Nas semanas que antecedem as eleições de 2024, a influência de Elon Musk, proprietário de X (anteriormente conhecido como Twitter), em relação à percepção pública sobre a segurança das eleições tem chamado atenção. Uma investigação da CBS News revelou que Musk acumulou quase 3,3 bilhões de visualizações em sua conta ao disseminar dúvidas sobre a integridade eleitoral desde janeiro deste ano. Essa ação não apenas o consolidou como uma das vozes mais virais em discussões eleitorais, mas também o tornou um aliado poderoso e controverso do ex-presidente Donald Trump, que busca retornar ao posto no cenário político norte-americano. A condução de Musk é vista por muitos como um suficiente combustível para alimentar a desconfiança nos processos democráticos, especialmente em um contexto onde os rumores e a desinformação se espalham com facilidade pelas plataformas digitais.
O impacto das postagens de Musk vai além do simples compartilhamento de opiniões; ele tem se tornado um canal prolífico para a disseminação de informações enganosas sobre as eleições. Em sua primeira aparição solo em um comício pró-Trump em Filadélfia, ele fez uma afirmação polêmica ao dizer que “estatisticamente existem coisas muito estranhas que acontecem que são estatisticamente incrivelmente improváveis”, repetindo alegações já desmentidas sobre a validade dos sistemas de contagem de votos, como as máquinas de votação da Dominion. Mesmo antes de subir ao palco, sua vehemente defesa de teorias da conspiração sobre a segurança eleitoral já havia sido uma constante em sua conta. Em um post que repercutiu amplamente em julho, ele insinuou que o objetivo dos democratas seria “importar o máximo possível de eleitores ilegais”. Tal post conquistou 45,8 milhões de visualizações, demonstrando o alcance e a influência de suas palavras.
Uma análise minuciosa feita pela equipe da CBS News sobre mais de 48.000 postagens de Musk ao longo dos últimos quatro anos revelou que 55% delas continham afirmações falsas ou enganosas sobre a segurança das eleições. A partir de 17.000 dos seus posts deste ano, foram identificados 361 especificamente relacionados ao tema da fraude eleitoral nos Estados Unidos. Mesmo que esses conteúdos representem uma pequena fração das postagens diárias de Musk, suas publicações possuem uma média de 9,3 milhões de visualizações cada, o que demonstra a atenção que ele atraí. Especialistas temem que essa alta taxa de engajamento nessa temática possa trazer consequências sérias, principalmente em um cenário pós-eleitoral em que a confiança na integridade das eleições pode ser severamente abalada.
“Na noite da eleição, se Trump acreditar que está perdendo, é provável que ele espalhe uma quantidade massiva de desinformação sobre a existência de fraude”, afirmou David Becker, diretor executivo do Centro de Inovação e Pesquisa Eleitoral. Becker ainda ressaltou que Musk amplificará essas mensagens para centenas de milhões de pessoas, enquanto os oficiais de eleição estarão ocupados contando os votos. Mekela Panditharatne, do Brennan Center for Justice, corroborou essa preocupação, argumentando que as mensagens de Musk estão despertando temores infundados e preparando o terreno para possíveis contestações injustificadas dos resultados eleitorais.
Conforme suas opiniões políticas evoluem, Musk se distanciará da neutralidade que um ícone da tecnologia poderia manter, favorecendo abertamente a causa republicana. Em junho de 2022, ele revelou que votou no partido republicano pela primeira vez e, desde então, sua crítica ao presidente Biden e seu apoio a Trump se intensificaram significativamente. Após a primeira tentativa de assassinato de Trump em julho de 2024, Musk reafirmou seu apoio ao ex-presidente, descrevendo o momento como crucial para a civilização, libertando-se de seu papel anteriormente apolítico para se tornar um defensor ativo de uma agenda republicana.
A batalha de Musk nas redes sociais para deslegitimar oficiais eleitorais também se intensificou. Recentemente, ele afirmou que o estado de Michigan teria mais eleitores registrados do que cidadãos com direito a voto, uma alegação prontamente refutada pela secretária de Estado de Michigan, Joceyln Benson. A resposta de Musk não só contradisse as correções apresentadas, mas também fomentou um clima de hostilidade e ameaças direcionadas aos oficiais eleitorais, como destacado por Benson, que relatou um aumento no assédio e intimidações em sua equipe em resposta às postagens explosivas de Musk.
Seus posts frequentemente giram em torno de temas que buscam criar desconfiança a respeito da votação por não-cidadãos e das máquinas de votação, com diversas alegações sobre o caráter “perigoso” das opções eleitorais. Cabe ressaltar que a votação por não-cidadãos é uma prática ilegal e apenas 85 casos foram identificados desde 1979 em um total de 2 bilhões de votos, segundo análise do Washington Post sobre dados do conservador Heritage Foundation. Musk, no entanto, continua a propagar as mentiras associadas à votação não autorizada com base no preconceito e em teorias da conspiração amplamente desacreditadas.
A participação da plataforma X, sob o comando de Musk, como meio de amplificação dessas narrativas extremas, levanta inúmeras preocupações sobre a saúde do debate democrático nos Estados Unidos. Especialistas acreditam que enquanto as verdades eleitorais sejam cada vez mais obscurecidas por mentiras e desinformação, a possibilidade da deslegitimação das instituições democráticas tende a crescer. A influência de Musk e sua interação com contas de extrema direita tornam-se uma ameaça não apenas à integridade das eleições de 2024, mas também à confiança pública em todo o processo democrático, que deve ser preservado e respeitado.
À medida que as eleições se aproximam, a expectativa é de que as postagens de Musk continuem a ter um peso significativo na narrativa pública. A batalha pela verdade e pela confiança nas eleições dos Estados Unidos não pode ser subestimada, e a vigilância sobre o comportamento de figuras públicas influentes se torna mais crucial do que nunca para a preservação da integridade eleitoral do país.