A figura de Geena Davis, uma reconhecida atriz, apresenta-se como um marco na narrativa política e cultural dos Estados Unidos, especialmente em tempos em que o país se prepara para potencialmente eleger sua primeira mulher na presidência. Remetendo à trama da série “Commander in Chief”, que fez sucesso em 2005, onde Davis interpretou a primeira vice-presidente feminina fictícia da história americana, a relevância de seu papel na tela ecoa ainda mais no contexto da atual corrida presidencial de 2024, quando Kamala Harris se destaca como a nomeada do Partido Democrata. O enredo original da série pode ser lido como um preságio do que se desenrola atualmente na política verdadeira, onde uma mulher ambiciona o cargo mais alto do país.
A trama de Commander in Chief envolvia questões que mais tarde se tornariam relevantes na realidade, apresentando uma vice-presidente que, diante da deterioração da saúde do presidente, assume o controle, tal como a atual vice-presidente Kamala Harris, que é vista como uma forte candidata à presidência numa corrida marcada por tensões e desafios. Se na série Ted Bridges, o presidente fictício, era republicano e a vice-presidente Mackenzie Allen, interpretada por Geena Davis, era independente, as atuais dinâmicas políticas demonstram o potencial de mudança que um novo tipo de liderança feminina pode trazer, refletindo os anseios de uma nação em busca de novas perspectivas.
O sucesso inicial da série foi ofuscado pela sua breve duração, cancelada após apenas uma temporada, o que levanta questionamentos sobre a aceitação da figura feminina na liderança, mesmo como uma representação fictícia. Apesar da crítica positiva, a série não conseguiu sustentar sua audiência ao longo do tempo, levando muitos a questionar se os Estados Unidos estavam prontos para explorar a ideia de uma mulher assumindo as rédeas do governo. Em comentários sobre o legado da produção, Rod Lurie, criador da série, expressou convicção de que “sem dúvida” eles ajudaram a preparar o país para a ideia de um primeiro presidente mulher. Lurie destacou a importância do esforço conjunto para criar um manto cultural que acalentasse a familiaridade e a aceitação da expressão “Madam President”.
Geena Davis, por sua vez, compartilha a esperança de que suas representações na tela contribuam para a normalização dessa ideia, ressaltando que, para muitos, a visão de uma mulher ocupando um posto tão elevado pode ser revolucionária. A escassez de representações femininas com cargos políticos relevantes nas telas antes de “Commander in Chief” torna o projeto altamente significativo. Antes de sua estreia, as aparições de mulheres em papéis de liderança política foram esporádicas, com a exceção da comédia “Kisses for My President” de 1964, onde Polly Bergen estrelou como a presidente, e a personagem interpretada por Glenn Close na película “Air Force One”. O impacto cultural de “Commander in Chief”, portanto, não deve ser subestimado dentro da narrativa da aceitação social e política das mulheres no poder.
Na confluência entre cultura pop e mudanças sociais, a série se coloca como um ponto de virada, estimulando discussões sobre a viabilidade de candidatas femininas. Estudos posteriores, como uma pesquisa feita um ano depois da estreia da série, revelaram que 58% dos americanos que assistiram à produção se sentiam mais propensos a aceitar a ideia de uma mulher como candidata à presidência. Isso evidencia que a ficção pode servir como um reflexo eficaz das mudanças culturais e sociais que ocorrem na sociedade, evidenciando a relevância de narrativas que promovem a equidade de gênero.
À medida que nos aproximamos da eleição de 2024, onde a presença de Kamala Harris na corrida presidencial ressoa fortemente com o espírito de inovação política que “Commander in Chief” procurou capturar, é essencial considerar o papel das narrativas na formação das percepções sociais. A cultura pop não apenas contribui para normalizar a liderança feminina, mas também oferece um espaço para rever a maneira como debatemos e discutimos a política em um mundo que busca cada vez mais a representatividade e a diversidade. O reconhecimento de que problemas significativos ainda persistem, mesmo com os avanços já conquistados, é fundamental para a construção de um futuro onde a liderança feminina seja uma norma, e não uma exceção.
Por fim, o que a série e sua recepção nos dizem sobre o futuro? Mesmo que a representação feminina na política tenha evoluído e hoje haja um maior número de mulheres no Congresso e na política em geral, há uma clara necessidade de continuar desafiando o status quo. Com cada história contada, seja na tela ou na vida real, ataques, dúvidas e críticas enfrentadas por mulheres líderes se tornam mais evidentes e precisam ser confrontados. Para Geena Davis e todos que lutam pela equidade de gênero, a esperança é que a próxima eleição não seja apenas mais um passo na direção de uma maior representação, mas um verdadeiro ponto de inflexão que conduza ao reconhecimento de que mulheres podem e devem ser vistas e tratadas como líderes às quais o país pode se submeter. Os desafios permanecerão, mas a contribuição de figuras como Davis certamente prepara melhor o terreno para o futuro que esperamos conquistar juntos.