A fascinante história oculta sob a superfície verdejante da região montanhosa da Uzbequistão acaba de emergir, revelando duas cidades esquecidas que por séculos permaneceram inexploradas. Situadas a aproximadamente 5 quilômetros de distância uma da outra, essas cidades estão enterradas em pastagens gramadas e representam um dos elos perdidos da antiga Rota da Seda, que foi um vital corredor comercial no passado. Recentemente, arqueólogos utilizaram tecnologia avançada de mapeamento com drones e equipamentos de LiDAR, que utiliza pulsos de luz para detectar estruturas encobertas pela vegetação, para revelar a existência de grandes assentamentos urbanos, dotados de torres de vigilância, fortalezas e complexos habitacionais que, acredita-se, abrigavam dezenas de milhares de pessoas.
Mapeamento Inédito e Descobertas Arqueológicas Notáveis
Os primeiros resultados dessa pesquisa, publicada na renomada revista Nature, foram liderados pelo antropólogo Michael Frachetti. Ele expressou sua surpresa ao descrever os achados de duas cidades medievais localizadas a mais de 2.000 metros acima do nível do mar. A vida nessas regiões estava longe de ser fácil, especialmente durante os meses de inverno. Frachetti comenta: “Esta é a terra dos nômades, uma periferia para a maioria das pessoas.” De acordo com o estudo, apenas 3% da população mundial reside em altitudes tão elevadas, exemplificando a singularidade desses assentamentos antigos, como Machu Picchu no Peru.
A pesquisa incluiu escavações preliminares realizadas em 2022, onde foram encontrados artefatos como cerâmicas da época medieval. Os pesquisadores agora buscam desvendar a natureza exata das civilizações que estabeleceram essas cidades enigmáticas. Embora as montanhas da Ásia Central tenham sido habitadas por grupos nômades ao longo da história, Frachetti e sua equipe acreditam que essas descobertas representam cidades muito maiores do que simples postos comerciais da Rota da Seda, provavelmente formadas para explorar as ricas minas de ferro da região, uma commodity valiosa na antiguidade.
Desvendando o Passado e o Contexto Cultural
Em um contexto de vida difícil e pouco apropriado para a agricultura, Frachetti destaca que a região era densa em florestas de zimbro, o que poderia ter proporcionado combustível para a metalurgia. Ele acredita que a economia local dos povos era baseada na criação de rebanhos, mantendo um estilo de vida pastoral. O ambiente montanhoso, além de seus desafios, também oferecia vantagens defensivas, tornando essas cidades pontos estratégicos. Juntamente com seu colega uzbeque Farhod Maksudov, Frachetti se deparou pela primeira vez com uma das cidades em uma pesquisa em 2011, levantando questões sobre a pré-história dessas montanhas em relação ao desenvolvimento do pastoreio nômade.
O uso da tecnologia LiDAR neste projeto é um marco, proporcionando uma visão clara do que poderia ser o legado medieval dessa região. Após várias expedições aéreas, a equipe mapeou as duas cidades em 2022, revelando detalhes impressionantes. A técnica de mapeamento precisou superar os desafios da geografia montanhosa e das condições climáticas adversas. Segundo especialistas, essa tecnologia revolucionou os estudos arqueológicos, possibilitando a descoberta de locais históricos de difícil acesso.
Desafios e Oportunidades dos Assentamentos em Altitude
A história das cidades de Tashbulak e Tugunbulak na Uzbequistão redefine nosso entendimento sobre a vida urbana em altitudes elevadas durante a época medieval. Tashbulak, com uma área de aproximadamente 0,15 quilômetros quadrados e uma cidadela imponente, representa um achado considerável, enquanto Tugunbulak ocupa cerca de 1,2 quilômetros quadrados com mais de 300 estruturas. As evidências sugerem que Tashbulak foi habitada entre os séculos VI e XI, e Tugunbulak foi ocupada de forma semelhante durante os séculos VIII e XI. No entanto, as razões para seu abandono permanecem envoltas em mistério. “Essas histórias se esclarecerão à medida que aprofundarmos as escavações”, diz Frachetti, que sugere que não há indícios de incêndios ou ataques às cidades.
A Implicação de Novas Descobertas na História Humana
À medida que a equipe arqueológica avança em suas investigações, o propósito das cidades e os modos de vida de seus habitantes continuam a ser explorados. O estudo de Tashbulak e Tugunbulak introduz maneiras inovadoras de repensar a locação e a estrutura das cidades antigas. Como enfatizado por especialistas, tais altares urbanos são extremamente raros no registro arqueológico, exigindo uma consideração cuidadosa dos desafios e das exigências tecnológicas necessárias para a formação de comunidades nessas condições. O que foi considerado um local periférico da civilização está se revelando como um importante ponto de confluência cultural e econômica na era da Rota da Seda, desafiando percepções anteriores e elevando a percepção sobre os antigos povos nômades que dominaram essa área.
Assim, o novo mapeamento dessas cidades perdidas não apenas traz à luz um capítulo esquecido da história, mas também oferece uma nova perspectiva sobre as complexidades sociais, culturais e econômicas que caracterizavam a vida nas montanhas da Uzbequistão durante a Idade Média.