No contexto desafiador da indústria cinematográfica contemporânea, a 68ª edição do BFI London Film Festival serviu como palco para uma profunda discussão sobre as dinâmicas do setor, especialmente no que diz respeito à propriedade intelectual (IP) e sua relevância nesse cenário. O painel intitulado “Good Stories: Originals, Adaptations and Remakes” contou com a participação de especialistas do ramo, incluindo Alex Walton, co-chefe da WME Independent, Kevin Loader, produtor e cofundador da Free Range Film, Tolu Stedford, CEO da Story Compound, e Meg Thomson, vice-presidente executiva de conteúdo global da Globalgate Entertainment. A moderação foi conduzida por Rowan Woods, diretor criativo do Edinburgh TV Festival, que orientou a conversa sobre as atuais dificuldades enfrentadas por cineastas e produtores.
A discussão começou com Walton ressaltando que a atual era apresenta consideráveis desafios para o setor. Ele declarou: “Estamos em um momento em que o negócio está realmente muito difícil”. Nesse sentido, Walton pontuou que a propriedade intelectual oferece uma proteção inigualável, especialmente diante de um mercado cada vez mais cauteloso. A equipe da WME Independent cria anualmente entre 16 e 18 filmes independentes, a maioria dos quais são histórias originais. Segundo Walton, a capacidade de contar histórias com base em IP “proporciona um pouco de proteção” que é essencial nas condições atuais de mercado.
Loader complementou a análise ao afirmar que a presença de uma marca estabelecida, seja um livro, uma peça de teatro ou um podcast, pode tranquilizar os investidores e os executivos de estúdios que estão frequentemente preocupados com a possibilidade de fracasso. Ele explicou que projetos que têm um histórico de sucesso geralmente encontram facilidade para garantir financiamento, pois “acalma os nervos de financiadores ansiosos”. Loader também ressaltou que a importância do IP varia ao longo do processo de financiamento. Atenção especial deve ser dada aos momentos iniciais e finais, enquanto a fase intermediária pode depender mais da qualidade do talento envolvido no projeto.
Por sua vez, Stedford enfatizou a relevância da propriedade intelectual em projetos que envolvem diversidade e inclusão. Ela expressou a necessidade urgente de suporte financeiro para contar histórias diversas, reconhecendo que, historicamente, tais narrativas já eram consideradas arriscadas e difíceis de financiar. A inclusão de IP no desenvolvimento de projetos voltados para essa temática se revela ainda mais crucial no clima de incertezas atuais. Para Stedford, demonstrar um entendimento claro do público-alvo é imprescindível para a viabilidade de tais projetos.
Thomson trouxe uma perspectiva interessante sobre remakes de obras reconhecidas, explicando que esses projetos frequentemente adotam planos de marketing de filmes originais, o que ajuda na construção de uma comunicação coerente com o público. Ela mencionou que sua empresa, a Globalgate, não se limita a oportunidades na indústria de Hollywood, mas também investe em adaptações de histórias de pequenos territórios, promovendo uma troca cultural rica. Essa abordagem permite que novas histórias e cineastas se integrem ao mercado global, mantendo a autenticidade cultural e o apelo local.
Com a crescente competição no setor de streaming e a necessidade de capturar a atenção do público, a interação com talentos reconhecidos e com forte apelo pode facilitar o acesso a propriedades intelectuais. Segundo Walton, colaborações entre produtores e talentos na apresentação das propostas para detentores de direitos formam uma adição considerável ao processo criativo. Em sua avaliação, a presença de um ator ou cineasta associado a um projeto torna a abordagem mais atrativa e aumenta as chances de sucesso na captação de recursos.
Por fim, a discussão apresentou a provocante ideia de que até mesmo diretores e criativos podem ser considerados formas de propriedade intelectual. Walton observou que, ao trabalhar com um diretor renomado como Pablo Larraín, sua experiência e estilo singular conferem valor adicional ao projeto. Conectar histórias a figuras públicas de grande notoriedade aumenta as possibilidades de aceitação e financiamento, uma vez que tais narrativas tendem a ressoar mais com o público. Essa interconexão entre propriedade intelectual e criatividade é um tema central que retrata as complexidades e nuances da indústria cinematográfica moderna, onde a inovação e as histórias envolventes se entrelaçam com a proteção legal e o reconhecimento de público.