Um luto profundo tomou conta do povo de San Andrés Larrainzar, uma pequena cidade no estado de Chiapas, no sul do México, quando centenas de pessoas se reuniram para homenagear o padre Marcelo Pérez, ativista defensor dos direitos indígenas e dos trabalhadores rurais. O padre, que contava com 50 anos de idade, foi brutalmente assassinado no último domingo, um ato que foi amplamente considerado uma “tragédia anunciada” em um estado devastado pela violência dos cartéis de drogas. Chiapas, uma região que já sofreu com a incessante falta de segurança, vive neste momento um conflito acirrado entre grupos criminosos que têm causado a fuga de milhares de habitantes de suas comunidades.

O velório do padre Marcelo foi marcado por um clima de tristeza e indignação. O funeral, realizado nesta segunda-feira, foi conduzido em espanhol e na língua indígena Tzotzil, que o padre falava fluentemente. Em sua função como sacerdote e defensor da paz, Pérez era uma figura respeitada e amada, sempre disposto a lutar pelos direitos daqueles que mais sofrem em uma sociedade marcada pela desigualdade. As ameaças que ele recebia eram constantes, segundo afirmaram defensores dos direitos humanos, que ressaltaram que o padre não contava com a proteção governamental necessária, mesmo diante dos alertas sobre sua segurança. Conforme o comunicado do Centro de Direitos Humanos Fray Bartolomé de las Casas, os apelos para que o governo mexicano tomasse providências concretas para garantir a vida e integridade do padre foram ignorados ao longo dos anos.

O assassinato de Marcelo Pérez ocorreu enquanto ele se dirigia de van para a igreja de Guadalupe, logo após oficiar uma missa. Dois homens em uma motocicleta interceptaram o veículo e abriram fogo, resultando em sua trágica morte. O escritório do promotor do estado registrou que o ataque foi perpetrado de forma contundente e calculada, sugerindo que suas atividades de mediação e promoção da paz possam ter provocado a ira de um dos cartéis que disputam o controle da região. A importância de Chiapas como rota lucrativa para o tráfico de drogas e imigração clandestina coloca a vida de líderes comunitários em risco constante, como foi o caso de Pérez.

A violência em Chiapas tem suas raízes na luta territorial entre os cartéis de Sinaloa e Jalisco, que, nos últimos dois anos, têm promovido um verdadeiro massacre em busca de domínio. Essas rivalidades não se restringem a conflitos entre bandidos, mas envolvem também a rotina das comunidades, onde famílias inteiras são assassinadas ou forçadas a fugir de casa. Durante a missa em homenagem a Pérez, o Cardeal Felipe Arizmendi, que teve sua base como bispo na região, clamor por uma abordagem mais inteligente e eficaz para desarmar esses grupos violentos. Sua mensagem clara e forte foi direcionada ao governo, que deve agir antes que as tarefas de garantir a segurança recaia sobre as vítimas, que, em sua maioria, já se sentem ameaçadas.

A administração da presidente Claudia Sheinbaum, que assumiu em 1º de outubro, optou por seguir a política de não confrontar os cartéis que seu antecessor havia mantido. Essa estratégia, entretanto, gerou resultados insatisfatórios e a escalada de violência continua sendo uma pesada mancha para o governo. Cardinal Arizmendi, por sua vez, não hesitou em fazer uma crítica contundente ao afirmar que a situação atual reflete não somente o contexto de Chiapas, mas a realidade de todo o México. “É preciso ter coragem para declarar que as coisas não estão bem”, comentou Arizmendi após o serviço em memória do religioso, ressaltando a ineficácia das políticas de segurança existentes.

Marcelo Pérez não era apenas um sacerdote; ele era um baluarte da esperança em meio ao mar de incertezas que assola seu estado natal. Com mais de 20 anos de serviço à comunidade, ele se destacou como um negociador em conflitos que envolviam disputas de terras em uma região montanhosa de Chiapas, fomentando não só a paz entre diferentes grupos sociais, mas também liderando marchas contra a violência. As estatísticas são alarmantes: segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Pérez era o sétimo ativista de direitos humanos assassinado no México em 2024. Historicamente, a onda de assassinatos de clérigos e líderes comunitários continua a soar um alarme sobre riscos de vida que persistem nesse contexto: em 2022, dois padres jesuítas foram mortos dentro de uma igreja e, em 2016, três padres foram vítimas de homicídios em apenas uma semana.

Assim, a morte de Marcelo Pérez não é apenas uma perda individual; representa um golpe profundo na luta pela justiça e pelos direitos humanos no México. O eco de sua voz em prol da paz e da dignidade humana deve perdurar, e que sua memória inspire ação e mudanças reais que ainda são necessárias para restaurar a esperança em um futuro sem violência, onde o respeito à vida humana prevaleça. A responsabilidade agora recai sobre todos nós, como sociedade, para não apenas lamentar perdas, mas para demandar mudanças que farão a diferença em vidas como a dele.

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