Malala Yousafzai, uma figura emblemática na luta por direitos humanos e educação para meninas, continua a moldar o mundo para melhor por meio de sua incursão no cinema, onde utiliza a narrativa como uma poderosa ferramenta para conscientizar e inspirar. Desde que se tornou um ícone global aos 12 anos, após sobreviver a um ataque do Talibã, Malala se destacou não apenas como uma ativista, mas também como uma produtora de filmes. Recentemente, no Festival de Cinema de Toronto de 2024, sua produtora Extracurricular apresentou o documentário “The Last of the Sea Women”, que será exibido na Apple TV+ a partir de 11 de outubro. Este projeto destaca a tradição de mergulho das haenyeo, as mergulhadoras femininas da ilha de Jeju, na Coreia do Sul, cuja prática centenária enfrenta ameaças devido às mudanças climáticas e à pressão econômica.
Com uma trajetória impressionante que inclui um documentário aclamado em 2015 e uma indicação ao Oscar com “Stranger at the Gate”, Malala tem se dedicado a projetações que não apenas entretem, mas também educam e sensibilizam o público sobre questões críticas. A sua mais recente conversa no TIFF Industry Conference, mediada pelo jornalista Scott Feinberg, focalizou o impacto transformador da narrativa, que, segundo Malala, pode alterar perspectivas de maneira incomparável a outros meios. Utilizando sua posição para dar voz a histórias que muitas vezes ficam à margem, Yousafzai acredita que o cinema pode conectar pessoas e promover mudanças significativas na sociedade.
Ao falar sobre sua produtora Extracurricular, nome que reflete seu compromisso com a educação, Malala compartilhou sua abordagem prática para entrar na indústria cinematográfica. Ela se destacou como produtora executiva do filme “Joyland”, dirigido por Saim Sadiq, que foi um marco ao ser o primeiro longa-metragem paquistanês a ser pré-selecionado ao Oscar. O filme aborda temas complexos, como a identidade de gênero, num país onde questões de diversidade são frequentemente silenciadas. Esta contribuição ao cinema é uma extensão natural de seu ativismo, demonstrando que Malala não apenas levanta vozes, mas também as amplifica através de plataformas visuais.
Malala expressa a necessidade urgente de uma representação mais diversificada na indústria cinematográfica, enfatizando que é essencial que mais mulheres e pessoas de cor ocupem espaços criativos no cinema. Sua experiência em “Stranger at the Gate”, um documentário poderoso sobre um ataque a uma comunidade muçulmana nos Estados Unidos, destacou a importância de contar histórias humanas que provoquem empatia e compreensão. Durante sua experiência no Oscar, ela percebeu o valor da narrativa cinematográfica na promoção de mudanças sociais.
Com sua colaboração com a Apple, Yousafzai encontrou um parceiro que compartilha seus valores em termos de conteúdo significativo e diversidade de vozes. A colaboração visa não apenas explorar narrativas importantes, mas também entreter e proporcionar momentos de alegria. “Estou em um lugar onde posso trabalhar com diretoras incríveis e contadoras de histórias, e colaborar com pessoas que oferecem perspectivas frequentemente não vistas nas telas”, disse Malala, ressaltando o papel crucial das mulheres na indústria do entretenimento.
O documentário “The Last of the Sea Women” é um exemplo brilhante dessa visão. Malala ficou impressionada ao descobrir a história das haenyeo, mulheres que sustentam suas famílias através do mergulho em águas profundas, em uma das raras sociedades matriarcais do mundo. Além disso, a produção traz à luz questões como as mudanças climáticas que ameaçam não apenas o modo de vida das haenyeo, mas também a conservação do ambiente marinho. “Essas mulheres possuem uma relação única com o oceano, e o documentário explora como suas vidas estão mudando devido a fatores externos”, compartilhou ela.
Além deste projeto, Yousafzai discutiu seu envolvimento com “Bread & Roses”, um documentário que lança luz sobre o impacto da queda de Cabul sobre os direitos das mulheres no Afeganistão. A produção apresenta a vida de três mulheres afegãs e sua luta sob o regime do Talibã, utilizando a tecnologia moderna, como celulares, para registrar suas experiências. “É alarmante que o Afeganistão seja o único país do mundo que proíbe meninas de completar a educação além da sexta série”, refletiu Malala, reiterando a urgência de lutar pelos direitos das mulheres em todo o mundo.
Quando questionada sobre a política dos direitos das mulheres nos Estados Unidos, Yousafzai foi direta ao afirmar que a escolha é clara. “Basta ouvir ambos os lados e você encontrará a resposta. Um está tentando retirar direitos, enquanto o outro está se comprometendo a protegê-los”, defendeu, em clara referência ao papel da política na defesa dos direitos femininos. A trajetória de Malala em direção a uma produção cinematográfica reflete seu compromisso contínuo em empoderar meninas e mulheres globalmente, utilizando sua voz e plataforma para inspirar e instigar mudanças.
Em síntese, Malala Yousafzai não está apenas escrevendo sua própria narrativa, mas também ajudando a narrar as histórias de muitas outras, ampliando suas vozes e experiências. Seu trabalho no cinema, aliado a sua visão activista, é um testemunho do poder da narrativa na luta por direitos humanos e igualdade. À medida que continua sua jornada, Malala demonstra que a luta pela justiça social pode e deve ser celebrada e difundida através das mais diversas formas de arte.