oferta não apenas revela a complexidade do conflito, mas também destaca a crescente intersecção entre várias nações em conflito e as dinâmicas de poder na região.
De acordo com um comunicado feito na plataforma X, Zelensky afirmou que “a Ucrânia está pronta para entregar os soldados do líder norte-coreano Kim Jong Un, caso ele consiga organizar a troca por nossos guerreiros que estão presos na Rússia”. Essa declaração foi acompanhada de um vídeo que supostamente mostra dois prisioneiros de guerra norte-coreanos sendo interrogados. Essa situação peculiar suscita questões sobre as alianças em jogo e as motivações que levam diferentes nações a se envolverem no conflito, mesmo aquelas que tradicionalmente não são vistas como protagonistas nesse teatro de guerra.
O desdobramento da captura de dois soldados norte-coreanos marcaria a primeira vez que a Ucrânia se vê na posição de capturar soldados vivos do regime isolado de Pyongyang. Apesar das tensões evidentes, até o momento, tanto Moscovo quanto Pyongyang não confirmaram oficialmente a presença de tropas norte-coreanas na Rússia. Em meio a esse cenário incerto, a CNN buscou esclarecimentos com o Ministério da Defesa da Rússia e tentava também um posicionamento oficial da Coreia do Norte, mas sem sucesso até o momento.
No vídeo divulgado por Zelensky, ambos os soldados aparecem visivelmente feridos e as suas respostas parecem ser dadas sob pressão. Um intérprete que fala coreano pode ser ouvido traduzindo as perguntas feitas pelo interrogador. Um dos soldados reportou uma ferida no queixo, enquanto o outro tinha as mãos bandageadas. Durante o interrogatório, um dos soldados, que estava deitado, revelou que não sabia que estava lutando em uma guerra contra a Ucrânia; seu relato afirmava que seus comandantes haviam descrito a situação como um simples exercício de treinamento. Essa narrativa evidencia o controle rígido que o regime norte-coreano exerce sobre seus soldados e a desinformação que pode estar presente nas forças armadas.
À medida que a conversa continuava, o intérprete questionou os prisioneiros se desejavam voltar para a Coreia do Norte. Um deles assentiu, enquanto o outro, sob insistência do tradutor, indicou que preferia ficar na Ucrânia. No entanto, ele posteriormente acrescentou que faria o que lhe fosse ordenado. Zelensky, em seu discurso diário, mencionou que um dos soldados expressou o desejo de permanecer na Ucrânia, um detalhe que pode ressoar com o público, especialmente em um contexto onde muitos buscam alternativas de vida em tempos de conflito.
Estudos apontam que cerca de 11 mil soldados norte-coreanos estão atualmente posicionados na região de Kursk, onde as forças ucranianas detêm o controle de várias centenas de quilômetros quadrados, resultado de uma incursão transfronteiriça realizada no ano passado. A estimativa é que mais de 3 mil soldados norte-coreanos tenham sido mortos ou feridos na região, e um oficial sênior dos Estados Unidos declarou que a Coreia do Norte tem enfrentado “vários centenas” de baixas desde outubro. Este número impressionante reflete as realidades brutais enfrentadas por soldados em conflitos, especialmente aqueles que podem não ter escolhido estar ministrando em combate.
Um porta-voz da Segurança da Ucrânia anunciou que um dos soldados norte-coreanos foi capturado em 9 de janeiro por forças especiais ucranianas, enquanto o outro foi detido por tropas de paraquedistas, indicando uma operação bem-organizada para capturar o inimigo. Em seu comunicado, Zelensky enfatizou que novos soldados norte-coreanos serão capturados com o tempo, afirmando: “Além dos primeiros soldados capturados da Coreia do Norte, certamente haverá mais. É apenas uma questão de tempo até que nossas tropas consigam capturar outros”. Tal postura sugere uma clara determinação por parte da Ucrânia em enfrentar seus adversários a qualquer custo, utilizando estratégias diversificadas.
Além disso, as autoridades em Kiev têm acusado a Rússia de tentar encobrir a presença de soldados norte-coreanos no campo de batalha. Essa alegação ressalta as tensões já exacerbadas entre os dois países e a possibilidade de uma colaboração mais estreita entre a Rússia e a Coreia do Norte, que historicamente têm mantido relações complexas. A proposta de troca de prisioneiros entre Zelensky e Kim Jong Un é única e pode potencialmente alterar as dinâmicas do conflito, mas também levanta questões sobre a legitimidade e a moralidade das práticas de guerra e das alianças internacionais.
Enquanto as negociações continuam e as cartas fiscais são jogadas sobre a mesa, resta saber se a proposta de Zelensky irá avançar e que repercussões isso terá na já complicada teia de relações entre as nações envolvidas. A solução para este impasse não só poderá impactar diretamente as vidas de muitos soldados, mas também poderá ser um reflexo do futuro das relações internacionais na região da Ásia-Pacífico e na Europa.