A tokenização, conceito em ascensão no setor financeiro, ganha destaque a partir de relatórios recentes do Financial Stability Board (FSB) e do Bank for International Settlements (BIS), que alertam para os possíveis riscos que esta prática pode trazer para a estabilidade econômica global. Com o aumento da digitalização de ativos do mundo real, incluindo valores mobiliários, a tokenização se apresenta não apenas como uma inovação, mas também como um desafio que demanda vigilância e regulamentação adequadas. O presidente do FSB, Klaas Knot, em uma carta destinada ao Grupo dos Vinte (G20), fez um alerta claro sobre as implicações que uma escalabilidade descontrolada da tokenização pode trazer, destacando a importância de uma abordagem rigorosa no que diz respeito à regulamentação e supervisão.
Entendendo a Tokenização e Seus Impactos Potenciais
Tokenização refere-se à digitalização de ativos, uma prática que frequentemente envolve a utilização de tecnologia de registro distribuído. O FSB, em seu relatório publicado recentemente, destacou três vulnerabilidades principais relacionadas à tokenização: o “ativo de referência” que foi tokenizado, os participantes dos projetos baseados em DLT e as interações entre novas tecnologias e sistemas legados. Esses pontos tornam-se cruciais em um mundo financeiro que cada vez mais se volta para soluções digitais, uma vez que a complexidade e a opacidade de produtos financeiros podem aumentar na medida em que a tokenização se expande. “A tokenização pode ter implicações para a estabilidade financeira se escalar significativamente, principalmente se for utilizada para criar produtos complexos e opacos que comercializam de forma automatizada”, afirmou Knot.
Além disso, é importante observar que a atualização do FSB sobre seu roteiro de criptomoeda apontou que a maioria dos países já havia implementado medidas recomendadas para o setor, mesmo assim, o FSB expressou preocupação com as inconsistências que ainda persistem entre nações. As implicações da tokenização devem ser monitoradas de perto, visto que sua evolução pode afetar a dinâmica do mercado financeiro, especialmente em um momento em que mais de 40 empresas se juntaram ao BIS para investigar a tokenização em pagamentos transfronteiriços.
O papel do BIS e as advertências sobre os riscos existentes
O BIS, um dos principais estabelecedores de normas para a regulamentação bancária, lançou um relatório que, embora reconheça os diversos benefícios da tokenização, como a redução de fricções na negociação de ativos entre sistemas distintos, também enfatiza os riscos que permanecem inerentes a sistemas existentes. Esses riscos incluem o risco de crédito, liquidez e cibernético, que podem se materializar de maneiras inesperadas devido às mudanças que os arranjos de tokenização impõem à estrutura de mercado. O relatório destaca que as funções desempenhadas por intermediários podem se alterar significativamente quando funções anteriormente separadas são combinadas em uma única plataforma.
Adicionalmente, o relatório do BIS sugere que potenciais conflitos de interesse podem surgir em decorrência da governança inadequada desses novos arranjos. A mensagem é clara: embora a tokenização ofereça oportunidades atraentes para modernizar e otimizar o sistema financeiro, é necessário um modelo de governança robusto para garantir que a evolução tecnológica ocorra de maneira segura e ordenada. O futuro da tokenização dependerá não apenas de inovações tecnológicas, mas também da habilidade dos reguladores e das instituições financeiras de navegar por essa nova paisagem, minimizando riscos enquanto maximiza os benefícios.
Conclusão: Um Caminho a Ser Percorrido com Cautela
À medida que o mundo financeiro avança em direção à digitalização e à tokenização, fica evidente que os desafios precisam ser enfrentados com um olhar atento e regulatório. A interoperabilidade e a eficiência prometidas pela tokenização não devem ofuscar as preocupações fundamentais com a segurança, riscos de liquidez e governança. As instituições envolvidas nesse cenário precisam colaborar, trocar informações e estabelecer normas claras para que a tokenização possa verdadeiramente contribuir para um sistema financeiro mais resiliente e inclusivo. As recomendações do FSB e do BIS não são apenas uma chamada à ação, mas uma oportunidade para moldar um futuro onde a inovação e a segurança andem de mãos dadas, garantindo que a escalabilidade da tokenização não comprometa a estabilidade econômica global.