O cenário eleitoral nos EUA está passando por mudanças significativas que podem impactar diretamente o desempenho de candidatos tradicionais, como Donald Trump e Kamala Harris, nas próximas eleições. À medida que nos aproximamos do dia crucial da votação, ambos os lados da disputa eleitoral estão intensificando suas estratégias para conquistar não apenas seus apoiadores tradicionais, mas também grupos demográficos que historicamente não fazem parte de suas bases de apoio. Essas transformações são impulsionadas por dados recentes do Censo, que revelam um declínio no número de eleitores brancos sem diploma de ensino superior, ao mesmo tempo em que as proporções de eleitores brancos com diploma e eleitores de cor aumentam. O demógrafo William Frey, em uma análise divulgada com exclusividade, aponta que a porcentagem de brancos sem educação universitária caiu para menos de 40% do eleitorado elegível pela primeira vez, o que representa uma perda de mais de 2 pontos percentuais desde 2020.
Esses dados revelam o que pode ser uma nova realidade política: enquanto os eleitores brancos sem diploma diminuem, os grupos de eleitores brancos com pelo menos quatro anos de faculdade e os eleitores de cor estão crescendo, ambos aumentando sua participação no eleitorado elegível em cerca de 1 ponto percentual. Essa mudança implicou que eleitores brancos bem educados agora representam mais de um quarto do eleitorado, enquanto os eleitores de cor ultrapassam um terço. Essas tendências são cruciais para entender a estratégia de Trump, que tem se esforçado para conquistar um apoio maior entre eleitores negros e latinos, especialmente homens, em sua tentativa de amenizar os impactos que o aumento do voto latino poderá ter para os democratas, notadamente nos estados-chave de Arizona e Nevada.
No entanto, as nuances dessas mudanças vão além dos números e revelam uma dinâmica complexa entre os grupos de eleitores. Um exemplo ilustrativo é como, nas duas campanhas presidenciais anteriores, Trump conquistou uma proporção significativa de brancos sem diploma, semelhante à de Ronald Reagan em 1984, mas com um desempenho geral inferior devido à queda desse grupo no total do eleitorado. Para Trump, que conquistou apenas 47% do voto total em ambas as campanhas, a desmaterialização desse eleitorado tem sido preocupante. Em uma eleição tão acirrada como a atual, pequenas variações na composição do eleitorado nos estados mais disputados podem fazer toda a diferença. Por exemplo, a diminuição acentuada de brancos sem diploma em Michigan e Wisconsin pode ajudar a entender por que analistas consideram a Pensilvânia um desafio maior para Harris.
Ademais, o estudo de Frey não se limita apenas a variações raciais e educacionais; ele aponta que as mulheres deverão compor quase 52% do eleitorado elegível, o que representa um leve aumento em relação a homens que, na periferia, pode beneficiar Harris. No entanto, as diferenças sutis que surgem na dinâmica do eleitorado também indicam que o eleitorado geral se torna progressivamente mais jovem com um crescimento da geração Z, que deverá representar mais de um sexto do eleitorado em comparação a um em cada dez nas últimas eleições. Essa mudança desenha um retrato intrigante no qual ambos os candidatos direcionam suas mensagens para grupos estratégicos; Harris visa maximizar seu apoio entre as mulheres jovens enquanto Trump procura angariar a atenção dos homens jovens, adotando um estilo mais direto e comum entre eles.
Frey também observou que esse declínio no número de brancos sem diploma é um fenômeno que se observa em quase todos os sete estados-chave, à exceção da Carolina do Norte, onde essa base de eleitores cresceu desde 2020. Essa dinâmica está atrelada ao processo de substituição geracional, onde a nova composição da população eleitoral passa a incluir não apenas uma maior diversidade étnica, mas também um eleitorado mais bem educado. Frey destaca que esse grupo mais jovem e educado tende a levar diferentes prioridades e expectativas para com os candidatos, influenciando assim o resultado das eleições.
A evidência das diferenças regionais é também explícita: o eleitorado dos “Rustbelt” (regiões industriais do Norte) apresenta uma base maior de eleitores brancos sem diploma do que nas regiões do “Sunbelt” (regiões do Sul e Oeste), mas a mudança em favor da diversificação nesta última é notável. Trump, por sua vez, estando ciente desse movimento, está adaptando sua abordagem para refletir as necessidades e aspirações de eleitores que não se encaixam no perfil tradicional de sua base, tentando assim ampliar seu alcance. Isso se mostra em seus esforços em associações mais amplas com eleitores de classe trabalhadora não brancos, enquanto Harris expande suas bases para incluir mais potencial entre os brancos educados.
Essas mudanças de estratégia refletem um profundo entendimento de como a demografia do eleitorado está em constante evolução e como ex-ministros como Biden criaram uma relação nostálgica com um eleitorado predominantemente branco e operário. Harris, no entanto, aceita essa nova realidade mais facilmente, impulsionando a mensagem de que o partido está se tornando cada vez mais diversificado e, por consequência, mais centrado no futuro. O elemento de gênero dentro dessa análise é igualmente significativo, uma vez que, mesmo com a queda dos brancos sem diploma, as mulheres ainda se destacam como uma força dominante nas eleições. Portanto, como resultado da complexa intersecção entre raça, educação e gênero, observa-se que Harris provavelmente terá um caminho potencialmente mais favorável, contanto que note e administre as outras forças interativas no eleitorado.
No entanto, os desafios permanecem evidentes. Mudanças nas preferências dos eleitores, marcas de identificação e o apelo contínuo que Trump apresenta à sua base, não apenas de brancos sem diploma, mas também homens jovens, representam um fator determinante que poderá rearranjar as prioridades eleitorais na votação. O aumento da participação dos jovens na base eleitoral geralmente tende a favorecer os democratas e, em temperaturas políticas tão voláteis, é difícil prever exatamente como esses padrões vão se cristalizar. As flutuações nos valores de participação e engajamento dos eleitores nas eleições determinarão muito sobre quem realmente se beneficia dessas mudanças demográficas.
À medida que as eleições se aproximam, fica claro que a reconfiguração contínua da demografia eleitoral americana molda não apenas a narrativa dos candidatos, mas também a própria natureza de como as campanhas são formuladas e como a mensagem é apresentada ao público. Em última análise, a forma como Trump e Harris navegam nesse círculo em transformação será crucial não apenas para suas campanhas, mas, mais amplamente, para o futuro do panorama político americano.