A recente tragédia ocorrida em Sapelo Island, na Geórgia, após o colapso parcial de uma passarela no píer da balsa, mobilizou não apenas as autoridades locais, mas também causou profunda comoção entre familiares das vítimas e sobreviventes do incidente. No último sábado, o que deveria ser um momento de celebração para a comunidade Gullah-Geechee – descendentes de africanos escravizados que viveram em plantações costeiras – rapidamente se transformou em uma cena de desespero e luto.
Na manhã de terça-feira, em uma conferência marcada por suas emoções, o renomado advogado de direitos civis Ben Crump, acompanhado por familiares das vítimas e sobreviventes, expressou sua indignação e tristeza no Mount Sinai Missionary Baptist Church em Jacksonville, Flórida. Ele destacou a gravidade do ocorrido, afirmando que as mortes “foram desnecessárias, injustificáveis e certamente poderiam ter sido evitadas.” De acordo com as declarações de Crump, ele está representando as famílias de três das sete vítimas que, no dia do incidente, se preparavam para retornar ao continente quando a passarela em que estavam desabou repentinamente.
Com informações da Geórgia, autoridades de recursos naturais relataram que, durante o colapso, ao menos 20 pessoas foram lançadas nas águas do Rio Duplin. As imagens que surgiram após o incidente mostram o desespero das pessoas que se mantinham agarradas à passarela, que se encontrava em um ângulo perigoso enquanto tentavam se salvar da correnteza. A busca por respostas se intensifica, com Crump pedindo uma investigação profunda que examine todos os aspectos do caso, desde a operação e manutenção do local até o projeto e os materiais utilizados na construção da passarela.
Vivenciando um momento que jamais imaginou, Yvette Jackson, uma das integrantes de uma viagem familiar ao local, descreveu a experiência como “a coisa mais horrível que já vivi.” Sua tia, Katrena Alexander, emocionada e entre lágrimas, relembrou os gritos e o pânico que tomou conta do local enquanto as pessoas caíam na água. O desespero de Alexander se agravou ao perceber que sua filha, Regina Brinson, também havia sido uma das vítimas que caiu. Embora Regina tenha conseguido sobreviver, a experiência a marcou profundamente, assim como a sua tentativa de resgatar uma mulher idosa que estava em sua companhia no momento do colapso.
Ao relatar o que aconteceu, Brinson revelou que, enquanto tentava ajudar a senhora de 93 anos, ouviu um estrondo seguido por um grito de desespero. “Eu ouvi um barulho, então olhei e tudo que me lembro é de soltar o andador e de ver a Miss Carlotta caindo direto na água,” comentou. Em meio ao caos, Brinson e outros se viram lutando contra a correnteza que os afastava do local, um verdadeiro pesadelo que poderia ter sido evitado.
As consequências do incidente não param apenas nas vidas perdidas e prejudicadas. Crump enfatizou a necessidade de assistência psicológica para os sobreviventes, que enfrentam o trauma das experiências vividas. Em um momento intenso, explicou que ninguém compreende totalmente o que é estar submerso na água, lutando por sobrevivência enquanto a ajuda se aproxima. Pearl Davis, outra sobrevivente, ecoou a angústia dos afetados ao afirmar que voltar a sua rotina e conviver com a ausência das pessoas que estavam com elas na tragédia é uma luta constante.
Com o clamor por justiça e a demanda por mudanças significativas nas práticas de segurança em locais públicos, a tragédia em Sapelo Island acende um alerta sobre a responsabilidade das autoridades e das empresas envolvidas. O desejo de respostas é mais do que um pedido, é um clamor por segurança e dignidade para aqueles que desejam celebrar sua cultura e ancestralidade.
À medida que a comunidade se junta para apoiar os afetados e exigir responsabilização, espera-se que o luto se transforme em ação, garantindo que um evento semelhante nunca mais aconteça. O legado dos “Sapelo Seven”, como foram chamados os falecidos, se torna um lembrete amargo de que a prevenção é sempre melhor do que o remédio, especialmente em momentos que deveriam ser de alegria e união.