No mais recente episódio do programa, “The Daily Show”, Jon Stewart levantou questões cruciais sobre a maneira como a mídia está cobrindo as recentes surtidas de Donald Trump durante a campanha de 2024. Enquanto várias plataformas de notícias se divertiam com os comentários e ações excêntricas do ex-presidente, como sua interação cômica em um McDonald’s e suas declarações provocativas sobre o golfista Arnold Palmer, Stewart expressou sua preocupação com o que considera uma falha crítica da mídia: a negligência da retórica alarmante e potencialmente perigosa emitida por Trump. A abordagem do comediante alude a um quadro maior, onde a normalização de tais comportamentos não apenas diminui a seriedade dos assuntos políticos, mas também pode ter consequências diretas e negativas para a democracia.
Jon Stewart, ao discutir os “momentos de febre” da campanha de Trump, utilizou um tom irônico para destacar a superficialidade da cobertura da mídia. Ele afirmou que, enquanto Trump estava “se divertindo”, os repórteres pareciam confusos sobre qual aspecto de sua campanha deveriam condenar mais. “A pobre, doce mídia — oh, pobre, doce mídia — eles sabem que estão irritados, mas não têm certeza de qual ponto deveriam estar mais irritados. Mas eu posso te dizer uma coisa, mídia, não deveria ser a história do McDonald’s”, declarou Stewart, referindo-se à distração causada por essas ações absurdas nas redes sociais.
Mas o comediante não parou por aí. Ele fez questão de chamar a atenção para declarações mais impactantes de Trump, como quando ele se referiu ao conceito de “inimigo interno”, classificando esse “inimigo” como uma ameaça maior do que qualquer adversário externo. “Temos dois inimigos. Temos o inimigo de fora, e depois temos o inimigo de dentro”, enfatizou Trump em uma entrevista recente. Para contextualizar suas afirmações, Stewart exibiu um clipe de Trump especificamente citando líderes democratas como o deputado Adam Schiff e a ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, chamando-os de “lunáticos da esquerda radical”. Essa linha de ataque ameaça não apenas a responsabilidade política, mas também abre as portas para uma retórica de violência.
A reação dos líderes republicanos às declarações de Trump também gerou a frustração de Stewart. Ele mostrou um clipe onde o governador de New Hampshire, Chris Sununu, minimizava as palavras de Trump em uma aparição na CNN, dizendo que Trump não estava sugerindo usos militares contra aqueles com quem discorda. Essa afirmação levou o comediante a expressar sua incredulidade, exclamando: “Ele está literalmente dizendo isso! O que você está falando?” Tal desdém para com o contexto e a seriedade das palavras de Trump trouxe à luz uma questão mais ampla que Stewards levantou: até que ponto a retórica de Trump pode ser considerada apenas uma performance de palhaço, em vez de um sinal de ameaça real?
Como Stewart destacou, essa normalização da retórica de Trump e o riso que muitas vezes a acompanha poderiam estar obscurecendo o que deveria ser uma análise mais profunda de seu conteúdo. Ele insistiu que não podemos ignorar as implicações de tais declarações, especialmente considerando eventos passados, como a tentativa de insurreição em 6 de janeiro de 2021, onde ações infratoras foram tentadas em decorrência das palavras de Trump. “Lembrem-se daquele dia em que ele tentou derrubar o governo? E eu sei que não funcionou, mas ‘tentativa de assassinato’ não é a mesma coisa que ‘nunca tentou assassinato’”, disse ele, retratando a necessidade de reconhecer a gravidade da situação.
Stwart destacou a conexão entre as palavras e ações de Trump, exortando o público a refletir sobre o que é real e o que é apenas anedótico na retórica do ex-presidente. Ele questionou, “Afinal, o que é a verdade no que Trump diz?”, e a comparação com a rival política Kamala Harris, que precisa fornecer uma apresentação minuciosa sobre suas políticas, em contraste com a liberdade mostrada por Trump em fazer afirmações desmedidas. Essa diferença entre os padrões de responsabilidade, promessas vãs e retóricas maliciosas levanta questões sobre a credibilidade da liderança política e os efeitos que palavras não apropriadas podem exercer sobre o eleitorado.
A discussão se expandiu ainda mais quando o apresentador de “Jimmy Kimmel Live”, Jimmy Kimmel, expressou preocupações semelhantes sobre a natureza ilusória de boa parte da cobertura da mídia, ressaltando que muitos espectadores tomam como verdade tudo o que é dito nas telas, sem questionar a veracidade das informações. Ele enfatizou a responsabilidade da mídia em não apenas informar, mas educar o público sobre a real situação política. Aqui, a retórica das figuras políticas, como as afirmações bizarras de Trump sobre a imigração e seus efeitos, foi vista como um alerta para uma narrativa que pode facilmente ser distorcida e manipulada para propósitos obscuros.
Concluindo sua crítica, Stewart deixou o público com a reflexão sobre como a falta de uma análise crítica do que está sendo dito pode levar a um estado de confusão e desinteresse. Ele propôs uma visão onde a absurdidade da situação atual não deve ser um sinal de que tudo está bem, mas um convite para vigilância ativa. A política não deve ser um circo, e as consequências de tal retórica não são apenas histórico, mas uma questão premente para todos que se importam com o futuro da democracia.