A crescente demanda por cimento em áreas urbanas está levando a inovações na indústria, e um exemplo significativo é o subsídio de 20 milhões de dólares que a startup de cimento Furno receberá do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Este investimento é direcionado à construção de até oito micro-fornos em uma planta de concreto localizada em Chicago, uma cidade onde a disponibilidade de cimento não é tão abundante quanto se poderia imaginar. Embora Chicago não pareça um local onde o cimento é escasso, a realidade é que a japonesa Ozinga, parceira de Furno neste projeto, se vê obrigada a adquirir a substância de fontes a até 100 milhas de distância. Com essa nova estrutura de produção, a expectativa é que Furno não apenas reduza a poluição do ambiente, como também elimine custos elevados de transporte que impactam diretamente no preço do cimento.
Atualmente, a Ozinga compra cerca de 60 mil toneladas de cimento anualmente para utilizar em suas operações no Chinatown Yard, no lado sul de Chicago. Na planta, o cimento é misturado com uma combinação de agregados para produzir o concreto que abastece diversos projetos de construção na cidade. As plantas de cimento tradicionais são geralmente grandes instalações que exigem redes logísticas extensas para garantir que o material chegue a seu destino final. Contrapõe-se a isso a abordagem inovadora da Furno, que dimensionou sua nova instalação de acordo com as necessidades mencionadas pela Ozinga, como afirmou o fundador e CEO da Furno, Gurinder Nagra. “Dimensionamos nossa instalação e o projeto para atender precisamente a isso”, declarou Nagra, que fará uma apresentação no TechCrunch Disrupt 2024 em São Francisco, no dia 28 de outubro.
Uma das inovações do Furno está na sua escolha de combustível, que inclui biogás, uma forma de metano gerada a partir da decomposição de matéria orgânica, para operar os novos fornos. Esta escolha, em conjunto com a utilização de materiais reciclados, deverá gerar uma redução significativa dos impactos climáticos associados à fabricação de cimento no local. Não é segredo que a indústria do cimento é uma das mais poluentes do mundo, contribuindo com cerca de 8% das emissões globais de carbono. Este comércio gera poluição durante o processo de calcinação, que envolve o aquecimento de minerais que contêm cálcio, como o calcário, a temperaturas extremas, criando cimento e liberando quantidades substanciais de dióxido de carbono.
A produção de cada tonelada de cimento resulta em aproximadamente 600 quilos de poluição de carbono. As instalações de cimento convencionais operam geralmente em grandes fornos rotativos, equipamentos longos e horizontais pelos quais calor e materiais brutos fluem. Contudo, este modelo é ineficiente, com apenas cerca de 30% do calor sendo efetivamente utilizado no processo de calcinação; o restante é desperdiçado. Por outro lado, Furno propõe um design revolucionário ao transformar o forno, elevando-o e reduzindo seu tamanho, o que permite que uma quantidade considerável do calor gerado seja integrada à reação de calcinação. Essa mudança promete reduzir a poluição resultante da utilização de combustíveis fósseis em pelo menos 70% e eliminar completamente tais emissões quando o forno é operado por hidrogênio.
A startup Furno já havia levantado anteriormente 6,5 milhões de dólares em uma rodada de investimentos. O subsídio federal de agora cobrirá uma parte significativa dos custos do projeto. Para financiar o restante e outras despesas, Furno planeja iniciar uma rodada de investimento Series A no início de 2025, conforme revelou Kiersten Jakobsen, a responsável pela área de marketing da empresa. O acordo firmado com a Ozinga, batizado de Projeto Oz — uma referência ao parceiro do projeto e ao país natal de Nagra — é promissor não apenas para os investidores, mas também para a criação de emprego, com a perspectiva de 50 postos de trabalho temporários na construção e 30 permanentes.
O interesse do Departamento de Energia não se limita apenas ao aspecto financeiro do projeto, mas se estende também ao fator humano. Jakobsen comentou que, após o fechamento de usinas de carvão, o subsídio do DOE visa restaurar os empregos que foram perdidos por aqueles trabalhadores. A Furno não é a única startup do setor de cimento a receber apoio do Departamento de Energia. A Terra CO2, com sede em Golden, Colorado, também recebeu um impulso significativo, de 52,6 milhões, para estabelecer uma nova fábrica nos arredores de Salt Lake City, onde produzirá um substituto para o cimento que promete ser muito menos poluente que o cimento Portland convencional.
Em um momento em que a sustentabilidade se torna cada vez mais imprescindível nas indústrias modernas, a Furno e projetos semelhantes se destacam como exemplos de como inovação e responsabilidade ambiental podem caminhar juntas. A nova abordagem de Furno em Chicago representa uma oportunidade não apenas para reduzir a poluição, mas também para promover práticas mais eficientes que podem servir de modelo para o futuro da produção de cimento em outras partes do mundo.