No cenário eleitoral em constante mudança dos Estados Unidos, a recente revelação de manobras de desinformação promovidas por operativos russos direcionadas ao candidato a vice-presidente, Tim Walz, levanta sérios questionamentos sobre a integridade do processo eleitoral. As agências de inteligência dos EUA informaram, em uma coletiva de imprensa realizada na última terça-feira, que o conteúdo falso criado e amplificado pelos russos tem o intuito de prejudicar a imagem do democrata. O material, que se espalhou rapidamente na plataforma de mídia social X, continha manipulações audíveis de conteúdo, o que, segundo especialistas, traz à tona “diversos indicadores de manipulação que são consistentes com as táticas e esforços de influência dos atores russos”, conforme declarou um oficial da Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI).
A análise da mídia questionável foi realizada por analistas que trabalharam durante o fim de semana, utilizando dados de inteligência recentemente adquiridos. O que é preocupante para os campanhistas de Walz é que as postagens com esse conteúdo enganoso conseguiram atrair centenas de milhares de visualizações e foram promovidas por personalidades de direita. Essa ação se assemelha à infame teoria da conspiração conhecida como “Pizzagate”, que era uma tentativa de denegrir a imagem de políticos democratas na corrida de 2016. Tal episódio ilustra os esforços de desinformação orquestrados pela Rússia, que visa influenciar maliciosamente a eleição presidencial de 2024 em favor do ex-presidente Donald Trump, que, segundo a inteligência americana, tem sido considerado como a escolha preferida do Kremlin.
Com apenas duas semanas até o dia da eleição, a discussão sobre a ingerência estrangeira torna-se extremante sensível no cenário político atual. A comunidade de inteligência dos EUA frequentemente evidenciou operações de influência vindas da Rússia e do Irã, que têm por objetivo desacreditar a imagem da vice-presidente Kamala Harris e de Trump, respectivamente, numa tentativa de tornar essas operações menos impactantes ao público americano. De acordo com um porta-voz da campanha Harris-Walz, a cobertura da mídia sobre as alegações russas falsas é uma preocupação constante. “Vladimir Putin quer que Donald Trump vença porque sabe que Trump vai se submeter e dar a ele tudo o que deseja”, afirmou Morgan Finkelstein, em um e-mail enviado à mídia. “Condenamos em termos mais fortes qualquer esforço de atores estrangeiros para interferir nas eleições nos EUA.”
Enquanto isso, agentes iranianos também têm agido de forma nociva, tendo supostamente roubado documentos internos da campanha de Trump e utilizado postagens encobertas em mídias sociais como parte de um esforço multifacetado para minar a candidatura do ex-presidente. Recentemente, um homem paquistanês com laços com o Irã foi acusado pelo Departamento de Justiça dos EUA, por tentar perpetrar assassinatos políticos em solo americano, um caso que levou o governo federal a aumentar a segurança para Trump. Todas essas ações são reflexos das táticas de desinformação que estão sendo cuidadosamente monitoradas pelas agências de inteligência dos EUA, em especial agora, com a proximidade das eleições.
A avaliação de inteligência dos EUA que liga os ataques a Walz à Rússia faz parte de uma análise mais ampla divulgada na última terça-feira sobre o estado das ameaças externas à eleição. Os oficiais de inteligência estão preocupados com a possibilidade de que Rússia e Irã utilizem desinformação para incitar violência nos dias e semanas que se seguem ao dia da eleição e à certificação dos votos. Além disso, é esperado que operativos russos questionem a integridade das eleições presidenciais a depender do resultado, sendo que se Harris vencer, as ações deles provavelmente se tornarão “mais agressivas”, de acordo com o oficial do ODNI. Após o dia da eleição, os oficiais de inteligência dos EUA estarão bem atentos às operações iranianas, uma vez que, em 2020, quando alegações falsas de fraude eleitoral se espalharam, os agentes iranianos criaram um site que ameaçava funcionários eleitorais americanos com alvos sobre fotos de seus rostos.
Este cenário acende um alerta sobre a responsabilidade que a mídia e os cidadãos possuem em distinguir fatos de mentiras em um ambiente político que parece estar se deteriorando devido à desinformação e à manipulação externa. À medida que as eleições se aproximam, a necessidade de um debate saudável e informado se torna ainda mais essencial, não apenas para a integridade das eleições, mas para a saúde da democracia como um todo.